"Ele vai dizer que não é, que é pelo desafio do leite, mas é um jogo de cena", afirma a antropóloga Adriana Dias, especialista em neonazismo
Por Lucas Rocha
O presidente Jair Bolsonaro chamou atenção ao tomar um copo de leite puro durante live presidencial na última quinta-feira (29). Apesar do presidente dizer que estaria cumprindo um desafio de ruralistas, pesquisadores enxergam uma correlação do gesto com movimentos neonazistas – que adotam o copo de leite como símbolo.
Para Adriana Dias, que é doutora em antropologia social pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e que há anos pesquisa o fenômeno do nazismo, há uma referência clara entre o episódio e o neonazismo. “O leite é o tempo todo referência neonazi. Tomar branco, se tornar branco. Ele vai dizer que não é, que é pelo desafio, mas é um jogo de cena, como eles sempre fazem”, declarou à Fórum.
Dias, que é colunista da Fórum, ainda destaca que Bolsonaro pode se escorar no Shavuot, festa judaica que teve início na quinta-feira, para se justificar pelo ato, que ocorreu no mesmo dia em que explodiram manifestações em Minneapolis contra a violência policial contra negros – em razão do bárbaro assassinato de George Floyd. O leite como símbolo está diretamente ligado aos chamados “alt-right” estadunidenses. “O cara é engenhoso”, completou Dias.
O antropólogo David Nemer, que pesquisa o bolsonarismo, fez uma sequência de postagens no Twitter comentando também a questão. “O extremismo do Bolsonarismo é tão tosco que eles apropriam tudo da Alt Right (extremistas brancos americanos) e com atraso – já que isso começou nos EUA em 2017”, declarou.
“Nacionalistas brancos fazem manifestações bebendo leite para chamar a atenção para um traço genético conhecido por ser mais comum em pessoas brancas do que em outros – a capacidade de digerir lactose quando adultos. É uma tentativa racista para se embasar em “ciência” p/ diferenciar e justificar a “raça branca”. Mas como já provado e explicado por toda ciência: Não há evidência genética para apoiar qualquer ideologia racista. O que há, é na verdade, um governo tosco e motivado pelo ódio”, detalhou Nemer.
O pesquisador ainda destacou a apropriação do leite por um grupo de bolsonaristas ligado ao perfil Leitadas Loen. Essa conta é alvo do inquérito do STF que investiga ataques ao Supremo e disseminação de fake news.
“O símbolo do copo de leite foi apropriado por uma facção das redes bolsonaristas, que são channers. Esse pessoal gosta da confusão que o meme gera com a simbologia nazista e se refestelam com a notoriedade que recebem da mídia. Essa fação é do Leon Leitadas”, acrescentou Nemer.
Desafio do Leite
Na live, Bolsonaro cita um desafio da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) e elogia a ministra Tereza Cristina, no entanto, se nega a “desafiar” alguém, quebrando a corrente que estaria seguindo.Após tomar o leite, ele fez questão de aproximar o copo da câmera.


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