O papel de ‘oferecido’ – perdoem a “caretice” do termo – desempenhado por Jair Bolsonaro em seu primeiro encontro como (quase) chefe de Estado, no encontro de hoje com Benjamin Netanyahu, premier israelense, foi de dar vergonha.
Faltou pouco para jogar-se aos pés do líder daquele país e comprometeu-se em fazer negócios “de orelhada”, sem qualquer embasamento técnico, sob o argumento que o relacionamento com Israel era barrado pelos “governos esquerdistas” do Brasil.
É verdade que Jair Bolsonaro já esteve em Israel, mas para uma missão religiosa (ou, pelo menos, com essa justificativa) na qual foi batizado pelo Pastor Everaldo no Rio Jordão. Não teve mais que um encontro protocolar com o Knesset, o parlamento israelense.
Por isso, não sabe que o Brasil nunca antes na sua história teve intenso relacionamento com Israel durante o governo Lula. Foram oito acordos de cooperação, média de um por ano – em áreas como Saúde, Educação, Cinema, transporte aéreo… – e mais um tratado de extradição entre os dois países.
Também não deve saber, ou finge que não sabe, que a Elbit, uma das mais importantes industrias militares de Israel tem, no Brasil, desde 2010, duas empresas, a Ares Aeroespacial e a Periscópio Sistemas Óticos, que fornece a torre para canhão Elbit UT30BR para os veículos militares Guarani. Não é pouca coisa: são sistemas de tiro de comando remoto para 2 mil veículos blindados. Contrato aprovado em 2011.
Na Aeronáutica, foram comprados conjuntos de bombas Spice, israelenses, para equiparem os caças suecos Grippen, cuja aquisição ocorreu no Governo Dilma e também sensores óticos Reccelite 2, também de uma indústria israelense, a Rafael, para equipar os caças.
Ou ainda que o primeiro dos acordos de Cooperação Internacional em Inovação firmados pelo Brasil – em 2010, no Governo Lula – foi com Israel, convidando empresas brasileiras a formarem parcerias com empresas israelenses para receberem financiamento a propostas de cooperação em pesquisa e desenvolvimento que “resultem no desenvolvimento de novos produtos, processos ou serviços direcionados à comercialização no mercado doméstico e/ou global.”
Tudo isso enquanto os “comunistas” imaginários estiveram no poder.
Mas Jair Bolsonaro, no seu despreparo, acha que cooperação internacional se faz com juras de amor e até medalha fajuta – ele entregou uma a Netanyahu, comprada em algum armarinho, talvez – em lugar de estudos e negociações demoradas e cheias de idas e vindas, quando envolvem tecnologia. Chefes de Estado, quando entram nelas, é porque tudo ou quase tudo está pronto e eles posam para fotos, assinando.
E já prometeu para março uma visita a Israel, prazo que não permite a confecção de qualquer acordo minimamente técnico neste campo, até porque demandam visitas de delegações, testes, estudos de projetos, etc.
Aliás, em março, nada garante que Netanyahu, acossado por escândalos de corrupção – a polícia israelense pediu o seu indiciamento – não esteja de saída do governo, pois as eleições por lá serão antecipadas para abril.
É no que dá ter alguém tosco assim na Presidência e um fundamentalista na chefia da diplomacia.
Mas ninguém fique achando que os espertos que vão fazer estes negócios arranjados a toque de caixa sejam “bobinhos” também.
TIJOLAÇO


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