Talvez um pouco de cada coisa.
O guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, é obcecado pelo fiofó alheio, como demonstrou Mário Magalhães no Intercept:
Carvalho se embrenhou na dialética do fiofó: “Esquerdistas são pessoas que lutam pelo direito de dar o rabo sem ser discriminadas, ao mesmo tempo em que protestam para reclamar que só tomam no cu”.
A blogueira Cynara Menezes deu um passo além:
Mamadeira de piroca, bebês sendo masturbados, kit gay, golden shower… nunca se falou tanto de sexo bizarro quanto no governo dos fundamentalistas religiosos anti-sexo. Eles só pensam naquilo, e de uma forma que muita gente nunca ouviu falar. São mestres em putaria.
Mas o argumento de que Bolsonaro quer chamar atenção também deve ser considerado.
Ao longo de sua carreira de deputado federal, foi assim que “progrediu”.
Certamente ele e os filhos perceberam que o pai foi insultado de norte a sul, de leste a oeste no Carnaval de 2019 (ver vídeo acima).
O boneco de Bolsonaro teve de sair protegido em Olinda — e mesmo assim foi sovado com pedras de gelo e latas de cerveja.
Além disso, escolas de samba como a Mangueira, Paraíso de Tuiuti e Salgueiro saíram na Marquês de Sapucaí não apenas com críticas mais ou menos diretas às diretrizes do governo Bolsonaro, como falando sobre questões que arrepiam a base evangélica mais conservadora do presidente eleito, como o candomblé.
Finalmente, há a questão política.
Gregório Duvivier resumiu, no twitter:
Sempre que Bolsonaro estiver em crise de popularidade vai tentar deslocar a discussão pros costumes, onde ele ainda é popular.
É fato que o Carnaval, pelo clima de deboche que proporciona, tem grande impacto na opinião pública.
Ao atacar Caetano Veloso e Daniela Mercury, publicar o vídeo pornô e em seguida pergunta, ainda no twitter, “o que é golden shower?”, Jair Bolsonaro fala eminentemente à sua base, que estimamos esteja hoje em 30% do eleitorado.
São os militantes que o defendem ferozmente nas redes sociais.
Nada melhor do que uma cortina de fumaça para encobrir o fracasso de um governo que tem diante de si a tarefa árdua de aprovar reformas esperadas pelo “santo” mercado.
Jair Bolsonaro, que já admitiu ter praticado zoofilia, sabe muito bem o que é golden shower. O show de hipocrisia “cristã” que ele agora nos proporcionada é estratégia voltada à sua base, mesmo às custas de detonar o Carnaval brasileiro como fonte de diversão, turismo e impulso à economia.
Bolsonaro está dizendo a seus seguidores: todo mundo que me xingou neste Carnaval é depravado.
Em 1995, num artigo na New York Review of Books, Umberto Eco definiu as 14 características eternas do fascismo.
Uma delas:
O machismo implica tanto o desprezo pelas mulheres quanto a intolerância e a condenação de hábitos sexuais não padronizados, da castidade à homossexualidade.
Estamos diante de outro show de hipocrisia com objetivos políticos.
Viomundo

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