Líderes opositores não realizam marchas multitudinárias há meses, apostam em atividades menores e até mesmo na violência

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela)


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Guaidó enfrenta divisões internas da oposição e tem optado por eventos em ambientes fechados / Foto: Twitter @JuanGuaido


A última vez que o líder opositor e presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, conseguiu reunir, nas ruas de Caracas, mais de 5 mil pessoas foi no dia 30 de abril, quanto a oposição venezuelana tentou executar um plano de golpe de Estado, que fracassou.

Depois disso, houve mais um protesto, durante a visita da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, no início de junho, com cerca de 3 mil manifestantes. Foi o último ato opositor registrado em Caracas.

Durante o mês de agosto, Guaidó participou de uma série de atividades políticas no interior do país, com menor adesão de simpatizantes. No último fim de semana o deputado esteve no estado de Aragua, vizinho à capital.

O líder opositor tem preferido atos em lugares fechados, como teatros, auditórios e salões, em vez das grandes avenidas, como nos primeiros meses do ano.

Nas redes sociais, semana passada, viralizou a hashtag #GuaidóNoMueveMás (Guaidó não se mexe mais).

Para o doutor em filosofia e escritor Miguel Ángel Pérez Pirela, diretor site de notícias La Iguana, o líder opositor venezuelano está isolado. "Guaidó está sozinho. Pelo menos nas concentrações de rua o deixaram sozinho. [No último ato] fizeram fotografias de todas as perspectivas para mostra que havia gente, mas está sozinho, mesmo sendo o ato no seu estado natal, em Vargas. Coisa que nem sempre foi assim, quando surgiu a figura de Guaidó, do nada a figura, Guaidó arrastava gente para as ruas e muita", destaca.



Atividade política de Guaidó no estado Vagas (Foto: Voluntad Popular)
O que dizem as pesquisas
O diretor da empresa Datanálisis, Luis Vicente León, de linha política opositora, informou que uma pesquisa opinião mostra que apenas 20% da população estaria disposta a participar de protestos de rua contra o atual governo de Nicolás Maduro. Além disso, somente 30% dos venezuelanos acreditam em uma mudança de governo na Venezuela a curto prazo, segundo dados de julho. Em janeiro, essa posição representava 60% da população.

Vicente León afirma que a popularidade de Guaidó vem caindo, na medida em que o tempo passa e não se cumprem os objetivos, "os resultados esperados ou prometidos”.

No entanto, ele continua sendo que o único político opositor com mais aprovação que rejeição. O deputado Henry Ramos Allup, dirigente do maior partido opositor, o Ação Democrática, por exemplo, hoje tem mais de 70% de rejeição, de acordo com a Datanálisis.

“Os últimos processos eleitorais geraram decepção na população opositora. Houve uma desconexão entre a massa opositora e sus líderes. Isso gerou um fenômeno interessante, atípico, porque Maduro não conseguiu recuperar terreno, mas os líderes opositores também caíram”, ressalta o diretor da Datanálisis.

"Mas que governo, irmão?"
Segundo León, existe na Venezuela um ambiente de desconfiança generalizada. Foi o que fez crescer a fissura entre os partidos políticos. Na medida em que o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, não consegue avançar nas pautas opositoras, os partidos tracionais se afastam de sua estratégia política.

Semana passada, Guaidó, que se auto proclamou presidente em janeiro, nomeou cargos do gabinete de seu “governo interino”, porém não deu títulos de ministro, mas de comissários.

Em uma conversa gravada e vazada entre membros do partido Ação Democrática, um dirigente afirma que a criação do “gabinete” seria uma espécie de ação de marketing. “Mas que governo, irmão? Tira essa coisa de sua cabeça. Isso é uma coisa midiática”, disse José Barreto Rivas, ao se referir ao suposto governo de Guaidó.

Outro ponto de discordância entre opositores são as sanções econômicas dos Estados Unidas contra a Venezuela, apoiadas pelo setor  liderado por Guaidó. Partidos como Soluciones para Venezuela, liderado pelo político Claudio Fermín contrariam essa linha.

Apesar de ser opositor declarado ao governo Maduro, Fermín também critica Guaidó. "Somos contra o intervencionismo militar estrangeiro que sufoca aos poucos produtores que restaram. Somos ativistas que defendem a soberania, a Venezuela", afirmou.

Violência política
Com o esvaziamento das ruas, entre as estratégias para desestabilizar o governo de Nicolás Maduro permanecem as ações violentas.

