Em meio a uma pandemia – o que é, ainda que não a batizem assim -, em dia de caos no mercado financeiro e de ameaças à paralisia total da já combalida economia brasileira, Jair Bolsonaro, no exterior, ainda com os afagos de Trump e cercado de miaminions , dispara que as eleições (que o elegeram) foram fraudadas.

Diz ter provas, não diz quais e não as mostra. E nem precisa. Se a imprensa o inquirir, dará bananas ou mandará seu clone palhaço distribuí-las.

A bolsonarada visa dois objetivos: distrair as atenções, enquanto a vaca nacional vai para o brejo e fazer-se de vítima, enquanto articula o mais evidente ataque às instituições, à frente de suas tropas virtuais, que urram pelo fechamento do Congresso e do Judiciário.

Todos sabem – inclusive e sobretudo políticos, jornalistas e juízes – que sim, houve fraude nas eleições passaas, mas longe de ter sido na apuração dos votos. Derrubou-se um governo, destruiu-se o partido majoritário no país e arrancou-se o candidato favorito em todas as pesquisas eleitorais, com a ajuda ativa da mídia, do Judiciário e dos partidos que – tolinhos! – julgavam que iam abocanhar o poder que pelas urnas não lhe vinha à boca.

Não contavam com um outsider feroz que, montado numa máquina virtual que excitava o fanatismo e a selvageria, tomaria deles as coleiras na matilha de ódio que formaram. A qual, agora, volta-se contra eles, porque o ex-capitão não é da política nem da negociação, é do golpe e do totalitarismo.

À direita não-selvagem – ou ao pouco que ela resta – e aos defensores da ordem democrática não se exige autocrítica nem arrependimento. Basta o dilema em que se encontram, porque não possuem força para resistir aos arroubos ditatoriais de Bolsonaro, ainda que esta chantagem com massas na rua seja um tigre de papel, porque garras e presas do presidente são outras: os militares e as polimilícias que rejeitam a ordem constitucionais e estão prontas a se sublevar em nome de seu “mito”.

Mas sabem que ainda não têm forças e unanimidade interna para isso e, portanto, precisam cultivar a vitimização do presidente, que não salva o país “apenas” porque não deixam, políticos e tribunais, fazerem isso. A “esquerda” seria, como em 64, quem estaria comprometendo a democracia, aquela das senhoras de cabelos de chapinha, de senhores desocupados e a de jovens marombeiros, devidamente trajados de camisas da CBF.

Para não lhes dar razão aos queixumes, os chefes dos outros poderes fingem neutralidade. Dizem que votam pelo bem do Brasil e ignoram, na Justiça, os grunhidos golpistas. Fingem ignorar tudo, enquanto o país ameaça entrar numa fogueira econômica que não se sabe para que lado irá arder.

Mas se sabe e se vê que Bolsonaro a assopra e não será fingindo que não se vê que as brasas deixarão de produzir labaredas.

Bolsonaro é e sempre foi uma fraude. Nunca teve não tem e não terá condições de dirigir um país, ainda mais um com as dimensões e as carências do Brasil.

Mas a cegueira ambiciosa do establishment, ao encontrar no lixo este personagem e reaproveitá-lo como via de tomada do poder num pais com a imunidade a aventuras deprimida por uma longa campanha de sabotagem ao jogo democrático, o transformou numa epidemia.

Que precisa ser contida e não o será sem riscos.


Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads