Em Berlim, no primeiro dia de um giro europeu destinado a amolecer o escudo de proteção ao acordo nuclear iraniano, o chefe do governo de Israel, Benjamin Netanyahu, insistiu nesta segunda-feira (4) em abordar um assunto politicamente sensível para a Angela Merkel: um possível aumento do fluxo de migrantes sírios no país, devido à uma suposta influência do Irã no Oriente Médio.
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e a chanceler alemã, Angela Merkel, após coletiva de imprensa em Berlim, Alemanha, em 4 de junho de 2018.
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Netanyahu acusou Teerã de organizar o desdobramento maciço na Síria de milícias xiitas, inclusive do Afeganistão e do Paquistão, sob o comando militar iraniano, com um "propósito militar, mas também religioso".
O objetivo do Irã é "travar uma guerra religiosa na Síria, principalmente os sunitas", disse o premiê israelense. "Isso pode provocar uma nova guerra religiosa - desta vez uma guerra religiosa contra dentro da Síria - e a consequência será muito mais refugiados e você sabe exatamente para onde eles irão”, acusou Netanyahu, insinuando que os futuros migrantes sírios se instalariam no país europeu. “Isso deve ser uma fonte de preocupação para a Alemanha", acrescentou.
A Alemanha recebeu no verão de 2015 mais de um milhão de migrantes que fugiram da guerra civil na Síria. Isso foi possível graças a uma decisão tomada pela chanceler alemã, que arrebatou muitas críticas em seu próprio país e que contribuiu para a ascensão da extrema direita alemã.
Merkel não abre a guarda em relação a acordo nuclear com Irã
A chanceler reconheceu que a influência do Irã na Síria, no Iêmen ou no Líbano era "preocupante" e que as "atividades regionais" de Teerã deveriam ser "severamente restringidas". Mas, ao mesmo tempo, prometeu manter vivo o acordo nuclear com o Irã, apesar da recente retirada dos Estados Unidos e da feroz oposição do Estado hebreu ao texto.
"Não temos todas ainda as informações sobre o caso", disse Merkel diplomaticamente a Netanyahu. O premiê reiterou que o Irã e suas ambições nucleares e regionais no Oriente Médio são "o maior desafio do mundo civilizado". "É importante evitar que o Irã adquira armas nucleares e não permitiremos que isso aconteça", alertou o líder israelense.
"Israel é um tumor cancerígeno"
Netanyahu também ficou indignado com um tuíte publicado no domingo (3) pelo líder supremo iraniano, Ali Khamenei, no qual ele reitera que "Israel é um tumor cancerígeno" no Oriente Médio "que deve ser erradicado". Essas palavras são "inconcebíveis" no século 21, disse o premiê de Israel. Merkel também "rejeitou categoricamente" estas observações.
"Estamos unidos na meta de que o Irã nunca tenha armas atômicas" e a discussão com Israel é "a melhor maneira de conseguir isso", disse ela.
A Alemanha, a França e o Reino Unido são três dos signatários do acordo nuclear de 2015 entre as grandes potências e Teerã para manter a República Islâmica longe das armas nucleares.
Os europeus propuseram negociar um complemento com Teerã, cobrindo seu programa balístico, bem como sua política de influência no Oriente Médio, considerada desestabilizadora pelo Ocidente e julgada por Israel como uma ameaça direta à sua existência.
Apoio de Trump
Israel, por outro lado, pode contar com o total apoio dos Estados Unidos e seu presidente Donald Trump na política de máxima oposição ao Irã. Netanyahu também revelou que tinha, após sua reunião com Merkel, visitado "brevemente" o embaixador dos EUA na Alemanha, Richard Grenell, a pedido do diplomata.
Ele pediu à mídia que "não tire nenhuma conclusão" dessa reunião. Especialmente desde que Grenell, um fiel aliado de Donald Trump, multiplica controvérsias na Alemanha desde que tomou posse recentemente. O diplomata chegou a convocar as empresas alemãs a suspender todo o comércio com o Irã.
RFI