Texto por: RFI
“Bom demais para ser verdade.” Ă assim que o diĂĄrio francĂȘs Les Echos abre sua matĂ©ria repercutindo a renĂșncia do ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, antes mesmo de assumir o cargo, classificando como “grotesca” a atitude do ministro em potencial de ter “trapaceado” em seu currĂculo.
A publicação ironiza que, apĂłs 18 meses de polĂȘmicas incessantes e uma luta ideolĂłgica contra o "marxismo cultural" liderada por antecessores, o MinistĂ©rio da Educação seria enfim chefiado por um gestor reconhecido por sua capacidade de ponderação, por ser aberto ao diĂĄlogo e, alĂ©m disso, cheio de diplomas.
O problema, destaca Thierry Ogier, correspondente do Les Echos em SĂŁo Paulo, foi esse oficial da reserva, de 70 anos, simpĂĄtico Ă ala militar do governo, nĂŁo ter hesitado em "inflar" seu curriculum vitae. E ele nĂŁo fez por menos: mestrado, doutorado, pĂłs-doutorado na Alemanha. Uma brilhante carreira acadĂȘmica que sĂł existiu no papel.
No entanto, assim que Carlos Alberto Decotelli foi oficialmente nomeado para assumir a pasta da educação, a verdade veio Ă tona. Começando pela Universidade Nacional de RosĂĄrio, na Argentina, que alegou que sua tese havia sido rejeitada e que o ministro nĂŁo poderia, entĂŁo, reivindicar o tĂtulo de doutor.
"Mas como realizar um pĂłs-doutorado sem ter obtido um doutorado?", se pergunta a publicação francesa. A resposta da Universidade alemĂŁ de Wuppertal foi que Docatelli realizou uma pesquisa na instituição por trĂȘs meses, mas que "nĂŁo adquiriu nenhum tĂtulo da universidade".
Um "descuido" acadĂȘmico
JĂĄ quanto ao mestrado em EcociĂȘncia na Fundação GetĂșlio Vargas, no Rio de Janeiro, o jornal descreve a acusação de que sua tese teria sido um plĂĄgio, o que Docatelli teria preferido qualificar apenas como um "descuido". Les Echos acrescenta que a FGV-Rio tambĂ©m negou que ele tenha sido professor titular da instituição.Pego de surpresa, Bolsonaro tentou dar uma segunda chance ao primeiro ministro negro de seu governo. "Todo mundo que o conhece relata sua capacidade de construir uma educação inclusiva", garantiu o presidente de extrema direita.
Na noite da Ășltima segunda-feira (29), Carlos Alberto Docatelli voltou a sair com a cabeça erguida de uma reuniĂŁo com o chefe de Estado. "Eu sou ministro", afirmou ele calmamente, como se nada tivesse acontecido.
Por fim, a data em que ele assumiria o cargo seria adiada sem definição. E diante do escĂąndalo causado pela divulgação do falso currĂculo, Carlos Alberto Decotelli foi finalmente forçado a renunciar.
O artigo do Les Echos inclui ainda a declaração de Priscila Cruz, presidente da ONG Todos pela Educação: "Um ministro da Educação que mente sobre sua formação acadĂȘmica Ă© extremamente sĂ©rio. Um cenĂĄrio, no mĂnimo, grotesco".
O texto conclui que, com o episódio, o presidente Jair Bolsonaro segue sua missão de procurar seu quarto ministro da Educação em apenas 18 meses.
RFI


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