Reuniões do alto escalão, apoio a uma unidade de vigilância na Tríplice Fronteira e compartilhamento de dados biométricos de cidadãos dos dois países demonstram aproximação
Natalia Viana
22-30 minutos
Ex-juiz
da Lava Jato, Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça clamando pela
independência da Polícia Federal (PF). Mas uma análise dos seus 16 meses
à frente do ministério mostra uma inclinação bem diferente – pelo menos
no que diz respeito à influência do FBI sobre a polícia brasileira.
Meses de investigação da Agência Pública
em documentos oficiais revelam que, ao assumir o Ministério da Justiça,
o ex-juiz e o ex-diretor da PF Maurício Valeixo assinaram acordos com o
FBI, ampliando a influência americana em diferentes áreas de combate ao
crime, incluindo a presença dos agentes estrangeiros em um centro de
inteligência na fronteira, investigações sobre corrupção e acesso a
dados biométricos brasileiros.
No final de 2019, o escritório do
FBI no Brasil pediu um volume maior de recursos ao governo americano
para ampliar sua equipe e atender a mais pedidos de cooperação
internacional de investigações no país.
A aproximação de Moro com o FBI vai além. Quando tirou uma licença não remunerada de cinco dias em julho do ano passado, pouco depois da publicação dos documentos da Vaza Jato pelo site The Intercept,
é provável que o ex-ministro tenha se reunido com o FBI em Washington,
segundo documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) (veja box abaixo).
Cinco dias depois, o hacker Walter Delgatti foi preso pela PF e admitiu ter hackeado os telefones de promotores da Lava Jato.
Procurado pela Pública, o ex-ministro Sergio Moro não respondeu aos questionamentos enviados por email.
É
proibido ao FBI realizar investigações em territórios estrangeiros –
inclusive no Brasil – porque a polícia americana não tem jurisdição no
país.
A presença dos agentes do FBI no Brasil foi revelada em
2004, quando o ex-diretor do FBI no Brasil, Carlos Costa deu uma extensa
entrevista ao jornalista Bob Fernandes na revista Carta Capital. Em depoimento ao MPF
na época, ele afirmou que o FBI direcionava e financiava operações da
PF, o que estabelecia uma relação de “subordinação às autoridades
norte-americanas”.
Investigando no Brasil
Embora
as duas maiores investigações da Lava Jato pelo Departamento de Justiça
(DOJ) americano já tenham terminado, com os acordos da Odebrecht e
Petrobras, o FBI ainda tem muito a fazer para investigar corrupção no
Brasil, nas palavras do chefe do FBI no país, David Brassanini, em palestra no 7º Congresso Internacional de Compliance, em maio de 2019, em São Paulo.
Reprodução/Facebook
Anúncio da partcipação de David Brassanini no Congresso de Compliance
A
parceria com a PF nas investigações da Lava Jato foi destacada por ele
como uma aliança que merece ser louvada. Foi a partir daí que a relação
entre os agentes se intensificou. Reportagem conjunta do site The Intercept Brasil e Pública mostrou que desde 2015 os agentes do FBI estiveram em Curitiba para interrogar os delatores que estavam fechando acordo com os procuradores brasileiros.
A
cooperação foi descrita por Brassanini como “fluida, sem problemas e
transparente”, pois seus agentes já tinham familiaridade com a cultura e
a sociedade brasileiras. “A habilidade de desenvolver e entender as
peculiaridades locais é grande. Não só a questão da língua, mas em
entender realmente como o Brasil funciona, entender as nuances”, afirmou.
O
FBI atua para investigar corrupção transnacional graças à legislação
FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), uma lei que permite ao governo
americano investigar e punir, nos Estados Unidos, atos de corrupção que
envolvam autoridades estrangeiras praticados por empresas e pessoas
estrangeiras. Os crimes não precisam ter ocorrido em solo americano –
basta, por exemplo, que tenha havido transferência de dinheiro através
de algum banco americano ou que as empresas envolvidas vendam ações nas
bolsas nos EUA. Foi com base nessa lei que o governo americano puniu com
multas bilionárias empresas brasileiras alvos da Lava Jato, entre elas a
Petrobras e a Odebrecht.
