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Pixabay Quem tem leva mais
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O objetivo é maximizar a miséria para obter o máximo de riqueza para poucos
por Ulysses Ferraz de Camargo Filho*
Sob o pretexto de um Estado mínimo, os governos de Ronald Reagan, George Bush e Margaret Thatcher construíram nos anos 1980/90, em seus respectivos países, Estados de segurança máxima.
Colocaram em prática uma lógica de opostos. De mínimos e máximos. Uma lógica binária de minimização ou maximização. Minimizar regulamentações, impostos, benefícios sociais, direitos trabalhistas, educação e saúde públicas.
Maximizar desigualdades, concentração de renda e riqueza, privatizações, terceirizações, aparatos repressivos, gastos militares, serviços de informações e espionagem.
Maximizar o poder dos mercados financeiros e bancos. Maximizar a riqueza dos ricos. Maximizar bônus dos altos executivos.
E minimizar salários da classe trabalhadora. Sob o pretexto da liberdade, esses governos alimentaram bolhas especulativas, declararam guerras, cortaram benefícios sociais historicamente adquiridos e, ao contrário do discurso de austeridade fiscal que venderam para o mundo, produziram vultosos déficits públicos.
Invocaram a liberdade para proteger suas economias, bombardear países, incentivaram a indústria bélica, garantiram suprimento barato de combustíveis fósseis e acessaram mercados externos em condições vantajosas.
Invocaram a liberdade para proteger seus mercados internos, ignorar acordos ambientais, instaurar o terror e conservar o antigo modo de fazer negócios.
Invocaram a liberdade para implantar um sistema de vigilância próximo à distopia orwelliana, quando exerceram o controle mais abrangente e repressivo do Estado sobre o cidadão em tempos de democracia.
Sob o pretexto de um Estado mínimo e da liberdade máxima, esses governos garantiram o máximo para quem possuía o máximo. Ofereceram o mínimo para quem não possuía sequer o mínimo.
Gastaram recursos escassos para atender apenas a seus grupos de interesse. Destruíram o meio ambiente ao máximo e entregaram sempre o mínimo em retornos sociais para a maioria da população.
No fim das contas, maximizaram a miséria para garantir o máximo de riqueza, renda e luxo para um mínimo de privilegiados.
Com o respaldo de economistas vencedores do Nobel e prestigiosos intelectuais, concederam uma aura de “legitimidade” moral para o egoísmo, a ganância e a destruição. Alastraram essas práticas para o resto do mundo em velocidade máxima, com um mínimo de resistência. Criaram mecanismos simbólicos e materiais para disseminar suas ideologias.
Com eufemismos cínicos, construíram uma linguagem própria, uma gramática específica, para a produção de discursos pretensamente científicos e a fabricação de consenso. Capturaram os porta-vozes da mídia, das classes políticas e da ilustre academia. Em escala global.
Deram luz a uma nova hegemonia. Lançaram trevas sobre os desfavorecidos mundo afora. E chamaram tudo de nova economia.
Em resumo, neoliberalismo é quando os ricos transferem livremente suas riquezas para onde se paga menos impostos, aplicam seus recursos onde os juros são mais elevados e deslocam seus empreendimentos para onde haja o mínimo de direitos trabalhistas e sociais.
E vivem em qualquer lugar do mundo, cercados de muros, bens luxuosos e aparatos de segurança privada. São os habitantes das muralhas maravilhosas.
Enquanto isso, o resto da população trabalha para subsistir, sobreviver e consumir as sobras do mundo afluente. Endividam-se para ter o mínimo de conforto material e vivem onde é possível viver, cercados de insegurança pública. Quando pacíficos, os excluídos são abandonados. Quando violentos, são encarcerados.
Um Estado mínimo garantido por presídios de segurança máxima. Austeridades sociais em meio a prodigalidades armamentistas. Os neoliberais e seus aliados conspiram incansavelmente pelo desmantelamento das redes de proteção social, amparados por suas tropas de elite espalhadas pelas Casas Legislativas.
Suas indústrias bélicas são amplamente representadas em seus interesses nos parlamentos e legalmente blindadas pelos poderes judiciários. Os bancos de investimentos são suas fortalezas mais sólidas. Jamais se acanham em se utilizar largamente das instituições democráticas em benefício próprio.
* Sócio desde 2018
CartaCapital
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