Bolsonaro perdeu por não saber fazer a boa política. Pensou poder transformar o Brasil num cristianismo menor, legitimando as forças mais reacionárias do agro ao sertanejo, da mídia às classes médias mais medrosas. Por fim, tentou prostituir as Forças Armadas.
Edmundo Lima Arruda Jr.
osdivergentes.com.br
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Bolsonaros e filhos serão presos? questiona um amigo. Talvez, mas se depender de Lula e do sistema judicial, não. Lula é conciliador. Sobretudo, muito inteligente. Seu objetivo maior é lavar a honra e elevar sua imagem como o maior estadista do Brasil. Para isso terá que somar em tempos de divisão. E processos com foros distintos na competência são morosos, e demasiadamente políticos.
Não faltarão os de sempre, ressentidos com a “fraude” e com as catilinárias dirigidas ao presidente eleito. Tudo normal na política. Uma vez vitrine, às pedras.
O clã Bolsonaro decaiu com a derrota do chefe, deixando seus telhados de vidro. Lula, pelo contrário, é o empoderado e já sabe o que é ter a imagem destruída por anos de tortura à sua pessoa. Não entro no mérito do direito processual, sentenças e recursos, erros, nulidades. O Direito já disse o Direito. Não nos cabe julgar juízes e tribunais.
Mas diz um ditado popular: não importa se a mulher é desonesta (ou honesta). Ela tem que aparentar ser honesta. Lula deu a volta por cima, até o presente momento. Acusado de propinagens, ergueu-se e conquistou mais de sessenta milhões de votos em 2022. Há vinte anos venceu com cinquenta e três milhões. Um feito que diz muito por si só. E Bolsonaro? Até quando vai aparentar ser o patriota-mor, o incorruptível, o defensor da “boa moral” e, pasmem, o imbroxável?
Bolsonaro vai bem? Mais ou menos. Além da derrota, há indícios de inúmeros crimes envolvendo pai e filhos, mas nada devidamente averiguado. Sem os devidos processos legais todas as denúncias são meras retóricas políticas, somente. Recluso em seu palácio e deprimido, chora e não se pronúncia. Esperava um apoio que não o socorreu. As Forças Armadas e as bases parlamentares rechaçaram a hipótese de golpe. Somente ingênuos ou imbecis continuam numa bolha da ignorância, acreditando que Lula não será diplomado e empossado.
Lula jogou o jogo, do mercado, da política, um xadrez cheio de armadilhas. Pagou o preço. Cadeia e fama de ladrão para um entre cada dois brasileiros. Não sobraram acusações. Filhos teriam dezenas de fazendas. A família de Lula acumularia bilhões nas contas.
Nada foi comprovado, embora sua vida tenha sido vasculhada como a de ninguém neste país. O pífio foi anulado: Objeto? Uma coberturinha mequetrefe em Guarujá, presente (ou futura compra) frustrada, de conhecida empreiteira corrupta para seu benfeitor no governo e um sítio. Outros processos prostituídos foram anulados. O The Intercept implodiu com a Lava Jato remetendo Sérgio Moro ao lugar da insignificância, típico dos personagens menores na história.
Lula zerou o jogo, veio e ganhou. Sabe que não pode permitir mais falcatruas. Há sim perigo nas esquinas do transformismo repetido. O acordo com Arthur Lira desmonta o bolsonarismo. Mas vai cobrar dividendos, seguramente.
Bolsonaro perdeu ao vencer as eleições em 2018, por não saber fazer boa política. A não ser debochar e agir com micagens e desclassificações do Outro. Um Outro imenso. Povos indígenas, riquezas naturais, identitários, socialistas, católicos, vítimas da covid. Ele pensou poder reconfigurar o Brasil num cristianismo menor, legitimando as forças mais reacionárias do agro ao sertanejo, da mídia às classes médias mais medrosas. Bolsonaro envolveu e tentou prostituir as Forças Armadas.
Felizmente há evangélicos sérios muito distantes do padrão histérico e maldoso de Silas Malafaia. Militares honestos e democratas são a regra. Setores medianos conscientes de que não há dúvidas entre democracia, adoecida, bem verdade, e revitalização fascista, começam a ter esperança.
Sim, há liberais conservadores comprometidos com um país unido e não dividido. Dividido por incentivo de narrativas obscurantistas. Dividido por mentiras veiculadas por robôs. Dividido por mau exemplo de um presidente perseguido por medos e compulsões.
Lula terá um governo tumultuado. Os cenários não são alvissareiros. Crescimentos mundial e nacional pequenos ou moderados. País dividido após as eleições de 2022. Sobretudo, uma ideologia bolsonarista que se desgruda do confuso quadro político ultraconservador de Bolsonaro, aproximando-se de comportamentos irracionais da extrema direita fascista.
Da parte da esquerda de governabilidade e de suas elites burocráticas, haverá pressão para processar e prender Bolsonaro e filhos. Lula fará tudo com essa moeda de troca, negociando os panos quentes. Isso porque a corrupção, sendo endêmica e parte da cultura política, não se extingue por decreto ou promessas. Lula caiu por que optou por não ver a bandidagem ao seu redor. Se fizer o mesmo, poderá ser tirado do poder por aqueles mesmos algozes de sempre.
Várias questões podem ser levantadas nesse segundo grande acordo com os que detêm o poder e o dinheiro (o primeiro foi lavrado em 2002). Lula logrará ganhos efetivos de reparação de danos para os menos protegidos? Quais? A que custo com a acumulação canibal (financeira)? E as lutas libertário-igualitárias, podem ser retomadas sob acordos tão assimétricos na relação entre ganhos dos trabalhadores e lucratividade de bancos, agronegócios e seletos setores a eles vinculados?
Edmundo Lima de Arruda Jr
Fpolis, 07.12.2022
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