Brassanini
relatou também, no mesmo evento, que agentes do FBI vêm a São Paulo
“toda semana para tratar de diferentes casos que envolvem FCPA e lavagem
de dinheiro”. Segundo ele, a colaboração com a PF já rendeu muitas
informações para os próximos anos. “Agentes da Polícia Federal do Brasil
me disseram recentemente que, mesmo que eles não coletem nenhuma
informação adicional, nem façam nenhum trabalho investigativo, ainda
assim eles teriam material para continuar inquéritos sobre corrupção e
lavagem de dinheiro pelos próximos cinco anos.”
Brassanini pediu
fundos adicionais ao DOJ para a operação no Brasil, o que permitirá ao
escritório ter uma equipe especializada em lidar com pedidos de
colaboração judicial. “O Brasil é o maior requerente de informações para
evidência, inteligência e casos tanto no Brasil quanto nos EUA”,
afirmou à revista Latin Lawyer.
David Brassanini é o
chefão do FBI no Brasil desde agosto de 2017, mas desde 2006 atua no
órgão por aqui. É casado com uma brasileira, com quem tem quatro filhos,
e é fluente em português. Atualmente gerencia o trabalho do FBI na
embaixada em Brasília e nos consulados em São Paulo, Rio de Janeiro,
Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre – incluindo a cooperação com a
Lava Jato – uma equipe de 20 pessoas, segundo a publicação especializada
Global Investigative Review.
Foi ele o
principal articulador de uma postura mais “altiva” da polícia americana
junto ao ministério capitaneado por Moro. Além de se reunir com o
próprio ministro no começo do mandato, Brassanini encontrou-se com
secretários e chegou a ter uma reunião com o polêmico assessor especial
do presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins. O jovem olavista é um dos
nomes que influenciam a política externa do governo, ao lado de Eduardo Bolsonaro.
O encontro
ocorreu no dia 18 de julho de 2019, às 17h30, no Palácio do Planalto.
Acusado pelo deputado Alexandre Frota durante depoimento à CPI das Fake
News de ter apresentado Bolsonaro ao marqueteiro Steve Bannon e de
“promover linchamentos virtuais”, Martins foi convocado
para comparecer à CPI para prestar esclarecimentos sobre sua suposta
participação no “gabinete do ódio”, gestor de milícias digitais
favoráveis ao presidente e centro de criação de fake news.
Dois meses antes, o chefe do FBI no Brasil havia comparecido a um compromisso no campo oposto ao de Martins: um debate
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para discutir, justamente, como as
fake news podem ser usadas para manipular eleições. Brassanini já havia
participado, no dia 17 de maio, de um evento com o diretor do
departamento de cooperação e observação eleitoral da Organização dos
Estados Americanos (OEA), Gerardo de Icaza, quando falou sobre o combate
a crimes cibernéticos e mencionou a criação de uma força-tarefa
internacional sobre interferência estrangeira em eleições. O Brasil foi
convidado para participar, ao lado da Índia.
No encontro com
Filipe Martins, Brassanini estava acompanhado de William Popp,
encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos.
Meses
depois, estava de volta ao centro do palco em um grande evento de
treinamento de policiais federais e procuradores no Itamaraty, que
ocorreu nos dias 5 e 6 de setembro de 2019. O DOJ, o FBI e a Securities
and Exchange Commission (SEC) realizaram um Treinamento em Combate à Corrupção e Suborno Transnacional em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), a Controladoria-Geral da União (CGU) e o governo federal.
Valeixo assinou acordo que dá ao FBI acesso a dados biométricos de “suspeitos”
Enquanto em 2018, durante o governo de Michel Temer, Brassanini fez apenas uma “visita de cortesia” a Rogério Galloro, então secretário nacional de Justiça Nacional, foram pelo menos quatro agendas oficiais em 2019.
