08/08/2017- São Paulo- Lula discursa em Franco da Rocha na plenária do PT da Macrorregião da Mantiqueira Foto: Ricardo StuckertDa Redação
Nas redes sociais, a indignação com a possível prisão do ex-presidente Lula cresce a olhos vistos.
Petistas, lulistas ou simpatizantes de Lula denunciam o que enxergam como apatia de lideranças do PT diante das derrotas que começaram lá atrás, com o julgamento do mensalão, passando pelas prisões de José Dirceu e José Genoino, o impeachment de Dilma e, agora, a possibilidade iminente de prisão de Lula.
Há até quem pregue uma limpeza no partido, no estilo das promovidas por Stálin, para se livrar dos “traidores” do ex-presidente.
Maluquice?
Não. A indignação é real, a partir da constatação, a que qualquer pessoa pode chegar, de que a justiça brasileira concede um tratamento diferenciado a petistas.
Ninguém se esquece de que o julgamento do mensalão no STF aconteceu em pleno período eleitoral e de que o caso, quando envolveu tucanos, foi convenientemente desmembrado e julgado por tribunais inferiores, desfazendo assim a possibilidade de que penas maiores — por formação de quadrilha, por exemplo — pudessem ser aplicadas.
Nenhum tucano foi preso pelos mesmíssimos crimes que levaram petistas à cadeia.
Agora, Lula é o único candidato ao Planalto que corre o risco de ser afastado das eleições de 2018 por conta da operação Lava Jato.
Porém, os indignados parecem desconhecer que o PT não é, nunca foi, um partido revolucionário. Nem Lula.
O ex-sindicalista é, eminentemente, um conciliador.
Também parecem desconhecer outro fato: a palavra final no PT é de Lula.
Sob Lula, o PT é um partido dominado eminentemente pelos mandatos e, sendo assim, é apenas natural que tente renová-los periodicamente.
As eleições de 2018, portanto, são o foco de Lula.
Não é por outro motivo que o ex-presidente trabalha em coalizões regionais inclusive com o MDB, partido que derrubou Dilma Rousseff.
A própria Dilma disse, hoje, que é preciso renovar o Congresso, votando não apenas em Lula, mas em deputados e senadores do PT.
Mas, por que não seguir o ímpeto revolucionário dos militantes digitais?
Vamos que Lula acredite, de repente, numa ação que não se enquadre nos parâmetros institucionais.
Onde estão as bases de massa do lulismo, hoje?
As pesquisas demonstram que o apoio eleitoral ao PT e a Lula migrou das metrópoles, se interiorizou e está majoritariamente nas classes D e E.
São eleitores que não estão necessariamente articulados com movimentos sociais.
Em uma brilhante análise sobre o lulismo, o ex-porta-voz da Presidência, André Singer, demonstrou que estes lulistas não querem ver a canoa virar.
É pouco provável que aceitem um comando para quebrar tudo, ou adiram a uma greve geral por tempo indeterminado, correndo o risco de perder o emprego.
Além disso, embora Lula lidere todas as pesquisas eleitorais, o fato é que ele e o PT são rejeitados consistentemente por cerca da metade dos entrevistados.
Portanto, radicalizar sem uma base popular consistente pode ser um risco. Não só de não atingir os objetivos pretendidos, mas de perder apoio e gerar consequências nefastas.
Quais?
Dentre elas, uma intervenção militar “constitucional”.
As opiniões do general Hamilton Mourão podem não ser, ainda, majoritárias nas Forças Armadas. Ainda.
Mas, é sempre bom lembrar o que ele disse, numa de suas intervenções públicas: “Se o caos for ser instalado no país… e o que a gente chama de caos? Não houver mais um ordenamento correto, as forças institucionais não se entenderem, terá que haver um elemento moderador e pacificador nesse momento”.
E mais: “Mantendo a estabilidade do país e não mergulhando o país na anarquia. Agindo dentro da legalidade, ou seja, dentro dos preceitos constitucionais, e usando a legitimidade que nos é dada pela população brasileira”.
O apoio à intervenção militar na segurança pública do Rio é majoritário, é sempre bom lembrar.
Ações violentas e generalizadas em defesa da liberdade de Lula ou do direito dele concorrer ao Planalto podem ser o pretexto que falta aos militares.
Outra possibilidade no caminho da radicalização seria o PT simplesmente desistir das eleições, caso Lula não seja candidato.
Uma espécie de suicídio eleitoral, para deslegitimar um futuro presidente.
Mas a manobra teria efeito duvidoso, já que existem outros candidatos do mesmo campo político em pré-campanha: Ciro Gomes (PDT), Manuela D’Avila (PCdoB) e Guilherme Boulos (Psol).
Sem um candidato a presidente, ficaria mais improvável a reeleição do governador Rui Costa, na Bahia, por exemplo; ou dos deputados federais e estaduais do partido.
Portanto, o PT desistir de concorrer ao Planalto parece muito improvável.
Não se sabe ainda o que o partido planeja fazer quando Lula for preso.
É provável que tentará direcionar a frustração e a revolta de seus militantes e eleitores numa resposta que desemboque… nas urnas.
“Lula livre”, diziam as enormes faixas penduradas no local do evento em que o ex-presidente lançou sua pré-candidatura em Belo Horizonte.
É um bom mote eleitoral.
Parece certo que o PT esgotará todo o seu arsenal para registrar a candidatura de Lula ao Planalto, permitindo que ele concorra sub judice e tenha sua foto nas urnas eletrônicas.
Uma eventual desistência em favor de novo candidato, com a foto de Lula nas urnas, facilitaria imensamente a tarefa de transferir os votos.
Pelas alianças que vem montando nos bastidores, até agora, Lula parece contar com uma votação maciça no Nordeste para impulsionar um candidato petista ao segundo turno, garantindo assim a renovação das bancadas do partido no Congresso.
A perseguição ao ex-presidente, cristalizada pelas imagens dele preso, pode acabar contribuindo com isso.
Pelo exposto, mesmo que não assumindo este discurso formalmente, está claro que o PT ainda está focado acima de tudo em sua sobrevivência eleitoral, com ou sem Lula candidato em 2018.
Viomundo