A saga do Japonês da Federal, preso por contrabando, encarna à perfeição o roteiro do impeachment.
Newton Ishii pegou quatro anos e seis meses de prisão em regime semi aberto por causa de crimes na fronteira do Panará com o Paraguai.
Até ontem, era celebrado como herói absoluto do coxinismo revoltado online. Máscaras com sua face foram vendidas no Carnaval e exibidas com orgulho por milhares de seres que o viram em fotos conduzindo presos da Lava Jato.
Ishii encarnou o personagem que lhe deram. Como um impostor — um Frank Abagnale Jr. do filme de Spielberg com Leonardo DiCaprio –, fez o papel que queriam que ele fizesse.
Em fevereiro, numa visita à Câmara, boa parte da cambada que votaria pelo impeachment tirou selfies com ele. Bolsonaro chamou inclusive seu filho, Eduardo, para participar da palhaçada.
Lá, foi convidado a se filiar a partidos e concorrer às eleições municipais. Agradecido, falava que “ia pensar”. Parlamentares petistas eram provocados aos gritos de “Olha o japa! Olha o japa!” Sucesso.
Um deputado estadual paranaense, Ney Leprevost (PSD), recebeu-o para um churrasco em família. Postou fotos no Facebook com a legenda: “Olha quem está nos honrando com sua presença no churrasquinho: o agente Newton Ishii, mais conhecido como JAPONÊS DA FEDERAL. Através deste grande brasileiro, parabenizo a Polícia Federal, a Justiça Federal e a Procuradoria da República pelo combate à corrupção realizado através da Operação Lava Jato”.
Ney Leprevost
Ney Leprevost, família e um convidado muito especial

Na festinha, um grupo de mulheres colocou óculos escuros em sua homenagem e registrou o momento para a posteridade.
Ishii viveu como uma celebridade. Distribuiu autógrafos, deu entrevistas, foi convidado para festas. Um Freddie Mercury prateado da direita.
Os movimentos de extrema direita o santificaram. Kim Kataguiri, do MBL, o amava. Num dos ridículos perfis sobre ele, em que seu currículo na ilegalidade era omitido, filosofou sobre a fama: “Ela tem dois lados. Tem o lado bom, do reconhecimento. O lado das crianças e adolescentes é muito legal”, disse.
“Estamos dando um bom exemplo. Dizem que estão rezando, torcendo para que tudo acabe bem. Isso fortalece o trabalho e nos dá força para continuar. Diminuiu a cultura do país de achar que é melhor levar vantagem em tudo.”
Ishii sabia perfeitamente que estava enganando aquele pessoal. Mas há um aspecto fundamental na palhaçada: eles queriam ser enganados. Eles faziam questão disso.
A ficha suja do japonês estava no Google. Ele fora detido em 2003 na Operação Sucuri. Junto com outros agentes, liberava a passagem de determinados veículos por quantias que variavam entre 30 mil e 40 mil dólares, segundo o portal Paraná-online.
Em 2009, a condenação.
Newton foi um caso de ilusão coletiva? A plateia foi manipulada?
Não. Enquanto deu para atribuir as notícias dos malfeitos de Newton Ishii ao bolivarianismo, ao comunismo e ao boitatá, ele continuou usando e sendo usado.
Quando foi em cana, ficou insustentável. Caído em desgraça, Ishii agora é renegado por todos os oportunistas que se penduraram nele.
Se a vida fosse justa, ele apareceria na jacuzzi dos bolsomitos e perguntaria: “Mas você sabia, pô! Nem pra dar uma ligada?”
Ele vai entregar seus amigos da Paulista na delação premiada? Segundo a Piauí, Newton Ishii agora já pode ser convidado para o ministério do interino.
Uma farsa que outros farsantes fingiram desconhecer. O Japonês da Federal é Michel Temer por outros meios.

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 DCM

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