TV Globo, Faixa de Gaza e você, tudo a ver
por Armando Rodrigues Coelho Neto
Qual o papel de uma pessoa que todo dia, o dia todo, visita um doente só para lhe dizer: o senhor está pior (?). Comparando o senhor em relação ao dia de ontem, o senhor está péssimo; e, quando o comparamos sua situação clínica da semana com a das três anteriores, o único alento que posso lhe dar é que o senhor está mesmo morrendo. Quem diria! Aquela pessoa robusta, com futuro, definhando assim, acabando como uma vela...
Em seu papel de corvo, o conselheiro não deixa transparecer que quer entregar o doente para um médico de sua confiança, nas mãos de quem possa morrer mais depressa e abocanhar sua herança.
Esse papel de corvo ou de abutre é desempenhado pela Rede Globo de Televisão, para o doente Brasil. Com previsões e diagnósticos catastróficos, suas pragas reverberam por outros raivosos abutres e já contaminou outras mídias, como as redes sociais. Sim, existe um doente a ser tratado e isso a sociedade não pode negar. Mas, para o abutre, o remédio ou discutir o tratamento não importam. Tirar o médico é o bastante.
Obviamente falo do Brasil e do nefasto papel dos meios de comunicação na tentativa de golpe. Quem viu a capa de Veja ou da Istoé percebe naturalmente a conotação odienta que se pretendeu dar. As capas falam por si e há cinismo quando se nega a intenção subliminar. E o que lhes irrita é saber que cada dia mais pessoas estão percebendo a mutreta.
Por questão de saúde mental, não assisto a TV Globo e passo ao largo dos lixos impressos. Sei que onze famílias de duvidosa reputação controlam os meios de comunicação. Que defendem seus próprios interesses e alguns quase nem moram e nem guardam dinheiro no Brasil. Tudo que lemos, assistimos, ouvimos, tem a mesma linha de pensamento. Todas, nesse momento, engajadas na campanha de ódio, que cinicamente tentam negar. Todas defendem o golpe.
Não sei quem é o ator ou atriz tal, exceto os que escreveram com grandeza suas histórias nas artes. Não assisti nenhum BBB ou The Voice, não sei quem matou quem ou ficou com quem no final da novela X ou Y. Também não assisto as “telelatrinas” jornalísticas. Mas, sei que a TV Globo tem alguns fantoches, entre eles um certo Bonner. Sei de outros, afinal, nos bares, padarias, recinto público qualquer, torna-se quase inevitável desconhecer de todo certas coisas.
Pois bem. Eu estava num bar quando ouvi o tal Bonner (o mesmo que não conseguiu conter o riso diante das trapalhadas do Aécio Neves num debate eleitoral com uma Dilma Rousseff), criticando os que reclamam de ódio, como se aquilo que ele faz, com seu papel de corvo, urubu ou ser das trevas qualquer não fosse pregar o ódio. É como se os linxamentos morais, assassinatos mesmo como o de uma mulher no Guarujá, ataques a homossexuais, violências policiais, os black bloc não fizessem parte dessa campanha.
Não posso dizer que a Globo inventou o ódio. Sei que ela o alimenta com muita competência, junto outros veículos. Mas, pelo seu poder de acesso popular, ela é quem mais alimenta e só ela pode desinventar.
Não adianta tentar passar a ideia de que tão logo consumado o golpe, esse clima de guerra, desunião, paixões irracionais vai passar. Não, não vai. Se não houver golpe, os paneleiros e moralistas sem moral vão continuar nas ruas. Caso haja golpe, estou entre aqueles que irão às ruas defender a democracia.
Nós estamos do lado da igualdade de direitos entre mulheres e homens, brasileiros e estrangeiros, como manda a Constituição. Nós é que fomos atacados por defendermos negros, índios, homossexuais, melhor distribuição de renda, por defender médicos de qualquer nacionalidade onde a elite branca não queria ir. A lista do que integra nosso humanismo é a vasta e entre o “pibão” concentrado e pibinho distribuído entre miseráveis nós ficamos com este último.
Nós defendemos uma sociedade sem armas. A TV Globo está do lado dos que querem armá-la. Imaginem uma sociedade armada nesse clima beligerante que ela mesmo ajudou a criar, sedimentar. Nós somos da paz e não demos o primeiro tiro. Com golpe ou sem golpe, nem golpistas nem democratas vão baixar a guarda.
É como na fábula do lobo bom e do lobo mal que cada ser humano traz dentro de si. Quando perguntaram ao mestre qual deles sobreviveria, ele respondeu: aquele que você alimentar. A TV Globo apoiou o candidato que foi capaz encarnar todos os velhos e novos ódios. Hoje seu lema já pode ser: Globo, Faixa de Gaza e você, tudo a ver.
GGN

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