Lula Marques

Roberto Tardelli
por Roberto Tardelli*, em seu perfil em rede social



As últimas publicações – quem diria, da VEJA – contam uma história que transcende a si mesma.

Não se trata mais de dividir maniqueistamente o mundo em duas arquibancadas, a de quem defende a soltura imediata de Lula e a de quem entende que tudo não passa de uma trama para desmoralizar a maior operação anticorrupção da história do país.

Estamos em outro nível.

A mais elementar garantia que um sistema de justiça deve oferecer é a imparcialidade dos juízes. Não falo de neutralidade, que não existe, mas do dever constitucionalmente imposto de resguardar-se o julgador, de forma a garantir a todos as mesmas oportunidades processuais.

Quando esse elemento se quebra, quebra-se a espinha dorsal da Justiça e tudo e torna uma farsa, em que alguém será duramente prejudicado, não pelo malfeito de que é acusado, mas porque acusador e juiz se fundiram em uma única e funesta pessoa, a anularem qualquer possibilidade de defesa, de contraponto, de, em suma, contraditório.

Tudo foi previamente combinado. Tudo já estava acertado. O organismo da máquina judiciária estaria definitivamente corrompido. O prato envenenado, pronto e à mesa.

A imparcialidade quebrada vulgariza a Justiça, que passa a ser um pântano, em que acordos feitos em bastidores inalcançáveis sugassem e afogassem qualquer possibilidade de cidadania. É a negação completa de um aparato estatal minimamente ético.

Tudo está a demonstrar que Sergio Moro desqualificou a toga que envergava e negou frontalmente o mais sagrado princípio que se reserva a quem, homem ou mulher, se propõe a julgar, a decidir, enquanto Poder de Estado, exercitando seu papel supremo, a soberania.

Abandonar a magistratura como abandonou, dela fazendo uma alavanca para ambições pessoais, fez de Sergio Moro o pior dos exemplos, a pior das figuras, que não conseguiria lamber as botas dos tantos juízes e juízas que ao longo dessa jornada já bastante estendida, conheci e aprendi a admirar.

Não é à toa que compõe o primeiro escalão da mais bizarra composição ministerial de que se tem notícia no planeta.

Não é à toa que propõe ou subscreve propostas de alteração legislativa que fariam corar até as mais condescendentes professoras de português, tal é o primarismo de sua redação.

Não é à toa que se alinhou à extrema-direita repelida mundialmente. Não é à toa que sua mediocridade parece definitivamente exposta.

O resultado da farsa revelada não pode se manter, sob pena de perdermos por completo qualquer referência de Justiça, seja qual for o preço a se pagar. É uma questão de sobrevivência.

Aos juízes e juízas que conheci prometo jamais confundi-los, por um instante que seja, com essa figura canhestra que lhes sujou a toga, pela qual lutaram suas vidas inteiras.

*Roberto Tardelli foi promotor de Justiça no Ministério Público do Estado de São Paulo. Integra a TGC Advocacia –Tardelli Giacon Gonway.

Viomundo

Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads