Barbara Gancia ficou boa demais para o jornalismo nacional

A demissão de Barbara Gancia da Band News FM foi um dos assuntos mais comentados hoje nas redes sociais.

É que Barbara, falante como é, disse que foi demitida por razões políticas. A Band desmentiu. Afirmou que foi por motivos econômicos: corte de custos.

Não é exatamente uma mentira da Band, mas é quase isso.

Evidentemente a posição política de Barbara Gancia é indigesta para o conservadorismo da Band.

Digamos assim: ela foi demitida 4/5 por ser progressista e 1/5 porque a Band enfrenta uma crise provavelmente terminal por conta da ascensão da internet.

Jornalistas como Barbara são exatamente o que as grandes empresas de jornalismonão querem. Já faz anos que o requisito principal para você fazer carreira na Globo, Abril, Folha, Band etc é bater, bater e bater em Lula, em Dilma e no PT.

Repare nos jornalistas que estão nas colunas de jornal, nas rádios, nas tevês e mesmo nos sites das grandes corporações de mídia. Todos têm o mesmo perfil patronal.

O diretor de novas mídias da Globo, Erick Bretas, é um caso típico. Ele não se envergonhou em colocar um avatar de Sérgio Moro em seu Facebook. Seria impensável num ambiente jornalismo normal.

A virada no perfil dos jornalistas corporativos começou com a vitória de Lula em 2002.

A Veja tomou a dianteira. Colocou em posições de destaque dois jornalistas até ali inexpressivos, um na revista impressa e outro no site, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi.

Pouco a pouco, este tipo de jornalista foi se multiplicando pelas redações ao mesmo tempo em que profissionais de esquerda ou progressistas foram sumindo.

Os patrões aparelharam as redações com gente que, essencialmente, reproduzem as suas opiniões. Não vou enumerá-los aqui porque a lista seria infindável.

Carreiras floresceram no antipetismo intransigente, e carreiras mortas ressuscitaram. Para ficar num caso, Augusto Nunes jazia em algum canto quando a Veja o contratou para massacrar o PT.

Barbara Gancia foi um caso raro de alguém que em vez de aderir à louca cavalgada contra o PT permaneceu independente.

Ela pareceu, em algum momento, ter ficado incomodada com a perseguição ao PT mesmo sem jamais ter sido petista.

Isto provavelmente foi determinante para que a Folha suprimisse sua coluna, uma das de maior sucesso do jornal.

A Folha já se tornara mais interessada em Kim Kataguiri do que em pessoas como Barbara Gancia.

O mesmo quadro se repete agora na Band.

Não foi Barbara que envelheceu ou piorou. Na verdade ela melhorou. Amadureceu politicamente. Como que despertou para a verdade doída de que os donos da imprensa têm enorme responsabilidade na construção e manutenção de um país tão desigual e injusto como este que temos.

O que ficou ruim – horrível, esta é a palavra – é o ambiente jornalístico.

Jornalistas como Barbara acabarão retomando a vida profissional na internet – que avança na mesma medida em que as mídias tradicionais regridem.

As corporações não vão deixar saudades – a começar pela Band que demitiu Barbara.

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