O QUE MUDOU TUDO? Foi a criação do Estado de Israel em 1947, a partir do qual toda a política americana no Oriente Médio passou a ser traçada em função dos interesses do Estado de Israel
Por Andre Motta Araujo
Um histórico da presença americana no Oriente Médio
por Andre Motta Araujo
No período que vai do fim da Guerra Civil até a Segunda Guerra Mundial os EUA tinham alto prestígio no Oriente Médio a ponto de ser fundado, em 1866, o Colégio Protestante Sírio em Beirute, depois de 1920 transformado em Universidade Americana de Beirute, hoje um respeitado centro de estudos atendido pela elite do Oriente Médio.
Os estudiosos americanos da cultura árabe e do Oriente Médio formaram um círculo conhecido como “The Arabists”, título de um livro de Robert Kaplan sobre essa respeitada elite de americanos com interesse cultural no Oriente Médio. Nesse grupo estava meu primo-irmão já falecido, Richard Antoun. Esses estudiosos falavam perfeitamente o árabe gramatical (árabe culto) e conheciam muito bem a História da região.
Esse período virtuoso teve também um grande evento econômico patrocinado pelos EUA, a descoberta de petróleo na Arábia Saudita em 1927 pela Standard Oil Co.of California (hoje CHEVRON), as maiores reservas do mundo naquele momento, criando para explorá-las a Arabian American Oil Co. ARAMCO, hoje uma estatal do Reino da Arábia Saudita. Portanto a presença americana na região, cultural e econômica, era virtuosa e não belicosa.
FUNDAÇÃO DE ISRAEL MUDA TUDO
O enorme prestígio dos EUA no Oriente Médio, inclusive no Irã, que foi corredor decisivo para abastecimento da URSS (1941) aliada dos EUA, a Conferência de Teheran, de 1943, com Stalin, Roosevelt e Churchill foi marcante, como o Irã foi fundamental no esforço de guerra, teve os EUA no ápice de seu prestígio no Oriente Médio.
O QUE MUDOU TUDO? Foi a criação do Estado de Israel em 1947, a partir do qual toda a política americana no Oriente Médio passou a ser traçada em função dos interesses do Estado de Israel, tudo propulsado pelo extraordinário poder do lobby judaico nos EUA, que passou a controlar toda a política exterior americana para a região, o que forçosamente levou os EUA a um confronto inevitável com os árabes que já estavam na Palestina há 1.500 anos e de lá foram desalojados pelo novo Estado, levando os demais Estados árabes a um choque contra os EUA na tentativa de proteger os palestinos.
Essa é a RAIZ de todos os conflitos NOVOS dos EUA no Oriente Médio, tudo nasce nesse ponto e a partir desse choque de interesses geopolíticos que estão na gênese do atentado das TORRES GÊMEAS de 11 de setembro de 2001, nas duas invasões do Iraque, dos conflitos com Teheran, do ISIS e do terrorismo.
A REPRESA DE ASSUAN
Um marco decisivo para a demolição do prestígio dos EUA no Oriente Médio foi a negativa do governo dos EUA, em 1954, em apoiar no BANCO MUNDIAL o financiamento da represa de Assuan no Egito, projeto hidroelétrico fundamental para que esse Pais, então líder da região, saísse da miséria e do atraso.
A negativa se deu entre muitas negociações entre o Secretário de Estado John Forster Dulles e o Presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, ao fim do qual Nasser não aceitou as condições impostas por Dulles, que incluíam um afrouxamento de sua política em relação a Israel. Sem apoio dos EUA, Nasser voltou-se para a URSS, que financiou a represa com US$1.2 bilhão a juros de 2% ao ano, fornecendo os equipamentos da usina, base da energia no Egito.
Desligado de compromissos com o mundo ocidental, Nasser, em 1956, nacionalizou o Canal de Suez, até então controlado por uma companhia anglo-francesa, a Compagnie Universelle du Canal Maritime de Suez, hoje transformada na empresa ENGIE, com grandes investimentos no Brasil, inclusive o maior gasoduto do País, o GASEN. Nasser pagou aos acionistas da companhia o valor das ações na bolsa de Paris.
Outra desfeita de Nasser aos EUA foi reconhecer, ainda em 1956, o governo da China de Mao, então inimiga dos EUA. Não é preciso ressaltar o papel do lobby judaico (AIPAC-America Israel Political Action Committee) no controle da política americana para a região, através de sua influência no Congresso dos EUA e no Departamento de Estado.
A ARÁBIA SAUDITA
Estado cliente dos EUA, que é o criador desse Reino artificial, a Arábia Saudita é o maior comprador de armas dos EUA, armas que raramente usa e que apresenta na região como poderio de papel. O Reino saudita vem caminhando, desde a morte do Rei fundador, Ibn Saud, para uma degeneração de soberania a ponto de ser hoje na prática um aliado de Israel sob o guarda-chuva da Secretaria de Estado americana, sendo o Príncipe herdeiro amigo íntimo do genro do Presidente Trump, Jared Kushner, que é judeu.
Conseguiram assim os EUA rachar o Oriente Médio em Estados frágeis, de um lado os sauditas e de outro Qatar, Baharein, Emirados, Kuwait, cada qual com sua lógica de alianças, um área fraturada pela ação de forças externas e cujo mapa está longe de se consolidar, uma região cuja riqueza se esvai em conflitos, compra de armas, destruição como na Síria, desperdícios e corrupção.
A FALTA DE UMA DIPLOMACIA RESPONSÁVEL
Nesse complicado xadrez geopolítico, entra um Trump com a falta de qualquer estratégia que atenda um plano de política externa racional, jogando por impulsos que só aumentam as tensões na região e, por tabela, prejudicam a economia mundial a médio e longo prazo, um governo que canta vitórias a partir de um assassinato político de que se vangloria. Pelo menos quando os EUA assassinaram o Almirante Yamamoto, em 1943, Roosevelt não se vangloriou. Assassinar alguém não é tema de vitória em um mundo civilizado, mas a grosseria de um Trump não conhece limites civilizatórios.
Os EUA, ao contrário do que canta Trump em contínuos “lives” e entrevistas, NÃO ESTÁ MELHOR no Oriente Médio, seu espaço real na região DIMINUE com esse tipo de ação, que além de seu próprio horror, é perniciosa a longo prazo para os interesses dos EUA na área e no mundo.
A erosão do espaço americano no Oriente abre caminho para a influência da Rússia e da China, já em franco avanço. Conflitos, ataques e sanções são agressões ao PROGRESSO E À PROSPERIDADE, o Irã e Cuba já estavam se integrando no sistema global a partir do Governo Obama e Trump se encarregou de reverter essa obra de reintegração, FRATURANDO novamente o convívio global para atender seus interesses pessoais exclusivos, que nem são os do Partido Republicano ou muito menos do povo e da economia dos EUA.
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