Nova Frente Popular lidera iniciativa afirmando que o presidente, ao descartar Lucie Castets como premiê, viola resultado das eleições de julho, vencidas pela esquerda


Victor Farinelli | 4 de setembro de 2024
operamundi.uol.com.br
4–5 minutos

Dezenas de deputados na França, sob a liderança da Nova Frente Popular (NFP), assinaram nesta quarta-feira (04/09) um pedido de impeachment contra Emmanuel Macron perante a Assembleia Nacional, após o presidente ter descartado a nomeação da economista Lucie Castets, militante do Partido Socialista, para ser a nova primeira-ministra. Ela foi indicada em 23 de julho pela própria NFP, a coalizão de esquerda que saiu vitoriosa nas eleições legislativas de julho.

O documento foi endossado, ao todo, por 81 parlamentares, incluindo 72 deputados do partido França Insubmissa (LFI, por sua sigla em francês), três deputados da Esquerda Democrática e Republicana (RDA, por sua sigla em francês), e seis deputados ecologistas.

“Diante da recusa do presidente Emmanuel Macron em nomear um primeiro-ministro da coalizão que saiu na frente nas eleições legislativas de 7 de julho, os autores desta proposta de resolução querem que o Parlamento inicie um processo de impeachment contra o presidente da República”, declararam os signatários, denunciando um “golpe de força sem precedentes na história das instituições da República Francesa desde 1877”.

O processo de impeachment se baseia no artigo 68 da Constituição francesa. De acordo com os parlamentares, trata-se de uma resposta política contra o “golpe antidemocrático” articulado por Macron, cuja recusa em nomear Castets “constitui uma grave violação do dever de respeitar a vontade expressa pelo sufrágio universal”.

“Tanto a Assembleia quanto o Senado podem e devem defender a democracia contra a tentativa autoritária do presidente da República, que não sabemos onde ele pararia”, afirma o documento.

Para que o pedido de impeachment seja aprovado, é necessário pelo menos o endosso de dois terços dos 577 membros que compõem a Assembleia francesa.

No final de agosto, as lideranças do LFI ameaçaram iniciar o processo de destituição de Macron acusando-o de planejar um “golpe institucional contra a democracia” após “rejeitar” o resultado das eleições legislativas no país. Além disso, expressaram que não aceitariam quaisquer propostas para um primeiro-ministro que não fosse Castets. 

Wikimedia Commons/Gabinete Executivo Presidencial da Rússia - 81 deputados franceses assinaram um pedido de impeachment contra Emmanuel Macron perante a Assembleia Nacional após o presidente ter descartado a nomeação da economista Lucie Castets, militante do Partido Socialista, como nova primeira-ministra
Wikimedia Commons/Gabinete Executivo Presidencial da Rússia - 81 deputados franceses assinaram um pedido de impeachment contra Emmanuel Macron perante a Assembleia Nacional após o presidente ter descartado a nomeação da economista Lucie Castets, militante do Partido Socialista, como nova primeira-ministra
 

Macron em busca do perfil moderado

Na segunda-feira (02/09), o mandatário francês realizou uma nova rodada de consultas no Palácio do Eliseu, e chegou a receber dois ex-presidentes, François Hollande e Nicolas Sarkozy, e dois potenciais candidatos à chefia do governo, o ex-ministro do Interior e ex-premiê socialista Bernard Cazeneuve e o presidente da região Hauts de France, Xavier Bertrand, da direita republicana.

Naquele dia, a imprensa francesa avaliou que Macron pretendia nomear um primeiro-ministro com perfil moderado, capaz de se aliar ao centro, seja um representante do Partido Socialista ou da direita republicana. O jornal Le Parisien, por exemplo, apontou possível favoritismo do socialista Cazeneuve, mas acrescentou que o ex-premiê de François Hollande “sempre foi contra a aliança do Partido Socialista com o partido A França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon”.

Já o portal France Info relatou que os deputados ecologistas e da esquerda radical “detestam” Cazeneuve, considerando-o “um símbolo da era Hollande”. Segundo o veículo, a reprovação é associada à Lei Cazeneuve que, em 2017, autorizou a violência policial com uso de armas de fogo, enquanto sua gestão no Ministério do Interior foi marcada pela repressão a manifestações ecologistas que resultaram, inclusive, na morte de um militante.

(*) Com RFI e Telesur

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