Em São Paulo, estudantes assistem aula na Escola Estadual Raul Antônio Fragoso, em Pirituba, na Zona Oeste paulistana, durante a pandemia da COVID-19, em 8 de fevereiro de 2021 - © Folhapress / Rubens Cavallari



Sputnik Brasil

Em meio às consequências da pandemia da COVID-19, cresce a evasão escolar entre os jovens de famílias de baixa renda. Para discutir os impactos dessa situação, a Sputnik Brasil conversou com a economista Vivian Almeida, do Ibmec, que apontou políticas que podem mudar o cenário que ameaça o futuro do país.

Conforme dados da 2ª Pesquisa G02Mob/FirstCom Pós-Vacina COVID-19, o número de famílias das classes C e D que afirmam que seus filhos pararam ou pretendem parar de estudar para ajudar nas despesas domésticas cresceu de forma significativa durante a pandemia.

Nessa situação estão 43% das pessoas que responderam o questionário da pesquisa, sendo que a primeira edição do levantamento identificou 31% dos entrevistados sob risco de evasão escolar, em março de 2021. A pesquisa mais recente ouviu de forma remota 4.520 pessoas das classes C e D de todas as unidades federativas do país, entre 1º de outubro e 30 de setembro de do ano passado.

Garoto na Escola Estadual Etelvina de Góes Marcucci em Paraisópolis © Folhapress / Karime Xavier


Segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a classe D corresponde às famílias com renda entre dois e quatro salários mínimos, enquanto a classe C engloba as famílias com renda entre quatro e dez salários mínimos. De acordo com a mais recente atualização do governo federal, o salário mínimo brasileiro é de R$ 1,212,00.

Essa é uma situação preocupante que pode aumentar a desigualdade social e minar o desenvolvimento do país. É o que aponta a economista Vivian Almeida, professora do Ibmec, que destaca que diante da crescente exigência de especialização no mercado de trabalho, o afastamento dos jovens das escolas e do "fluxo contínuo de adquirir conhecimento" é um problema sério que compromete a criatividade do país como um todo.

"É extremamente preocupante como esse jovem vai entrar no mercado de trabalho ou se manter no mercado de trabalho, e quais são as potencialidades desses jovens que pretendem evadir", avalia a economista em entrevista à Sputnik Brasil.

Almeida destaca que o período da pandemia mostrou a necessidade de formação em tecnologia, dado que cresceu o uso de ferramentas digitais e de modalidades como o teletrabalho. Com o problema educacional gerado pela pandemia, uma das questões levantadas é a formação de profissionais qualificados para esses setores.

"O denominador de geração de capital humano está menor, então o nosso potencial produtivo no futuro também está menor. A gente está contratando um futuro menos auspicioso do que poderíamos ter", lamenta.

Estudantes no primeiro dia de aula presencial na Escola Estadual Raul Antônio Fragoso, em Pirituba, na Zona Oeste de São Paulo © Folhapress / Rubens Cavallari



A pesquisadora ressalta que a necessidade inicial de fechar as salas de aula foi importante para conter o avanço do novo coronavírus, mas as consequências dessa medida de emergência devem ser enfrentadas. Além do impacto no aprendizado, Almeida destaca a força da desigualdade social nesse processo.

"Essa interrupção faz com que a volta não se dê aonde parou, é necessário um tempo para que se possa retornar [ao fluxo de aprendizado]. Então sem dúvidas há impacto em termos de aprendizado. Além disso, a pandemia escancarou as múltiplas desigualdades que a gente vive no nosso país", aponta.

A desigualdade social durante o afastamento das salas de aula colocou as crianças pobres em uma situação ainda mais delicada. Esse cenário, acredita a pesquisadora, é mais um desafio a ser levado em conta, visto que o acesso a computadores e smartphones de melhor qualidade durante a pandemia colocou estudantes com maior renda familiar em uma situação bastante privilegiada em termos educacionais.

"As pessoas precisam sobreviver. À medida que essas barreiras forem ficando maiores, mais intransponíveis e os custos dessa retomada individualmente forem maiores, a gente vai deixando essas crianças para trás", ressalta.

Políticas para reverter o cenário são conhecidas

Segundo a economista do Ibmec Vivian Almeida, há conhecimento acumulado suficiente para a implementação de políticas públicas que possam reverter os efeitos da pandemia sobre o aprendizado no Brasil. Entre as possibilidades, Almeida destaca o investimento na primeira infância.

"Se você consegue investir na primeira infância agora, o retorno que você tem em termos individuais e sociais é tão grande que ele vai sendo recuperado e gerando retorno positivo ao longo de gerações", explica.

Alunos em sala de aula de escola pública da zona rural do agreste de Pernambuco (foto de arquivo) © Folhapress / Diego Herculano


Além do investimento nessa faixa etária, de olho nas gerações futuras, a professora também aponta que medidas imediatas podem ser implementadas, tais como políticas de permanência da criança e do adolescente na escola, além de programas de capacitação e inclusão. Segundo Almeida essas políticas são fundamentais para retomar a produtividade e os investimentos.

"De alguma forma a gente tem políticas ao longo do processo educacional que já estão muito conhecidas, muito consolidadas na literatura nacional e internacional, que permitem que a gente possa vislumbrar uma saída para essa crise que vivemos nos últimos anos", conclui. 

br.sputniknews.com

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