Além delas, a reportagem localizou mais cinco reuniões de membros do Ministério da Justiça com adidos da embaixada americana, incluindo um “coquetel” oferecido pelo FBI durante a reunião de policiais de 12 países para discutir criptografia, evento chamado “Going Dark” e promovido por Moro em fevereiro.
A
primeira visita ocorreu logo no começo do governo. Em 17 de janeiro de
2019, o ministro Sergio Moro recebeu uma delegação de autoridades
norte-americanas para discutir maneiras de aprofundar a cooperação
jurídica do Brasil com os Estados Unidos, segundo o site do Ministério da Justiça.
Moro falou sobre seu pacote anticrime, que ainda não havia sido
apresentado ao Congresso (uma versão mais branda acabou sendo aprovada
em dezembro). Além de Brassanini, estavam na reunião assessores de
políticas do Tesouro dos EUA, o encarregado de negócios Doug Koneff, o
diretor econômico Frank DeParis e a conselheira política Kristin Kane,
todos funcionários da embaixada.
Na semana seguinte, no dia 24, Brassanini reuniu-se durante toda a manhã
com Jorge Barbosa Pontes, da Diretoria de Ensino e Estatística do
Ministério da Justiça, assim como o General Theophilo, então secretário
da Secretaria Nacional de Segurança Pública. Segundo a agenda oficial do
diretor, a pauta da reunião foi uma parceria para capacitação na
Academia Nacional de Segurança Pública do ministério.
Em
12 de agosto, Brassanini voltou a se reunir com Jorge Pontes e com
outros secretários, entre eles o de operações integradas do Ministério
da Justiça, Rosalvo Ferreira; o coordenador-geral de combate ao crime
organizado, Rodrigo de Sousa Alves, o secretário adjunto José Washington
Luiz Santos, o diretor de inteligência da Secretaria de Operações
Integradas, Marcos Aurélio Pereira de Moura, e o diretor de
inteligência, Fábio Galvão da Silva Rêgo.
Estavam presentes nessas
reuniões o adido de segurança regional da embaixada dos Estados Unidos
em Brasília, Jason Smith, e uma delegação de agentes especiais do
Serviço de Segurança Diplomática do Departamento de Estado. As reuniões
giraram em torno de dois projetos de parceria: “Discussões sobre o
projeto de biometria e criação do fusion center”, segundo registro oficial.
As
informações biométricas estão no centro de um acordo assinado em 18 de
março de 2019, durante visita oficial de Moro e do ex-diretor-geral da
PF Maurício Valeixo a Washington, na qual acompanharam a primeira visita
oficial do presidente Jair Bolsonaro. Moro teve reunião com a então
secretária de Segurança Interna Kirstjen Nielsen e com o diretor do FBI,
Christopher A. Wray. Ele almoçou com membros do FBI e da PF na churrascaria The Capital Grille, segundo a Folha de S.Paulo, de acordo com a agenda oficial, o almoço foi oferecido pelo diretor adjunto do FBI, Charles Spencer.
O acordo assinado entre Valeixo e Christopher A. Wray, obtido pela Pública via LAI, visa à troca de informações sobre grupos criminosos e terroristas a partir do compartilhamento de impressões digitais de cidadãos dos dois países para fins de investigações criminais.
Qualquer
uma das polícias pode pedir impressões digitais e outros dados
identificadores, como nome, número de seguro social, número de CPF e de
identidade, local e data de nascimento em casos que envolvem “indivíduo
sobre o qual exista suspeita razoável de que seja terrorista” ou
“indivíduos sobre os quais existe a suspeita de terem cometido crimes
graves ou atividades criminosas transnacionais”. Crimes graves, segundo o
acordo, são todos aqueles cuja pena seja superior a um ano de prisão.