Na última sexta-feira, o ministro de Comunicação da Venezuela, Jorge Rodríguez, anunciou a prisão de um suspeito de armar bombas para atentados contra a sede das Forças de Ações Especiais (Faes), a tropa de elite da Polícia Nacional Bolivariana, localizada no bairro de Cotiza, zona norte de Caracas.

Também, segundo o ministro, teria sido desarticulado um atentado contra um edifício do popular bairro 23 de Enero, na mesma zona, conhecido por abrigar líderes e grande número de integrantes dos movimentos sociais e comunitários que fazem parte da base social do setor político chavista.

Rodríguez informou que explosivos do tipo C4, com detonadores, foram encontrados nos dois lugares e desarmados pelas forças de segurança do Estado.



Ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez apresenta fotos dos explosivos apreendidos (Foto: Minci)
Também estava nos planos dos opositores explodir o Palácio de Justiça, no centro de Caracas, segundo um suspeito preso, Luis Ricardo Gómez Peñaranda, de dupla nacionalidade: venezuelana e colombiana. Ele foi flagrado com explosivos e confessou sua participação.

O ministro da Comunicação da Venezuela informou que os atentados foram planejados pelos mesmo autores intelectuais do plano de golpe de Estado que seria executado em junho e que foi desarticulado.

Entre os integrantes do grupo estavam ex-militares, ex-policiais, ex-funcionários do governo, assim como alguns líderes opositores, entre eles o deputado Júlio Borges, do partido Primero Justicia, também acusado de participar do ataque a drone contra o ex-presidente Nicolás Maduro, em agosto do ano passado.

Borges vive na Colômbia na condição de foragido da Justiça venezuelana, mas recentemente foi nomeado por Guaidó como comissário para Relaciones Exteriores.

“Quantas pessoas teriam morrido caso esse atentado tivesse sido realizado? Se tivessem conseguido explodir o Palácio de Justiça afetaria inclusive a Assembleia Nacional, que está em frente. Quanto deputados opositores seriam mortos?”, questionou o ministro Jorge Rodríguez.

Treinamentos na Colômbia
O ministro Jorge Rodríguez informou ainda que as investigações apontam que estão sendo realizados treinamentos militares de opositores venezuelanos na Colômbia “para, no futuro, atacar a Venezuela”.

Os treinamentos seriam liderados pelo opositor Cliver Antonio Alcalá Cordones, que ajudou a liderar essa operação, assim como o golpe frustrado de junho.

“No celular do terrorista preso esta semana encontramos fotos de mapas com localizadores dos três acampamentos de treinamento militar em território colombiano”, afirma Rodríguez.

Segundo o  ministro, uma das bases estaria no município de Maicao, no departamento La Guajira, na fronteira norte com a Venezuela, a 2,5 quilômetros da fronteira com a Venezuela. O outro acampamento ficaria no município de Riohacha, também em La Guajira. “Mas o verdadeiro acampamento militar está na Serra Nevada de Santa Marta. Tudo isso confessado pelo senhor Luis Ricardo Gómez”, afirmou.

O governo venezuelano cobrou ações concretas do governo colombiano para dissolver os acampamentos militares de venezuelanos opositores. A administração de Ivan Duque não se pronunciou sobre o tema.

Já no estado venezuelano de Táchira, fronteira com o departamento colombiano de Norte Santander, a polícia local desarticulou um novo plano, de um setor liderado pela deputada Gabriela Arellano, do partido Voluntad Popular de Juan Guaidó, que planejava bloquear estradas e impedir o abastecimento de combustível no estado.

Isso é o que mostra um diálogo de Whatsapp entre Arellano e um militante de seu partido, em que ela ordena a contratação de jovens em comunidades pobres da região para “trancar vias, roubar os motoristas que estarão fazendo filas nos postos de combustível para abastecer e sequestrar caminhões de gás”. A conversa foi vazada e divulgada nas redes sociais.

Gabriela Arellano vive na cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira, desde fevereiro desse ano. Ela é acusada pelo governo venezuelano de praticar e liderar ações violentas durante a tentativa de passar caminhões com ajuda humanitária, também em fevereiro, considerada pelo governo venezuelano um "cavalo de Troia". A deputada opositora negou, em sua conta no Twitter, que esteja planejando ações violentas em Táchira.

Edição: Rodrigo Chagas


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