Da Redação Viomundo
Formado em Medicina na Alemanha, com PHD, o dr. Basem Naim foi ministro da Juventude e Esportes do governo de unidade de Mahmoud Abbas nos territórios palestinos.
Quando o governo se dissolveu, foi escolhido pelo Hamas para ser o ministro da Saúde da Faixa de Gaza.
Chefe do Conselho de Relações Internacionais do Hamas, Naim já condenou ataques contra civis israelenses, como em 2019, quando um atirador matou duas pessoas em uma sinagoga na Alemanha.
“Isso confirma que o terrorismo é um perigo para todos nós. O terrorismo não é de uma religião ou Nação. A Palestina, acima de todos os lugares, sofre a dor do terror”, escreveu na época.
O filho mais velho do médico foi morto aos 17 anos numa incursão militar israelense a Gaza. O adolescente integrava uma brigada do Hamas.
Falando ao Viomundo desde Gaza, ele deu o ponto-de-vista da organização a que pertence sobre o novo conflito.
A entrevista aconteceu às 22 horas, horário de Gaza, quando em geral os bombardeios de Israel começam entre 1 e 2 da manhã.
Na entrevista acima (tradução e legendas estão sendo providenciadas), o dr. Naim disse que o conflito entre Israel e os palestinos está entrando em uma nova dimensão.
Segundo ele, pressionados por partidos religiosos de extrema-direita, com os quais contam para formar coalizões governistas, dirigentes de Israel estão transformando um conflito político numa guerra religiosa, que será capaz de eventualmente mobilizar quase um quarto da população mundial.A decisão da Suprema Corte de Israel, que autorizou israelenses a requisitar para seu próprio uso moradias de um bairro de Jerusalém Oriental, segundo o dr. Naim acendeu nos palestinos em particular e nos muçulmanos em geral o medo do próximo passo: a demolição da mesquita de Al-Aqsa e a construção de um templo judaico sobre ela.
Jerusalém, como se sabe, tem sítios religiosos considerados sagrados por judeus, cristãos e muçulmanos.
O avanço do processo de colonização sobre a cidade apenas confirma o que já está acontecendo na Cisjordânia, em que verdadeiros “bantustões” estão se estabelecendo no entorno de populações e territórios originalmente palestinos.
Na África do Sul, isolar os negros em suas próprias comunidades, sob forte guarda militar, foi uma das formas que o regime do apartheid encontrou para evitar rebeliões.
O dr. Naim vê o mesmo processo acontecendo na Cisjordânia, um dos territórios que deveriam eventualmente integrar um estado palestino.
Para ele, os palestinos enxergam claramente que Israel está elidindo progressivamente todas as bases de um estado autônomo, expandindo suas colônias, tomando conta de Jerusalém e negando o direito de retorno aos milhões que vivem na diáspora.
A Faixa de Gaza, de 365 quilômetros quadrados, abriga mais de 2 milhões de pessoas, uma altíssima densidade demográfica que facilitou a disseminação da covid 19.
Israel controla tudo o que entra em Gaza, segundo o dr. Naim fazendo cálculos sobre quantas calorias seriam necessárias para cada habitante.
“É como uma fazenda de animais”, afirmou na entrevista.
Uma entidade israelense de defesa dos direitos humanos já descreveu Gaza como a maior prisão a céu aberto do mundo.
Como ex-ministro da Saúde, o dr. Naim diz que médicos e enfermeiros trabalham com salários atrasados e hoje enfrentam dificuldades para separar contaminados por covid, feridos por ataques militares de Israel e pessoas que sofrem de doenças crônicas.
Israel vacinou sua população com rapidez, mas não fez o mesmo com os palestinos que vivem sob ocupação militar.
Além disso, aplica um severo regime que bloqueia a entrada em Gaza de supostos equipamentos de “uso duplo”, que poderiam ter destinação militar.
De acordo com o médico, as talas para utilização em fraturas estão na lista de “dual use”, o que impede que sejam importadas para uso nos feridos dos ataques israelenses, sejam eles combatentes ou civis.
Ele também condena a nova tática israelense de atirar uma bomba que precede a demolição de um prédio por ataque aéreo.
Nas palavras do dr. Naim, o suposto “aviso”, que em tese demonstra preocupação de Israel com danos colaterais, desconhece que nos prédios demolidos moram idosos, pessoas com necessidades especiais e outras que simplesmente não conseguem sair a tempo.
O médico acredita que o avanço sobre Jerusalém Oriental tem o potencial de multiplicar os episódios em que grupos de judeus e palestinos passem a se enfrentar fisicamente nas ruas, como já tem acontecido.
Ele acredita que Israel não tem condições de repetir em todas as cidades de significativa população palestina o mesmo cerco que faz à Faixa de Gaza.
Sobre as lideranças árabes, o dr. Naim acredita que quase 100% delas defendem a causa palestina “da boca para fora”, se engajando em negociações abertas ou clandestinas com Israel.
Porém, com a ameaça à mesquita de Al Aqsa, ele prevê um tremor de longo prazo entre os muçulmanos do planeta, que acabará revertendo contra o estado de Israel e os Estados Unidos junto à opinião pública.
“Ninguém está seguro em Gaza, em nenhum momento”, disse o entrevistado, afirmando que uma mesma família palestina perdeu 27 integrantes num bombardeio recente de Israel, inclusive mulheres e crianças que estavam dormindo.

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