As
impressões digitais serão inseridas pelo FBI em bases de dados
nacionais americanas, às quais outras agências do governo federal dos
EUA e governos estaduais têm acesso, segundo o documento.
Em outubro do ano passado, Bolsonaro assinou um decreto
estabelecendo uma base de dados única, o Cadastro Base do Cidadão, que
vai interligar diferentes bases de dados sobre os cidadãos brasileiros,
incluindo números de registros e documentos, dados biográficos e
biométricos, como “palma da mão, as digitais dos dedos, a retina ou a
íris dos olhos, o formato da face, a voz e a maneira de andar”. O
decreto surge ao mesmo tempo em que avança a coleta de dados biométricos
da população, como a biometria para as eleições, por exemplo, que
alcançou 120 milhões de eleitores este ano.
“Dados
biométricos, de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados, são dados
sensíveis. O compartilhamento desses para formar esse Cadastro Base do
Cidadão permite que mais dados, sensíveis ou não, sejam utilizados, de
maneira a extrapolar os fins para que foram coletados”, diz Joana Varon,
diretora da organização Coding Rights, que defende a privacidade de
dados.
Joana afirma que o acordo assinado por Valeixo pode levar a
abusos, já que a definição do que seria um “suspeito” é bastante ampla.
“Acordos de cooperação policial, que envolvem troca de dados sensíveis,
como os dados biométricos, precisam ser mais específicos e delimitados
para garantir que essa troca de informação seja realmente necessária e
proporcional aos fins que se destinam, ainda mais no momento político em
que vivemos.”
Segundo ela, o tratado pode ter mais peso num
contexto de ameaça institucional à PF. “Esses limites são ainda mais
importantes se considerarmos que o governo Bolsonaro conduz uma política
de total subserviência ao governo norte-americano, bem como se levarmos
em conta que vivemos momentos de crise democrática e de ameaças de
interferências políticas na Polícia Federal”, conclui.
Na
mesma ocasião, Maurício Valeixo também assinou um acordo com o Chefe de
Alfândega e proteção de Fronteira dos EUA, Kevin K. McAleenan, para
permitir que um delegado da PF brasileira fique lotado no Centro
Nacional de Identificação de Ameaças, e, ao mesmo tempo, que um agente
do Departamento de Segurança Interna dos EUA fique lotado junto à PF no
Brasil, para coordenar ações de segurança de fronteiras.
“Fusion Center” na Tríplice Fronteira
O
“Fusion Center” – ou Centro Integrado de Operações na Fronteira (Ciof) –
é um escritório de inteligência na Tríplice Fronteira de Foz do Iguaçu
que pretende reunir agentes de 16 instituições e unificar bancos de
dados. O modelo é inspirado no centro comandado pela DEA, a agência
antidrogas americana, na fronteira com o México, que Moro visitou em
junho do ano passado – no auge da polêmica da Vaza Jato. Na época,
especulou-se que a visita de Moro teria a ver com a publicação dos
vazamentos no dia 9 de junho pelo The Intercept, uma vez que a agenda não foi divulgada à imprensa.
A
agenda oficial de Moro começou no dia 24 de junho de 2019. Ele estava
acompanhado por Maurício Valeixo, pelo diretor executivo da Polícia
Rodoviária Federal, José Lopes Hott Júnior, e pelo assessor especial do
ex-ministro, o agente da PF Marcos Koren.
O roteiro incluiu, no primeiro dia, uma visita ao Centro de Inteligência de El Paso, liderado pela DEA, que conta com uma dúzia de agentes do FBI para monitorar a fronteira americana com o México. Depois da visita, Moro anunciou que destacaria permanentemente um delegado da PF para operar no centro de inteligência norte-americano, ampliando a troca de informações.
A seguir, no dia 25 de junho, fez uma visita às Forças-Tarefa Conjuntas de Combate ao Terrorismo do FBI. Mas teve de reduzir o tempo
de viagem para retornar ao Brasil. A visita estava sendo negociada
desde maio com Brassanini, segundo documentos entregues em resposta a um
pedido de informações do deputado federal Márcio Jerry, do PCdoB do
Maranhão, ao qual a Pública teve acesso.
