Em vez de reduzir, sistema de impostos reforça as desigualdades do país, cobrando mais de quem tem menos. Oposição defende reforma justa e solidária

"Como é o que o PIB pode crescer, com tanta pobreza e tanta desigualdade?", questionou Oded Grajew

São Paulo – A vice-presidenta da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), Marlúcia Ferreira Paixão, afirmou nesta quarta-feira (11) que o sistema tributário brasileiro está em desacordo com os princípios da Constituição, pois não respeita a capacidade contributiva dos cidadãos de acordo com suas rendas e patrimônios. Ela defendeu que os parlamentares devem ir além da “agenda da simplificação”, que hoje predomina nas discussões sobre o tema no Congresso Nacional.

“A Fenafisco acredita que a reforma tributária é a mais importante das reformas. A mais estruturante, a mais urgente e a mais necessária para o país. Mas, atenção. Reforma tributária não é, e nem pode ser, sinônimo de simplificação. Tem que ser, antes e acima de tudo, sinônimo de justiça. A agenda da simplificação é bem-vinda, mas é absolutamente insuficiente”, afirmou, ao participar da abertura do seminário O Papel da Reforma Tributária na Redução das Desigualdades, promovido pela Fenafisco e pela ONG Oxfam Brasil.

Marlúcia destacou que a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades são princípios constitucionais. “A verdade é que a maneira como cobramos, e de quem cobramos, os tributos no Brasil mantêm uma sociedade profundamente injusta, porque é dramaticamente desigual. Trata desigualmente os cidadãos em detrimento dos mais pobres e em favor dos mais ricos. Por consequência, desrespeita o princípio da capacidade contributiva.”

A (Fenafisco), com apoio da Oxfam Brasil e do Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu), protocolou na última terça–feira (3), no Supremo Tribunal Federal (STF), uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) em que questiona a regressividade do sistema tributário brasileiro.

Custos da desigualdade

Segundo o presidente do conselho deliberativo da Oxfam Brasil, Oded Grajew, o sistema tributário brasileiro reforça as desigualdades sociais no país, o que acaba inviabilizando o desenvolvimento econômico. “Quando 22% da população está abaixo da linha da pobreza, ganhando menos de US$ 5 por dia, quando sabemos que a renda média dos 50% mais pobres é de R$ 820 por mês e que a maioria da população vive no limite da sobrevivência, como é o que o PIB pode crescer, com tanta pobreza e tanta desigualdade? Com esse nível de renda, de pobreza e desigualdade não há PIB que cresça”, afirmou.

Na semana passada, Câmara e Senado instalaram uma comissão mista para debater a reforma tributária. Estão em análise as Propostas de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019, da Câmara, e 110/2019, do Senado. Elas preveem a extinção de uma série de tributos, consolidando-os em dois novos impostos: um sobre bens e serviços (IBS), nos moldes dos impostos sobre valor agregado cobrados na maioria dos países desenvolvidos; e um imposto seletivo, específico sobre alguns bens e serviços, assemelhado aos impostos especiais de consumo.

Para os participantes do seminário, as propostas em discussão são insuficientes, pois não atacam a principal distorção, que é a regressividade na cobrança dos impostos. Com uma carga tributária elevada sobre o consumo, e reduzida sobre o patrimônio, são os pobres que acabam arcando com maior parcela dos custos do funcionamento do Estado.

Justa e solidária

A alternativa apresentada pela oposição é uma emenda substitutiva global à PEC 45/19 – de autoria de PT, Psol, PCdoB, PSB, PDT e Rede – que institui a proposta de reforma justa, solidária e sustentável. Dentre outras medidas, a proposta prevê a estabelecer uma carga tributária mais progressiva, cobrando mais de quem ganha mais.

“Em primeiro lugar, estabelecer o imposto sobre lucros e dividendos. Brasil e Ucrânia são os únicos países do mundo que isentam lucros e dividendos. Outra maneira de se estabelecer uma carga tributária justa é no imposto de renda. Estabelecer uma desoneração para aqueles que ganham menos, que vão consumir mais e aquecer a economia. E alíquotas mais elevadas para aqueles que ganham mais”, explicou o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).

Ele defendeu que o debate sobre a reforma tributária ganhe as ruas do país e se transforme em um movimento. “A base tributária brasileira é regressiva. É um Robin Hood ao avesso. Quem sustenta o país são os mais pobres. E esse sistema sustenta a elevação das desigualdades sociais. Temos que reverter.”

A deputada federal Fernanda Melchionna (Psol-RS) afirmou que o governo Bolsonaro não apresenta soluções para estimular o crescimento e dar respostas à crise internacional que eclodiu junto com a epidemia de coronavírus. “O que a gente esta vendo é um discurso de salvação da lavoura a partir de reformas antipovo, que significou que milhões de pessoas talvez não consigam se aposentar. Que significou quase 3 milhões de pessoas na fila do Bolsa Família, além de 1,4 milhão de pessoas na fila do INSS. São requintes de crueldade numa situação econômica que só piora. A agenda ultraliberal representa o austericídio, mistura de austeridade com suicídio”, afirmou a parlamentar.

RBA

Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads