Para professor, vitória eleitoral não é suficiente: é preciso mudar o modelo econômico e instalar um tribunal para punir os responsáveis por ‘genocídio’ de brasileiros
Por Vitor Nuzzi, da RBA
São Paulo – Para a ex-presidenta Dilma Rousseff, o Brasil experimenta uma forma híbrida do que ela chama processo de “fascistização” da sociedade. Processo que inclui militarização crescente no aparelho estatal, exclusão política de setores populares e antipetismo substituindo o anticomunismo como inimigo interno. “O Bolsonaro é certamente o ovo da serpente, chocado pelo golpe de 2016”, afirmou Dilma, na última etapa de curso promovido pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Grupo de Estudos de História e Economia Política (Gmarx), vinculado ao Laboratório de Economia Política e História Econômica (Lephe-USP), que tinha o fascismo como tema. Com mediação do diretor de formação da FPA, Jorge Bittar, o debate foi retransmitido nesta segunda-feira (17) pela TV 247.
Dilma apontou o fascismo como “possibilidade histórica” sob diversas formas. Presente tanto no imperialismo capitalista como no regime liberal-democrático ou mesmo de exceção. Sempre marcado por uma “crise de hegemonia”, observou, e pelo enfraquecimento do movimento operário. Com traços presentes no impeachment de 2016: a emenda do teto de gastos, por exemplo, “retira o povo do orçamento”.
Unidade progressista
Agora, para enfrentar “o pior presidente da história”, é preciso unir os progressistas, diz Dilma. “Hoje nós temos um caminho intermediário. Surgiu uma luz, ou um Luiz, no final do túnel”, acrescentou, apontando o nome do do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “alternativa de poder real no espectro popular”.
Curador do curso, o professor Lincoln Secco afirmou que não se pode falar em fascismo, seja no Brasil ou no mundo, sem citar o capitalismo. O fascismo, segundo ele, foi um “produto conjuntural” da 1ª Guerra. Uniu “desmobilizados da guerra, classes médias ressentidas, elites econômicas que deserdaram de seus partidos tradicionais”.
E foi, ao mesmo tempo, um movimento que utilizou “técnicas racionais de manipulação” para capturar o que há de mais “irracional” nas sociedade. São, inclusive agora, ameaças à democracia agindo dentro da democracia.
Culto à morte
“E agrega outra característica, que talvez seja a mais monstruosa, o culto à morte”, diz ainda o professor. Isso se transformou, agora, em política de Estado. “Estamos diante de um movimento fascista que chegou ao poder, que concentra características, mas não se trata ainda de um regime fascista.”
Para Secco, uma vitória eleitoral em 2022 será importante, mas não suficiente como resposta ao avanço do fascismo no Brasil. “Temos que modificar o modelo econômico do país. Mas precisamos acima de tudo instaurarmos um verdadeiro Tribunal de Manaus”, afirma. Ele cita a capital amazonense porque julga ter ocorrido lá um verdadeiro “laboratório de genocídio”. Assim, seria necessária instalar um tribunal como foi o de Nuremberg (que no pós 2ª Guerra julgou crimes cometidos pelos nazistas) “apurarmos e punirmos os crimes das pessoas deste governo que causaram a morte de centenas de milhares de brasileiros de forma deliberada”.


Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;