Os abusos sexuais coletivos se repetem de norte a sul do país, enquanto as vítimas ficam em silêncio
María Martín
Claudia foi violada por 10 adolescentes no final de outubro. Thiago Freitas/ Extra
Muitas pensam que merecem, algumas sentem vergonha e outras temem ser assassinadas. Com algumas exceções mais midiáticas, a sociedade lê horrorizada essas histórias, mas cala assim como a maioria das vítimas. O Brasil registrou 45.460 estupros em 2015, 125 por dia, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e estima-se que apenas 10% das vítimas fizeram denúncia.
Os casos de estupro coletivo se repetiram no último ano num país onde, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, 30% da população concorda que a mulher que usa roupas provocantes não pode se queixar de ser estuprada. No Piauí, foram divulgados três episódios desde maio do ano passado, revelando uma cultura disseminada por todo o país. O mais escandaloso, em que cinco menores de idade e um adulto jogaram quatro jovens num barranco de dez metros de altura depois de as terem estuprado, terminou com a morte de uma das vítimas, de 17 anos.
Brasil é o quinto país mais violento contra a mulher
M.M.O Brasil, que tem uma lei específica para criminalizar o feminicídio e outra para as agressões de gênero, apresenta uma taxa de 4,8 homicídios por 100.000 mulheres, a quinta maior do mundo segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Os números de 2013 (os dados mais recentes que são objeto de estudo) mostram que 4.762 mulheres foram assassinadas. A maioria dos homicídios (50,3%) foi cometida por familiares da vítima e 33% deles pelo parceiro ou ex-parceiro.
Os dados mais recentes sobre o assunto revelam 45.460 casos de estupro em 2015, mostrando uma redução de 10% em relação a 2014, o que não significa, necessariamente, uma diminuição dos abusos, mas pode se dever a um menor número de denúncias. Em números absolutos, São Paulo e Rio de Janeiro lideram as estatísticas, mas são os Estados do interior que apresentam taxas de até 60 estupros por 100.000 habitantes.
A delegada responsável pelo caso, Cristiana Bento, que já investigou três outros estupros em grupo que nunca apareceram nos jornais, destaca que muitas vítimas não são conscientes do abuso. “Há jovens que não percebem que são vítimas desse crime bárbaro. É parte da vida delas. Muitas vezes, nas favelas, o chefe do tráfico de drogas escolhe as meninas que os traficantes usarão para satisfazer seus desejos sexuais e as famílias não podem fazer nada. São eles que impõem as regras de conduta e quem se rebela paga com a própria vida”, explica.
A violência, no entanto, está presente em toda a pirâmide social, assim como o medo de denunciar. “Isso não pode ser associado à pobreza”, argumenta a psicóloga. “Qualquer mulher tem dificuldade em pedir ajuda. Da mesma maneira que uma mulher pobre é refém da miséria, de milicianos ou de traficantes de drogas, a mulher de classe média alta é vítima da moral e dos bons costumes. Todas têm medo de colocar sua vida de cabeça para baixo e se calam”.
El País Brasil

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