A imposição de barreiras e taxas, pela União Europeia, à importação de sete tipos de aço brasileiro, atitude que, de tanto se repetir, já se transformou, do ponto de vista histórico, em um fator recorrente na desigual relação comercial entre o Brasil e a UE, chega em um momento particularmente interessante das relações internacionais brasileiras.
Ela coincide com a visita de Mauricio Macri - a primeira de um dignatário estrangeiro a Brasília - e com a defesa, pelos presidentes argentino e brasileiro, da “flexibiização” do Mercosul e da diminuição da tarifa externa comum do bloco, cedendo unilateralmente aos gringos, sem exigir contrapartida nenhuma dos países ocidentais, justamente quando as grandes potências mundiais, como os EUA, a China e a União Européia, reforçam intransigentemente a defesa de seus interesses estratégicos e comerciais nos mercados internacionais.
Se não fossem as exportações para a China, e, em certa medida, para a União Europeia, de commodities agrícolas e minerais, em uma situação, de fato, colonial, que se repete desde a fundação do Brasil, com o pau brasil cobiçado pelos franceses e lusitanos e o açucar explorado pelos portugueses e os holandeses com sua Companhia das ìndias Ocidentais, o Brasil não teria a quem exportar, já que os EUA não nos compram manufaturados, além de aviões que agora irão adquirir de uma companhia própria, que acabam de colocar sob o seu domínio e controle - a “internacionalização” das melhores empresas brasileiras, como a Petrobras e a Embraer, mesmo com eventual “golden share”, tem nos ensinado que a última palavra fica sempre com os tribunais norte-americanos, que, com a desculpa de defender acionistas daquela nacionalidade, asseguram na verdade a prevalêcia dos interesses geopolíticos de seu país - e não nos adquirem commodities, já que neste aspecto concorrem diretamente conosco vendendo ao mundo, com exceção do café e do minério de ferro, os mesmos produtos que exportamos, como soja, algodão, carne de frango, de porco e de boi, por exemplo.
Isso e o tradicional protecionismo dos EUA, explicam porque os estadunidenses - tão decantados como potenciais parceiros do Brasil nos dias de hoje - acumularam, nos últimos anos, sucessivos superavits no comércio com o nosso país, que por sua vez só obteve lucro em suas exportações de produtos industriais justamente com países e regiões dos quais a atual diplomacia pretende se afastar como o diabo da cruz, como a África subsaariana, as nações árabes e a América Latina, entre eles a Venezuela, com quem chegamos a lucrar mais de dois bilhões de dólares em alguns anos, quando a situação daquele país, antes da queda dos preços internacionais do petróleo, estava melhor do ponto de vista econômico.
Quanto ao tango com Macri e aos perigos do “efeito orloff”, tão famoso na década de oitenta, é preciso tomar cuidado com o abraço dos afogados.
A orientação neoliberal do atual governo argentino acaba de levar Buenos Aires a voltar a passar o penico para o FMI, pouco tempo depois, em termos históricos, de governos anteriores terem pago as dívidas com o país portenho com essa instituição, em 2006.
Situação muito diferente da brasileira, já que o Brasil continua com as sextas maiores reservas internacionais do mundo, 380 bilhões de dólares - mais de 300 deles emprestados aos Estados Unidos - acumuladas entre 2002 e 2015, período em que a dívida bruta caiu de 80% do PIB, no final do governo FHC, para 66% também no final de 2015, o último completo de Dilma Roussef na Presidência da República.
Dinheiro que não impede o avanço da abjeta subordinação aos EUA, como a defesa da liberação de vistos para norte-americanos em troca, eventualmente, de alguns dólares a mais no turismo, sem a existência também de qualquer contrapartida que preserve minimamente a dignidade de milhares de cidadãos brasileiros que visitam, todos os anos, os Estados Unidos.
Mauro Santayana

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