POR FERNANDO BRITO

Nos anos 70, o “machão” Waldick Soriano explodiu com o sucesso de “Eu não sou Cachorro Não”.

As queixas e choramingas que o presidente Jair Bolsonaro anda dizendo nos últimos dias lembram aquela música, onde o valente se queixa da injustiça, da impiedade e do sofrimento a que o submetem por suas virtudes.

Curioso é que é mesmo homem que, há 48 horas, mandava um jornalista “calar a boca”, agora ameaça chorar num ato político, reclamando da vida no poder, como narra a Folha:

No início do evento [ de seu partido, o Aliança] , ao qual havia decidido em um primeiro momento não comparecer, ele chegou a chorar durante a execução do Hino Nacional. No discurso, disse que sabia que a rotina de presidente “não seria fácil” e que o exercício do mandato é “coisa pesada”.
“Eu sabia que não seria fácil. Sabia do peso sobre as minhas costas eu vencendo a eleição. A cruz é pesada. Eu não sei como pessoas de bem possam ficar felizes com cargo no Poder Executivo. Não sei”, afirmou. “A coisa é pesada. Decepções, ingratidões e gente que se revela depois que assume o poder”, ressaltou.

Há um “pequeno problema” no discurso choroso de Bolsonaro: quem assumiu o poder foi ele.

Sem partido, com um staff militar que nunca lhe criou problemas, com um bando de aventureiros que ele próprio montou e algumas estrelas – vide Moro e Guedes – que lhe devotam, ao menos de público, a mais canina submissão.

Não pode se queixar dos presidentes do Legislativo. Rodrigo Maia, em meio ao bate-cabeça da base governista, foi quem viabilizoua reforma da previdência; David Alcolumbre, cuja eleição foi urdida dentro do Governo, nunca lhe criou maiores problemas. No Judiciário, Dias Toffoli colaborou, inclusive com a paralisação por meses do caso das “rachadinhas” de seu filho Flávio.

Quem criou caso para Jair Bolsonaro foi Jair Bolsonaro.

Ao colocar “fundamentalistas” de direita e a família em postos de poder, para construir as polêmicas as quais sempre se alimentou, o presidente construiu a polêmica da qual se queixa.

Alguém acha que as dissensões dentro de seu partido, ao ponto de lhe fazerem perder a maioria num grupo que chegou a votações estrondosas por estarem “pendurados” na onda bolsonarista aconteceria se ele tivesse o mínimo de habilidade política. Que seu amigo de anos, general Santos Cruz e seu parceiro de campanha, Gustavo Bebbiano, teriam partido se não fosse a opressão que deixou os filhos exercerem?

Quem quis “peitar” com posições esdrúxulas o mundo e achou que imporia o Brasil no cenário mundial como latindo como “poodle” de Donald Trump, quem foi?

Bolsonaro entra no segundo ano de seu mandato política e eleitoralmente menor.

Mantém, com desfalques, seu bando de fanáticos, mas a direita do dinheiro já pensa – e age – para arranjar outro, ainda que com a discrição necessária para ordenhar deste governo o máximo de vantagens e destruição das estruturas nacionais.

Coitadinho e injustiçado poderiam caber nos versos melosos de Waldick, não nos lamentos de Bolsonaro.

O nazista que deixou o comando das instituições estatais de Cultura, horas antes, havia sio entronizado por ele como o “secretário de Cultura de verdade” e agora está o Governo pronto a recriar o Ministério da Cultura para engordar a oferta desesperada à “namoradinha do Brasil”, do Brasil que já passou.

O cidadão que (ainda) ocupa a secretaria da Comunicação da Presidência vai, todos sabem, cair assim que começarem os procedimentos jurídicos contra ele.

Boilsonaro vai mesmo chegando à conclusão que emitiu hoje, segundo o relato do Valor , na mais pura língua de seu ministro da Educação: “O Brasil não é eu”.




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