"A vitória da direita sobre a esquerda no segundo turno, a fácil adesão e reprodução de ideias neoliberais e o fim da vergonha de defender a ditadura militar e aceitar novas aventuras autoritárias foram algumas das novidades das últimas eleições", avalia o colunista Daniel Samam; "Não à toa que Bolsonaro foi eleito por uma aliança com setores empresariais, midiáticos, judiciário, religioso e militar, de caráter ultraconservador e que formaram uma coalizão com influência na sociedade e no Congresso"
Numa primeira análise, sofremos uma derrota política e cultural. No plano de perspectivas do que será o governo Bolsonaro, ainda será preciso esperar para um diagnóstico mais preciso, mas é possível que o professor Wanderley Guilherme dos Santos esteja certo ao afirmar em recente entrevista ao jornal Valor que Bolsonaro fará um "governo de ocupação". Ou seja, um governo que transforma toda a oposição em inimigo, mas usando as leis que estão no código penal e na Constituição, mas com uma aplicação enviesada e arbitrária.
Nesse sentido, o juiz Sérgio Moro cumprirá um papel à frente do Ministério da Justiça, promovendo um estado policialesco em nome de um suposto combate à corrupção que também servirá ao governo como cortina de fumaça para se tocar o receituário econômico ultraliberal de desmonte da Nação sem maiores reclames e encobrir questões mais sensíveis na própria pasta de Moro, como o caso da segurança pública.
Na política, a aprovação do aumento salarial dos ministros do STF, serviu como recado da turma da política tradicional ao presidente eleito, no sentido de que ele terá que "jogar o jogo" e fazer algumas concessões. Talvez o novo governo tenha alguns avanços na reforma da Previdência, mas só no ano que vem, com uma PEC que estipule a idade mínima e traga outras mudanças no sistema. No entanto, a governabilidade não está garantida e vai depender muito da capacidade de negociação do presidente eleito com o establishment político, que o presidente eleito pode resolver terceirizando a relação com o Congresso para alguns políticos profissionais. Fato é que o governo de ocupação terá força política e respaldo na sociedade nos primeiros meses. Vamos ver quanto tempo dura essa lua de mel.
Já os partidos do campo democrático apresentam um momento de completa desorientação frente a derrota político-cultural-eleitoral que nos foi imposta com a vitória de Bolsonaro. Algo previsível, diga-se. Tendo em vista o cenário de derrota e olhando para os desafios que temos pela frente, os partidos forjados na democracia, da esquerda à centro-direita (PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT, MDB e PSDB), devem reunir suas direções nacionais e avaliar a convocação em caráter extraordinário de seus respectivos congressos no intuito de avaliar o cenário, apontar perspectivas, fazer um diagnóstico do governo Bolsonaro e, a partir daí, renovar suas direções, seus programas, estabelecer metas de reorganização,, além de traçar estratégias e táticas para o embate à altura do novo ciclo aberto com a derrota político-cultural-eleitoral que nos foi imposta.
Sigo na mesma linha do professor Wanderley Guilherme dos Santos de que ainda não dá pra classificar o futuro governo de fascista. Trata-se, aí sim, de um governo de extrema-direita que segue uma cartilha ultraliberal na economia, ultraconservadora no campo social e de costumes que precisa ser combatido no conteúdo de seu programa, de suas medidas e ser contido sempre que violar direitos e liberdades fundamentais. Nossa tarefa primordial é a de empenhar esforços na formação de uma ampla frente em defesa da democracia, das liberdades e dos direitos.
Brasil 247


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