O deputado federal David Miranda, no dia de sua posse, em Brasília

Miranda era suplente e assumiu o cargo em fevereiro, depois que o ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) abriu mão de deu mandato também por ser alvo de ameaças de morte. Hoje Wyllys mora fora do Brasil. Para tentar difamá-los, a família Bolsonaro – com o apoio do apresentador Ratinho, do SBT – tem espalhado uma fake news segundo a qual Wyllys renunciou ao cargo por dinheiro. O boato ganhou força no último domingo após ter sido compartilhado nas redes sociais por meio de um perfil bolsonarista chamado Pavão Misterioso, que foi criado e apagado no mesmo dia.



Em entrevista ao Blog da Bela Megale, Miranda conta que recebe “ameaças cruéis”, mas que vai perseverar: “Não vou dar um passo para trás”. E diz que, por ele ser homossexual, o preconceito é ainda maior. “Temos que mostrar que os LGBTs estão fazendo resistência na sociedade.” Leia a entrevista.



O senhor avalia seguir o caminho do ex-deputado Jean Wyllys e deixar o mandado?

Não cogito isso de jeito nenhum. Estou recebendo carinho, acolhimento. Em muitos lugares que vou as pessoas vem a mim chorando e pedindo para eu continuar o meu trabalho. Esse carinho dá uma força que os autores dessas ameaças nunca vão conseguir tirar de mim. Eles não vão conseguir me paralisar. Não vou dar um passo para trás.



O que estimula o senhor a continuar na política?

A Marielle Franco (vereadora do PSOL assassinada em 2018) era uma das minhas melhores amigas, sentávamos lado a lado, passávamos fins de semana juntos, planejamos um futuro na política juntos. Assim como ela, penso que temos que dar um basta em outras pessoas falando pela gente, pelos negros, pelos favelados. A nossa vivência nos dá propriedade para falarmos pelo nosso povo. A representatividade que exercemos estando aqui (na Câmara dos Deputados) é imensurável. Eu venho de Jacarezinho, sofri com violência, com morte, fui torturado.



Como são as ameaças que passou a receber?

Tem ameaças contra a minha família, contra os meus cachorros. Disseram que vão envenenar meus cachorros com chumbinho e vão raptar um deles, mutilá-lo e gravar um vídeo para eu assistir depois. Coisas desse nível. Também há mensagens da Marielle, falando que não iam deixar nenhuma evidência sobre a galinha preta desossada da Marielle Franco. São ameaças muito cruéis.



O senhor passou a receber mais ameaças após as publicações do site The Intercept?

A gente começou a receber muito mais ameaças, comentários na internet, nas redes sociais. Também recebemos ameaças no e-mail oficial do mandato. Fizemos um pedido de proteção que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, prontamente nos atendeu. Estão providenciando escolta no Rio de Janeiro.



O senhor já recebeu ameaças em março, mas não solicitou escolta. Por que decidiu pedir desta vez?

A gente tem que ter dimensão do que isso modifica na estrutura das nossas vidas. É algo que vai limitar muito meu acesso a certas áreas no Rio de Janeiro. Não vou ter como entrar em áreas que, por exemplo, são organizadas por milicianos. Vou ter que dar um jeito de continuar meu trabalho nesses locais tomando todas as precauções possíveis.



Na sua avaliação, o que motiva essas ameaças?

Estão fazendo isso para tirar a atenção real do que está acontecendo. A gente está em um lugar de poder em um país que é lgbtfóbico, só conseguimos a criminalização da homofobia na semana passada. E temos um presidente com posicionamentos que reforça esse discurso, um discurso que assassina várias pessoas no nosso país o tempo todo. Temos que mostrar que os LGBTs estão fazendo resistência na sociedade.


Portal Vermelho

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