Desde o dia 2 de maio – antes portanto do vazamento dos diálogos pelo The Intercept
–, Brassanini discutia reservas de hotéis para os brasileiros.
Inicialmente, a visita ocorreria no começo do mês. O pedido oficial para
a viagem foi feito por Moro três dias antes da publicação do vazamento,
no dia 6 de junho.
Segundo o documento do ministério, a agenda
foi conduzida pelo adido policial Jason Smith, o mesmo que estaria em
agosto em reuniões na esplanada.
Reprodução
Jason Smith no I Encontro dos Profissionais da Segurança da CSB em 29 de março de 2017
Em Setembro, Moro voltou a falar do Fusion Center
com uma delegação americana no Palácio da justiça em Brasília, dessa
vez com o Diretor-Geral Adjunto do Departamento de Segurança Interna dos
EUA, David Peter Pekoske.
Brassanini recebe tour VIP em Foz do Iguaçu
O
Centro Integrado de Operações na Fronteira é o projeto dos sonhos da
embaixada americana, que, há pelo menos dez anos, pressiona o governo
brasileiro para investigar suspeitas de atividades terroristas na região
– atitude que enfrentava resistência dos governos petistas, conforme
revelaram documentos diplomáticos publicados pelo WikiLeaks. Em janeiro de 2008, por exemplo, o embaixador reclamava
que o governo de Lula “se recusa a classificar, de forma oficial ou até
retórica, grupos considerados terroristas pelos Estados Unidos, como o
[palestino] Hamas, [o libanês] Hezbollah e [a guerrilha colombiana]
Farc”, que estariam na região da Tríplice Fronteira.
Governo Federal
Sergio Moro na inauguração do centro em Foz do Iguaçu
O centro foi finalmente inaugurado em 16 de dezembro no Parque Tecnológico da Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu. Um mês antes, Brassanini fez um tour especial às instalações, guiado por ninguém menos que Sergio Moro.
Em 6 de novembro de 2019, o ex-ministro levou uma pequena comitiva americana para apresentar o projeto. Estavam o cônsul americano, Adam Shub, e membros do FBI – entre eles David Brassanini, conforme mostra foto publicada pelo site G1. “Os Estados Unidos têm sido um grande parceiro do Brasil nessa atividade, ou em outras também, e nós estamos aproveitando o modelo que já foi construído. Nós pedimos ajuda em treinamento e equipamentos”, disse Moro.
O centro vai manejar bancos de dados unificados a partir da atuação conjunta de membros da PF, Polícia Rodoviária Federal, Agência Nacional de Inteligência (Abin), Ministério da Defesa, Unidade de Inteligência Financeira (UIF, antigo Coaf), Receita Federal, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Científica para combater o crime organizado na Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu. Estarão também presentes “adidos [policiais] de outros países”, segundo Moro afirmou ao jornal local Tarobá News.
De acordo com o ministério, o centro vai atuar principalmente no combate ao tráfico de armas e drogas. As equipes vão monitorar também movimentações financeiras ilegais.
No dia seguinte à visita, Moro anunciou a assinatura de um acordo com o Paraguai, o Uruguai e a Argentina que permite que policiais possam cruzar a fronteira para atuar nos países vizinhos durante uma perseguição. Sem o acordo, a atuação de forças policiais estrangeiras em outro país é ilegal, uma vez que não têm jurisdição em solo estrangeiro.
“É como se houvesse uma força-tarefa permanente, com o objetivo de prevenir e reprimir crime de fronteira (contrabando, tráfico de drogas e armas, financiamento ao terrorismo e proteção de estruturas críticas para o país). Por isso, a localização estratégica em Itaipu”, afirmou Moro, no dia da inauguração, um mês depois.
