Diferentes soluções para problemas dramáticos: há os que veem na inovação tecnológica um instrumento para concentrar riqueza e produzir desigualdade e os que acreditam no diálogo entre diferentes para favorecer a cooperação
As empresas estão mudando de propriedade e de função econômica, priorizando o resultado financeiro. Os estados perdem importância relativa para as empresas multinacionais e grupos econômicos e estes, gradativamente, passam a controlar as escolhas e os destinos das nações. A produção amplia a capacidade de gerar riqueza, mas, de outro lado, os institutos distributivos (organizações e regras) são enfraquecidos, o que faz com que as desigualdades cresçam.
Há múltiplas e profundas transformações em curso, muitas ainda invisíveis para a maioria da população, mas que já influenciam o que somos, como decidimos e o que seremos no futuro.
Nesse mesmo tempo histórico, há problemas e desafios inéditos, que ultrapassam os limites das nações e que colocam em xeque todas as formas de vida. A produção econômica industrializa os limitados recursos naturais, consumidos de forma desigual por 7,5 bilhões de pessoas no mundo. Os vários tipos de lixo poluem e esgotam solo, rios, mares e ar, eliminando milhares de formas de vida.
O aquecimento global modifica rapidamente o clima, o que impactará de maneira irreversível as condições de vida. Enquanto se testam as hipóteses sobre essas mudanças, a vida no planeta pode caminhar para a extinção, tragédia que, desta feita, será provocada pela ação humana. Em todas as partes, a ação do homem é a mesma, o que exige medidas globais e coordenadas, que ajudem a conter os abusos que, tudo indica, conduzem o planeta à destruição.
Há milênios, diferentes tipos de guerra demonstram que a inteligência faz do homem também o mais destrutivo dos animais. A guinada à extrema-direita no mundo tem aumentado incontáveis conflitos regionais, tornando incontroláveis os riscos de uma guerra nuclear. A intolerância, hoje também alimentada e articulada em tempo real nas redes sociais, é a “virtude” preponderante na mobilização de tragédias. O problema não respeita limites, nem mesmo os das nações.
Em outra ponta, as novas tecnologias quebram fronteiras e passam a substituir trabalho humano não só na indústria, mas também na agricultura, no comércio e nos serviços. As máquinas substituem cada vez mais a força humana e animal, com diferentes tipos de robôs e, de maneira acelerada, ampliam as possibilidades de representar a inteligência humana em várias áreas de conhecimento. Os efeitos disruptivos sobre as ocupações, os empregos e as profissões já são e serão cada vez mais devastadores.
Ao criar a capacidade de produzir energia de maneira infinita (especialmente energia solar) sem necessidade de enormes obras (hidroelétricas, por exemplo) e de cabeamento para distribuí-la, todo o sistema produtivo pode ser alterado. Ao criar possibilidade de comunicação em tempo real (voz, imagem e dados), sem nenhum tipo de conexão física, o sentido de tempo e de deslocamento se modificam. Ao interligar energia e comunicação, com novos materiais e tecnologias produtivas, as possibilidades de transporte mudam.
Essas transformações nas bases do sistema produtivo permitem saltos tecnológicos impensáveis há pouco tempo. É possível sonhar em dar saltos da primeira para a quarta ou quinta revolução tecnológica e constituir inéditas probabilidades de desenvolvimento econômico.
O Brasil se encontra nessa complexa encruzilhada histórica, com possibilidades de progredir ou de criar muros que impedirão o país de alçar crescimento com desenvolvimento. Interesses internacionais e nacionais jogam pesado para impedir que o país, com a potencialidade e a importância que possui, tenha soberania nas escolhas. Jogo intrincado, repleto de blefes, mentiras e ameaças.
O investimento em educação, pesquisa, inovação, infraestrutura econômica, produtiva e social são essenciais nessa possibilidade de salto.
Mas, para isso, é essencial que se tenha um Estado capaz de articular e coordenar esse esforço coletivo, de nação integrada ao mundo. Mais ainda: governos terão que ser capazes de mobilizar investimentos públicos e privados plurianuais, organizando ações e decisões das empresas e organizações. Seguindo esse rumo, existe o desafio de estabelecer um tipo especial de diálogo social, capaz de prospectar possibilidades, oportunidades e desafios para o futuro, imaginar iniciativas e soluções, pactuar compromissos para que resultados sejam alcançados e distribuídos de maneira justa.
Há o caminho daqueles que enaltecem a guerra, desconsideram a mudança climática, o desemprego e a desigualdade. Há o caminho daqueles que fazem da inovação tecnológica instrumento para concentrar riqueza, produzir desigualdade e ampliar a barbárie.
Há o caminho daqueles que acreditam no diálogo entre diferentes, para enfrentar os conflitos, favorecer a cooperação em um mundo diverso e livre. Há o caminho daqueles que apostam que o conhecimento, a ciência e a inovação devem libertar a humanidade para viver melhor e enfrentar, de maneira determinada, desde já, os desafios da mudança climática, da tecnologia disruptiva e da guerra.
Crédito da foto inicial: Reprodução do filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin
Brasil Debate

Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;