Foto: Edição de imagem / Agência Brasil (Reprodução) |
Já recebeu chequinho de R$ 89 mil do Queiroz e agora surge nos áudios da CPI que a primeira-dama “está no circuito com o reverendo”, mas legal mesmo é espalhar mentiras sobre milhões da Avon que nunca existiram
Leitores, hoje vamos falar dessa habilidade nata que alguns abutres famélicos por hipocrisia têm: fazer silêncio com cara de paisagem.
Pois bem.
O brasileiro médio imbecilizado, como num surto psiquiátrico, passou mais de uma década tentando acreditar que Lula era chefe de uma quadrilha mirabolante cujas atividades e posses envolviam comunismo, sexo depravado, Farc, latifúndios no Pará, Ferrari de ouro, distribuição de pênis de borracha nas escolas, Petrobras e ditaduras africanas recebedoras de pensões.
A bobajada virou lenda urbana, senso comum, verdade absoluta sem origem e para milhões segue sendo um fato até hoje.
Inexplicavelmente, agora que eles têm no que acreditar pra valer, como os R$ 11 milhões em desvios de rachadinhas do clã Bolsonaro e os esquemas de facilitação e autorização para compra de meio bilhão de doses de vacinas fajutas encabeçados pelo presidente, fazem ouvidos moucos e não acreditam, também como num surto psiquiátrico.
Mas o lance aqui nem é esse.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia foi achincalhada e execrada publicamente por anos a fio com todo tipo de canalhice e invencionice estúpida e o ápice do show de horrores foi o tal boato dos milhões de reais da Avon que jamais se conseguiu saber como e onde surgiu.
Morreu xingada e humilhada.
Mas a nem a morte trouxe-lhe a paz. Na abertura de seu inventário, uma poupança de R$ 26 mil reais virou R$ 256 milhões por um “erro” do juiz da Vara da Família e das Sucessões de São Bernardo. “Erro” admitido, corrigido e publicado nos autos, mas a matilha da crueldade segue divulgando até hoje que a ex-mulher de Lula era uma magnata da roubalheira.
Aí ontem, 12 de julho, descobrimos que a perícia no celular do cabo de Alfenas, o tal Dominguetti – o mascate das vacinas – revelou que a primeira-dama Michelle Bolsonaro “estava no circuito”. Ou seja, atuando junto ao tal reverendo 171 que superfaturava imunizantes inexistentes para roubar dinheiro público.
Diz a mensagem de WhatsApp do PM vendedor de vacinas a um interlocutor, que quer saber a quantas anda o golpe:
“Michele (sic) está no circuito agora. Junto ao reverendo. Misericórdia”
Como recordar é viver, não esqueçamos dos chequinhos de R$ 89 mil depositados na conta da moçoila por Fabrício Queiroz, o operador das rachadinhas da família presidencial, devidamente provados e atestados por documentação do COAF.
Que coisa, não é mesmo? Que treco louco.
Histórias bizarras e abobalhadas se perpetuam como fatos reais e se prolongam por anos, enquanto fatos consumados, documentados e revelados com provas e indícios passam batido sem despertar a fúria dos tresloucados moralistas.
Mas é compreensível, afinal, uma senhora pudica e de fé cristã inabalável tem o direito de pecar e ser absolvida pelo Pai Celestial. Seu marido, ontem mesmo, disse assim sobre suas ameaças à democracia e os insultos aos membros do STF: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Resta saber se a regra aplica-se a ofensas contra a probidade e o erário público.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.
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