Adel Abdul Mahdi, primeiro-ministro do Iraque, anunciou a sua demissão esta sexta-feira. A repressão das manifestações no país causou dezenas de mortes nos últimos dias. E a gota de água para a demissão foi a exigência que saísse por parte da hierarquia religiosa xiita.
O primeiro-ministro demissionário do Iraque, Mahdi, com o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo. Maio de 2019. Fonte: Departamento de Estado dos EUA/wikimedia commons.
Depois de semanas de manifestações e de dezenas de mortes, Adel Abdul Mahdi anuncia a sua saída da cena política.
Ali al-Sistani, o mais importante líder religioso xiita do país tinha pedido aos políticos que reconsiderassem o seu apoio ao governo, o que foi um golpe fatal num executivo já bastante debilitado. O Aiatola tinha igualmente prevenido contra a uma explosão da contenda e a tirania, instado o governo a parar de disparar contra os manifestantes mas também apelara a estes para pararem com o uso da violência. Acrescentou ainda que “os inimigos do Iraque e os seus aparelhos estão a tentar semear caos e lutas internas de forma a fazer regressar o país a uma era de tirania.”
Pouco tempo depois disso, em comunicado, Mahdi escreveu: “em resposta a este apelo, e de forma a facilitá-lo o mais rapidamente possível, apresentarei ao parlamento um pedido para a aceitação da minha demissão da liderança do atual governo.” Agora, o Parlamento reunirá em sessão urgente no próximo domingo para debater o tema.
Ainda antes da declaração do Primeiro-Ministro, o pedido de al-Sistani tinha já sido celebrado nas ruas como tendo posto um fim definitivo a este governo.
Por todo o país, as manifestações massivas têm sido uma constante. A Praça Tahrir, no centro de Bagdade, tem presença permanente dos manifestantes. Muitos destes, jovens, saem às ruas contra o desemprego, a falta de perspetivas e a corrupção.
Protesta-se também contra a influência iraniana na política do país. As milícias pró-iranianas têm desempenhado um papel importante na repressão dos protestos. E as zonas com mais presença xiita tem sido as de mais forte mobilização popular.
À agência noticiosa internacional Reuters, um manifestante, Mustafa Hafidh, declarava que a demissão do primeiro-ministro era “só o princípio. Iremos ficar nas ruas até que o governo inteiro se vá e o resto dos políticos corruptos”. Os manifestantes prometem assim continuar o protesto.
Também a repressão violenta dos protestos tem sido uma constante. Em Najaf, na passada quarta-feira, os manifestantes tinham incendiado o consulado iraniano. As autoridades responderam a tiro causando dezenas de mortes. Na quinta-feira, foram mortos a tiro pela polícia ou militares 46 pessoas em Nassíria, 18 em Najaf e quatro em Bagdade.
O saldo é atroz. Desde o dia 1 de outubro, cerca de 435 pessoas foram mortas por forças militares ou policiais iraquianas. Mais de uma dezena de agentes de autoridade também faleceram em confrontos.
Esquerda

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