Os Bolsonaros têm fortuna imobiliária, têm poder, votos e vínculos com milícias que atuam como empresas, mas não têm um partido e talvez não consigam ter. É provável que continuem sendo predadores dos partidos dos outros, como Bolsonaro foi do PSL de Bebianno, diz o colunista Moisés Mendes

(Foto: REUTERS/Adriano Machado)
Avaliação negativa de governo Bolsonaro passa para 45%, enquanto positiva vai a 30%, diz XP/Ipespe (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Tentam medir o que seria a base política e social de Bolsonaro com pesquisas imprecisas e estimativas precárias. O fracasso do projeto do partido da família oferece uma medida concreta.

O Brasil tem hoje 33 partidos. Ninguém sabe dizer quase nada da maioria, de onde cada um saiu, o que representa, qual é seu programa, quem são seus líderes.

Talvez saibam alguma coisa de uma meia dúzia, não mais do que isso, porque a maioria existe apenas como negócio. Mas o certo é que temos 33 partidos registrados.

E Bolsonaro não consegue registrar o seu. A família sonha com um partido só dela para poder gerir o fundo milionário sem o incômodo de repartir dinheiro com os laranjas do falecido Gustavo Bebianno.

Mas não conseguiram nada até agora. Levaram recrutadores de assinaturas para esquinas, quermesses, shoppings, feiras, cartórios, casamentos, igrejas e cemitérios e fracassaram.

Até a semana passada, segundo levantamento da Folha, o Aliança de Bolsonaro tinha apenas 15.721 assinaturas confirmadas. E precisa de no mínimo 492 mil assinaturas, por exigência da legislação eleitoral. Obteve 3,2% do que é necessário.

Muitos palpiteiros medianos têm mais seguidores nas redes sociais do que o partido da família Bolsonaro. A lista de assinaturas de aliancistas (ou seriam alianceiros?) tem mortos, tem gente que não existe, tem filiados a outros partidos.

Um manifesto contra ou a favor de qualquer coisa, atirado na internet, consegue mais assinaturas em uma semana do que o partido da extrema direita idealizado pela família em oito meses.

Há 77 partidos em formação no Brasil. Podemos ter, daqui a pouco, cem partidos, dos futebolistas, dos ciclistas, dos caçadores, dos carecas. E o partido dos Bolsonaros talvez não esteja entre os que forem criados.

O Aliança deve ser o único, entre todas as propostas de partido, que nasce do projeto pessoal de uma família. Está no plano de ampliação dos poderes de um pai e três filhos.

Os Bolsonaros disputam a fidelização de uma parte de 148 milhões de eleitores. Se essa porção fosse de 15% de bolsonaristas mesmo, como dizem as pesquisas, e não de eventuais apoiadores, eles teriam potencialmente um mercado de pelo menos 22 milhões de filiados.

Se apenas 10% desses 22 milhões de bolsonaristas se dispusessem a aderir a uma filiação, para viabilizar o partido da família, seriam 2,2 milhões de eleitores. Mas eles conseguiram míseras 15.721 assinaturas.

O PT, que a direita, em conluio com notícias da grande imprensa, chegou a considerar sob ameaça de extinção, tem 1,5 milhão de filiados. É dado oficial do site do TSE.

O partido de Bolsonaro não consegue a assinatura de compromisso de adesão porque a maioria dos simpatizantes desconfia que esse é apenas mais um negócio da família.

Os Bolsonaros têm fortuna imobiliária, têm poder, votos e vínculos com milícias que atuam como empresas, mas não têm um partido e talvez não consigam ter. É provável que continuem sendo predadores dos partidos dos outros, como Bolsonaro foi do PSL de Bebianno.

Reafirma-se, com o fracasso do partido de Bolsonaro, a suspeita de que o sujeito é apenas uma gambiarra da direita. Bolsonaro cumpriu uma tarefa, dando colo aos tucanos sem rumo e ao antipetismo doentio, mas não tem a base eleitoral e social que muitos pensaram que um dia teria.

Se fosse um fenômeno de massa a ser levado a sério, mesmo que ainda em formação, Bolsonaro não estaria preocupado agora com a criação de um partido que ninguém quer.

Bolsonaro vai para a eleição municipal sem seu negócio próprio porque o bolsonarista oportunista é, em maioria, alguém que não deseja ter vínculos duradouros com a família.

Os Bolsonaros sabem que cumpriram uma empreitada provisória. O Aliança é um negócio que a família conseguiu quebrar antes de abrir.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads