Nesse contexto de ameaças à democracia e às instituições, Bolsonaro deu um passo adiante utilizando o general Eduardo Pazuello que, sem máscara, na manifestação do último dia 23, no Rio de Janeiro, fez um discurso político rompendo abertamente com as regras do Regulamento Disciplinar do Exército. A punição, se rigorosa, transmite o recado de que o Exército pertence ao Brasil e não a Bolsonaro. Se branda, abre caminho para outras insubordinações no futuro.

A elite dita liberal votou com o bolso, não com a razão. Um liberal autêntico rejeitaria um candidato ignorante, autoritário, que usa fake news como ferramenta política e que defende tortura, armas para todos, guerra civil, ditadura militar, além de discriminar mulher, negro, gay e índio. Mas no Brasil, e na América Latina, os chamados liberais costumam apoiar ditaduras.
A classe média tampouco votou com a razão, votou iludida “contra a corrupção”. Votou com o preconceito, receando que os pobres melhorassem de vida e se aproximassem, enquanto ela continua longe dos ricos que concentram renda em suas mãos. E o povão votou com a ignorância e a ilusão de que Bolsonaro era contra o “sistema”, contra “tudo isso que está aí”. Como sempre, são os mais prejudicados pelo neoliberalismo.
Quanto ao núcleo duro do bolsonarismo, ele se move pela crença, que é impermeável à razão como um fanatismo religioso. Pelas últimas pesquisas de opinião, porém, tudo indica que a base de apoio de Bolsonaro está se enfraquecendo. Ele perderia a eleição no segundo turno para Lula. Talvez tenha até dificuldade de chegar ao segundo turno, a continuar essa trajetória declinante.
Enquanto isso, Bolsonaro avança em seu projeto de criar condições para uma guerra civil, implantar o caos e uma ditadura militar para restabelecer a ordem. Já é visível a politização da Polícia Militar em alguns estados. O mais grave, porém, é sua tentativa de politizar o Exército, romper suas regras básicas de hierarquia e disciplina buscando conquistar seu apoio direto ou indireto para o golpe que planeja em caso de derrota eleitoral.
Ressuscitando a estética fascista de Mussolini, que liderou na Itália uma manifestação de motos, Bolsonaro tripudiou dos mais de 450 mil mortos pela Covid-19 para dar uma demonstração de força com a proteção da Polícia do Rio de Janeiro. Seu objetivo é conquistar o apoio policial e militar para seu sonho de golpe. Para isso, não será necessário que os tanques saiam dos quartéis. Basta não saírem dos quartéis quando o golpe for dado com o apoio direto das polícias e das milícias. Já vimos esse filme na Bolívia.
Diante dessa ameaça à democracia, as instituições funcionam mal, com ação retardada. Quanto às Forças Armadas, até agora estão apoiando o desgoverno de um presidente insano que só faz campanha e se recusa a governar, mas nomeou mais de 6 mil militares para postos chaves, configurando um governo militar e arrastando a imagem das Forças Armadas ladeira abaixo.
Além disso, apoia medidas para enfraquecer os órgãos militares de segurança criando, com a liderança do filho 02, uma Agência Brasileira de Inteligência (Abin) “paralela”, com participação de parte da Polícia Federal, como se viu na licitação para adquirir a tecnologia israelense Pegasus destinado a grampear mensagens telefônicas. A Abin e o Gabinete de Segurança Institucional estariam fora das licitações.

Nesse contexto de ameaças à democracia e às instituições, Bolsonaro deu um passo adiante utilizando o general Eduardo Pazuello que, sem máscara, na manifestação do último dia 23, no Rio de Janeiro, fez um discurso político rompendo abertamente com as regras do Regulamento Disciplinar do Exército. A punição, se rigorosa, transmite o recado de que o Exército pertence ao Brasil e não a Bolsonaro. Se branda, abre caminho para outras insubordinações no futuro.
Além de destruir a educação, saúde, cultura, meio ambiente, soberania nacional, de negar a pandemia e sabotar a vacina, o presidente, chamado de genocida, começa a destruir os princípios do próprio Exército do qual foi um dia afastado por sua então proposta de colocar bomba em quartel para reivindicar aumento salarial dos militares.
O “mau soldado”, como foi chamado pelo ex-presidente Geisel, quer dividir o Exército. Dividir para reinar.

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