Livro de Cid Benjamin atualiza, para os tempos atuais, táticas e estratégicas para burlar a repressão das ditaduras. Obra aborda difusão das milícias e oferece dicas que vão de cuidados com celulares à forma de neutralizar os P2
OutrasPalavras
Publicado 25/09/2019
Estado Policial – Como Sobreviver (2019, Civilização Brasileira), de Cid Benjamin
Lançamentos em São Paulo: 26/9 (quinta-feira), às 19h. Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073)
“Não me interessaria só contar minha experiência anterior, coisa que eu faço em algumas partes do livro, mas trazê-la para os dias do hoje”, conta o escritor em entrevista ao SOS Brasil Soberano. “Seja do ponto de vista de provocações policiais nas manifestações, métodos usados pela polícia para esvaziar esse movimento, seja do ponto de vista de procurar avançar na reflexão sobre as milícias, que estão sendo usadas para crimes políticos – basta ver o caso da Marielle e os levantamentos sobre outras pessoas, que os assassinos estavam fazendo.”
O resultado dessa atualização das táticas e estratégias de resistência, principalmente com Jair Bolsonaro ocupando o Palácio do Planalto, é o livro Estado Policial – Como Sobreviver, publicado recentemente pela editora Civilização Brasileira. Ao revisitar suas combativas experiências nos anos 1960 e 1970, o autor também contextualiza os métodos repressivos utilizados, ainda hoje, para reprimir a população e perseguir ativistas e, principalmente, a ameaça que representa o avanço das milícias no Brasil. Segundo ele, a democracia está ameaçada pelo próprio presidente da República, que, quando discursa contra grupos de oposição, apoia diretamente a ideia de eliminação física de ativistas de esquerda.
“O governo Bolsonaro, pela intimidade que tem com milicianos e pela simpatia declarada por eles, abre um período mais perigoso”, explica Benjamin na mesma entrevista. “Milícia já era grave; milícia no governo Bolsonaro é gravíssimo.”
Em um dos prefácios, o ator e diretor Wagner Moura, que tenta lançar no Brasil o filme Marighella, analisa: “Poucos chegaram a pensar que um dia estaríamos produzindo um manual de conduta para a proteção de militantes […] Cid, que sabe bem o que é ser preso e torturado por um Estado totalitário, nos ensina, a todos que nos opomos a esse quadro grotesco, a… simplesmente sobreviver”.
Como resistir — concretamente
Além de relatos, análises e memórias dos “anos de chumbo”, o livro também é um manual para a militância brasileira. Dicas, mesmo sutis, sobre como organizar esquemas de proteção, proteger telefones e computadores e cuidado com o lixo descartado, até formas de como preservar lideranças e resistir à tortura. Também contém precauções para evitar policiais infiltrados em movimentos, entidades e partidos políticos e cuidados em manifestações e atos públicos. O livro também lista os direitos a serem resguardados – e reivindicados — em casos de prisões arbitrárias.Uma importante recomendação aos movimentos populares é evitar cair em armadilhas que deem pretextos a condenações. Para isso, uma dica é encaminhar um pedido às seções estaduais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que, em dias de atos públicos, suas comissões de Direitos Humanos mantenham plantões de advogados que possam atender manifestantes presos.
O autor também pede que lideranças denunciem e exponha ameaças sofridas, sejam as de alto ou baixo potencial de consumação. Fazer trajetos inesperados, mudar a rotina, trocar de trens de metrô na mesma plataforma são atitudes que podem ajudar a pessoa a verificar se está sendo seguida. Além disso, andar na calçada no sentido inverso ao dos carros dificulta o uso de veículos na vigilância. Decorar telefones de confiança e divulgar agendas públicas também estão entre as muitas medidas de proteção descritas no livro.
Cid Benjamin alerta que não há receita para eliminar totalmente os riscos – as recomendações são apenas para mitigá-los. “Tem que se buscar proteção, com advogados, com OAB e suas comissões de Direitos Humanos, mas principalmente precisa ser construído um movimento de massa, uma pressão na sociedade que torne muito caro e pesado politicamente esse tipo de arbitrariedade. Esse é o melhor antídoto, seria o essencial.”
RÔNEY RODRIGUES
Jornalista formado da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Bauru) e membro da redação de Outras Palavras
Outras Palavras
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