Empresa do grupo Rumo Logística, que administra ferrovias no país, realizava manutenção de trilhos em Corumbá (MS) quando o fogo teve início; área afetada equivale a 18 mil campos de futebol
Bruna Borges
reporterbrasil.org.br
5–6 minutos
Imagem aérea da queimada ocasiona em manutenção dos trilhos administrados pela Rumo em Corumbá (MS) (Foto: Ibama)
DE CORUMBÁ (MS) – Um incêndio que devastou
17,8 mil hectares do Pantanal na última semana começou a partir de uma
faísca durante a manutenção de trilhos da Rumo Malha Oeste, empresa do
grupo Rumo, maior administrador de ferrovias do país. O fogo começou no
dia 16 de agosto, em Corumbá (MS), e levou seis dias para ser
controlado. A empresa foi autuada pelo Ibama com multas que somam R$ 57
milhões.
“Estamos em condições de baixa umidade, de muita seca e vento forte. Tinha vegetação seca ao redor da linha, porque a Rumo não estava fazendo a limpeza adequada. Qualquer faísca poderia causar um incêndio, que foi o que aconteceu”, explica Ana Cacilda Rezende Reis, analista ambiental do Ibama.
A empresa tinha autorização para realizar a manutenção nos trilhos, mas há uma série de requisitos para o serviço ser realizado, como a limpeza da vegetação no entorno e a manutenção de equipamentos para controle de fogo no local. Segundo a fiscalização, as exigências não foram cumpridas.“É imperícia, imprudência e negligência”, resume a fiscal do Ibama. “Estamos com o uso de fogo completamente proibido, é público e notório os graves incêndios florestais e as condições climáticas adversas. Se a Rumo foi fazer uma manutenção – que era obrigação dela para garantir a segurança da linha -, e se essa máquina libera faíscas, teria que ter tido um cuidado ainda maior com a proteção”, complementa.
Reis ressalta que dormentes de madeira usados nos trilhos estavam largados ao longo da via, após serem substituídos por outros novos. “Isso virou material lenhoso que ajudou a agravar o incêndio”, pontua.
A concessionária Rumo afirmou que as causas sobre o ocorrido “estão em apuração e dentro do prazo legal” e “que não tem ciência de multa imposta pela autoridade ambiental referente a este fato isolado”. “Cabe ressaltar que no período, como vem sendo amplamente divulgado na mídia, há registro de diversos focos simultâneos de incêndio, de origens diversas, agravados pela sazonalidade e pelas condições climáticas”, afirmou empresa em nota.
Um terceiro auto de infração recaiu sob a Trill Construtora, empresa terceirizada pela Rumo para fazer o serviço de manutenção. A prestadora de serviços foi autuada pelo Ibama em R$ 50 milhões por ser corresponsável pelo incêndio. Procurada, a empresa não se manifestou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Queimadas no Pantanal
Desde janeiro deste ano, 2,3 milhões de hectares foram destruídos por queimadas no Pantanal, segundo estimativas do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ). Esse número é equivalente a 15% do bioma.
No Mato Grosso do Sul, a área queimada entre janeiro e 27 de agosto chegou a 1,7 milhões de hectares. É mais do que o dobro do registrado no mesmo período de 2020, até então a pior temporada de queimadas do bioma. Os dados são do governo do estado de Mato Grosso do Sul.
O Pantanal cobre 9 milhões de hectares entre os estados brasileiros de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e áreas da Bolívia e Paraguai.
Gigante do setor de logísticas
A Rumo administra 13,4 mil km de ferrovias no Brasil por meio de cinco concessões públicas – a concessão da Rumo Malha Oeste S/A, autuada pela devastação identificada pelo Ibama, é uma delas. Integrando polos de produção a terminais marítimos, a Rumo é responsável por 24% do volume de grãos exportados pelo país. Na região afetada pelo incêndio em Corumbá (MS), a Rumo atua no transporte de minério de ferro.
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