Na mesma semana, o FBI criou uma equipe especializada em temas como terrorismo e tráfico de drogas para atuar no Paraguai, segundo a agência Associated Press.
A terceira viagem aos Estados Unidos
Um
mês depois das primeiras publicações dos diálogos da Vaza Jato, Sergio
Moro viajou pela terceira vez no ano aos Estados Unidos, quando tirou
uma “licença não remunerada” para uma semana de “férias” com a esposa. O
casal passou de 15 a 19 de julho na capital americana, tirando fotos diante da Casa Branca
e demais pontos turísticos. Mas a reportagem apurou que ele
provavelmente se reuniu, também, com o FBI, fora da agenda oficial e
longe do escrutínio público.
Reprodução/Instagram
Sergio Moro em Washington
Reprodução/Instagram
Rosangela Moro em frente a Casa Branca
O colaborador da Pública
Jeremy Bigwood questionou via LAI o FBI sobre se há registros de
reuniões com o ministro na época. A polícia americana respondeu que “não
pode confirmar nem negar” a existência de tais registros, uma maneira
usada por órgãos americanos que equivale a reconhecimento tácito, quando
não se pode negar veementemente uma afirmação.
A reportagem da Pública recorreu e pediu mais informações.
Cinco
dias depois do retorno de Moro ao Brasil, o Walter Delgatti Neto foi
preso em uma operação da PF e confessou ter hackeado as mensagens de
Telegram de integrantes da força-tarefa da Lava Jato.
O FBI pisa em ovos
Impedidos
de fazer investigações em territórios estrangeiros – inclusive no
Brasil –, agentes como Brassanini pisam em ovos quando têm de explicar o
seu trabalho. Um vídeo no YouTube oficial
da agência americana, gravado por ele quando era chefe do hemisfério
das Américas do FBI, mostra claramente esse constrangimento.
“Embora
nós possamos não ter jurisdição no país onde estamos localizados […],
temos a habilidade de procurar e falar com nossos parceiros, que têm
jurisdição, trabalhar com eles, e dizer: ‘Hey, estamos procurando esse
fugitivo, você sabe onde ele está? Podemos te ajudar? Há algo que você
possa precisar para ajudar a encontrá-lo, seja treinamento, seja outras
técnicas sofisticadas que podemos usar para identificar, encontrar esse
fugitivo?’.”
O FBI e a embaixada se negam a detalhar publicamente o
que fazem seus agentes no Brasil. Mas um documento da própria embaixada
revela como funciona esse trabalho. Trata-se de um anúncio em 19 de outubro de 2019
em busca de um “investigador de segurança” para trabalhar na equipe do
adido legal e passar 70% do tempo fazendo investigações. “Essas
investigações são frequentemente altamente controversas, podem ter
implicações sociais e políticas significativas”, diz o texto do anúncio,
escrito em inglês.
Entre as tarefas listadas estão “assistência
investigativa relacionada com violações da lei dos EUA” a agentes de
segurança pública, incluindo o Ministério da Justiça, polícias Federal,
Civil e Militar e a Procuradoria Geral da República (PGR). Assim, “a
posição requer uma habilidade de interagir em um nível profissional com
membros da comunidade de segurança em alto escalão e nível operacional
em temas operacionais e de relacionamento”.
O profissional deve
“comparecer com (ou algumas vezes sem) a equipe do adido legal a
reuniões com membros do alto escalão do governo brasileiro”, acompanhar a
imprensa brasileira e manter “bases de dados investigativas e de
treinamento relacionadas aos contatos de ligação, conferências, tópicos,
palestrantes, fotos, e materiais que podem ser facilmente acessados
para avaliação (compiling evaluations), conforme necessário”.
O
anúncio avisa que o policial terá de viajar de carro, barco, trem ou
avião por até 30 dias. “Viagens para áreas remotas de fronteira e para
todas as regiões do Brasil serão requeridas.” Não é divulgado o valor do
salário.
Procurada pela Pública, a embaixada dos EUA em Brasília não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem até a publicação.
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