Da Redação
A Folha de S. Paulo e o Intercept revelam, neste domingo 15, detalhes da delação do empresário Léo Pinheiro, da construtora OAS, até então desconhecidos.
O diário conservador paulistano apurou que constam da delação homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.
Repetimos, aqui, o óbvio: delação é testemunho. Pode ser falso ou verdadeiro. Pode ser uma invenção, com objetivos políticos do próprio delator. Uma vingança pessoal, por exemplo.
Ou pode atender àqueles que querem ouvir determinados fato e não ouvir outros.
A Vaza Jato já demonstrou que a Operação Lava Jato, em Curitiba, tinha ouvidos seletivos. Que era comandada pelo juiz federal Sergio Moro desde o início com objetivos políticos.
Fernando Henrique Cardoso? Não interessava. “Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante”, escreveu Moro quando se cogitou chegar perto do ex-presidente.
Tirar o PT do poder era o objetivo número um e, para isso, era necessário prender Lula. O Norte da operação (sem trocadilho) era este.
As pedras dos rins de Michel Temer sabem que os governos de coalizão no Brasil são $ustentados com acertos de bastidores.
O currículo de Temer é prova disso.
Temer foi presidente da Câmara no governo de FHC, vice-presidente de Dilma e presidente depois de golpeá-la com a mão do gatuno Eduardo Cunha.
O que a Folha publica neste domingo demonstra uma obviedade: qualquer denúncia associada ao PT ganha espaço na TV, no rádio e nos jornais — não equivalente quando se trata do PSDB.
A denúncia de hoje, como ficará claro mais adiante, é tardia. Como foi a do mensalão do PSDB, que antecedeu o do PT e não teve as mesmas consequências eleitorais, jurídicas e políticas.
Se o delator Léo Pinheiro está falando a verdade, o ex-senador e ex-chanceler — de Michel Temer — Aloysio Nunes Ferreira recolheu ao menos R$ 11,3 milhões em propinas de empreiteiras em nome do partido desde que José Serra assumiu a Prefeitura de São Paulo, em 2005.
Pinheiro diz que se reuniu com Serra e Aloysio para discutir a continuidade de obras deixadas pela ex-prefeita Marta Suplicy, como a Ponte Octávio Frias de Oliveira.
Aloysio teria chamado Léo Pinheiro numa varanda para dizer que o preço era propina de 5% sobre o valor do que faltava fazer.
Em outra ocasião, em 2010, num encontro com José Serra governador, prestes a concorrer ao Planalto — Aloysio era chefe da Casa Civil — Léo Pinheiro teria usado uma “senha” para confirmar a Serra um acerto pelo qual a OAS receberia R$ 54 milhões pendentes do governo paulista em troca de propina de 10%.
Pinheiro diz ter dado R$ 1 milhão em dinheiro vivo para a campanha de Aloysio ao Senado, em 2010.
O chanceler de Temer foi apelidado de Aloysio 300 mil pelo blogueiro Paulo Henrique Amorim por ter confirmado o recebimento de um empréstimo neste valor de Paulo Vieira de Souza para a compra de um apartamento.
Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, foi diretor da Desenvolvimento Rodoviário S/A, a Dersa, empresa que lida com investimentos bilionários de infraestrutura em São Paulo.
Em ação penal da Lava Jato, é acusado de lavagem de dinheiro. Já foi condenado na Justiça Federal paulista a 172 anos de prisão, mas recorre em liberdade.
O operador tucano admitiu à Receita Federal ter quatro contas na Suiça com o equivalente a R$ 137,4 milhões depositados.
Paulo Preto deve sua ascensão no tucanato paulista ao amigo Aloysio e mereceu dois habeas corpus do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, razão pela qual pode desfrutar de sua fortuna sem o risco de fazer delação premiada.
Ou seja, Paulo Preto flana por São Paulo com 100 tríplex do Lula no bolso. Esta é a fortuna reconhecidamente em nome dele.
Mas o mais impressionante da história vem agora.
Foi contada pelo jornalista Luís Nassif, no GGN.
Vamos deixar que ele mesmo desvende:
Primeira delação de Léo Pinheiro foi rejeitada para não atrapalhar o impeachment
Léo foi preso em junho de 2014. Em junho de 2016 sua delação foi recusada. Sabia-se que atingia diretamente lideranças do PSDB e aliados de Temer
A delação de Léo Pinheiro, revelada hoje pela Folha-The Intercept ainda não chegou no essencial: as razões que levaram a Lava Jato a recusar a primeira tentativa de delação do empresário, em 2016.
Pelos documentos relevados pela Folha, a delação atingia diretamente José Serra e seus operadores – Aloysio Nunes, Sérgio Freitas e Márcio Fortes –, confirmando as suspeitas sobre a rejeição da delação anterior: poderia comprometer o movimento pelo impeachment.
Léo foi preso em junho de 2014. Em junho de 2016 sua delação foi recusada.
Sabia-se que atingia diretamente lideranças do PSDB e aliados de Michel Temer. A maneira como se montou a desistência da delação é um dos episódios mais canhestros de toda a Lava Jato.
Narramos esse episódio no “Xadrez de Toffoli e o fruto da árvore envenenada”.
Foi vazada para a Veja um episódio irrelevante, e que sequer constava da delação.
Léo Pinheiro teria dito que orientou uma reforma na casa do Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli.
A reforma teria sido feita por terceiros e devidamente paga por Toffoli.
Ou seja, não havia crime e, portanto, não deveria merecer matéria, muito menos de capa.
Era mais uma “denúncia a favor”, como no episódio do grampo do Supremo.
Mas, com base nesse factoide, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot decidiu cancelar a delação. Simples assim.
Na mesma época, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima já mostrava desconforto com a delação da OAS, ao afirmar que a Lava Jato só aceitaria uma delação a mais de empreiteiras.
Não fazia sentido. A delação depende do conteúdo a ser oferecido. O próprio juiz Sérgio Moro ordenou a suspensão do processo, sem explicar as razões.
Os vazamentos de agora mostram a extrema partidarização da Lava Jato.
A delação ocorria em pleno processo do impeachment. Foi em junho de 2016. A votação final do impeachment foi em 31 de agosto de 2016
Além de implicar notórios conspiradores – e Aloysio Nunes foi peça chave, inclusive correndo a Washington para pedir a bênção para o Partido Republicano, mal se consumou o impeachment -, não apresentava evidências contra Lula.
Certamente sua divulgação enfraqueceria substancialmente o movimento pelo impeachment. Esta foi a razão da grande armação acertada com Janot para impedir a delação.
Viomundo
Viomundo

Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;