Em um dos discursos mais longos já feitos por um presidente diante do Congresso , com 100 minutos de duração, o presidente Donald Trump fez um balanço na terça-feira (4) de seus primeiros 43 dias no cargo. Ele destacou uma série de ações executivas que visam acelerar sua agenda econômica e política. Ao justificar a implementação de tarifas de reciprocidade para proteger a economia americana, Trump criticou o Brasil.
rfi.fr
Por: Luciana Rosa,
correspondente da RFI em Nova York
8–11 minutos
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Donald Trump durante discurso no Congresso dos EUA. © Win McNamee / via Reuters |
"As tarifas não servem apenas para proteger os empregos americanos. Servem para proteger a alma do nosso país", disse Donald Trump, embora tenha reconhecido que "algumas perturbações" serão registradas, sem citar a inflação prevista por economistas em todo o mundo. "Outros países têm utilizado tarifas contra nós durante décadas, e agora é nossa vez de começar a utilizá-las" contra eles, afirmou o republicano.
Segundo Trump, China, Brasil, Índia, México, Canadá e a União Europeia impõem tarifas muito superiores às aplicadas pelos Estados Unidos. Com a nova política, qualquer nação que tarifar produtos americanos enfrentará taxas equivalentes ao exportar para os EUA. Além disso, Trump determinou uma tarifa de 25% sobre alumínio, cobre, madeira e aço estrangeiros, argumentando que esses setores são essenciais para a segurança nacional.
Sobre a relação com México e Canadá, Trump afirmou que os dois países são responsáveis pela entrada recorde de fentanil nos EUA, uma crise que, segundo ele, tem matado centenas de milhares de cidadãos americanos. Além disso, criticou os subsídios bilionários concedidos aos dois países e garantiu que sua administração não continuará com essa prática.
Na área agrícola, Trump prometeu proteger os produtores americanos com tarifas sobre produtos importados. Ele reconheceu que haverá um período de adaptação, mas garantiu que, assim como aconteceu em seu primeiro mandato, os agricultores sairão fortalecidos.
Congressista foi retirado do plenário por protestar
Desde o início do discurso, sinais de descontentamento já eram visíveis entre os democratas. O deputado Al Green, do Texas, foi removido do plenário após interromper a fala de Trump. O deputado levantou sua bengala e protestou contra o presidente, o que gerou reações diversas entre os legisladores, com aplausos e vaias, enquanto Trump fazia uma pausa.
Além dos protestos verbais, alguns democratas se voltaram de costas para Trump. Vestidos com camisetas estampadas com a palavra “Resist” (resista, em português), eles deixaram o plenário em silêncio. Deputadas democratas vestiram rosa-choque em sinal de protesto, enquanto outros usaram lenços azuis e amarelos em solidariedade à Ucrânia, um dia após Trump suspender toda a ajuda militar ao país invadido pela Rússia.
A deputada Melanie Stansbury, do Novo México, segurou um cartaz onde se lia “Isto NÃO é normal”. Outros exibiram frases críticas ou com desmentidos de falas de Trump. A deputada Rashida Tlaib, de Michigan, levou um pequeno quadro branco para responder, em tempo real, aos comentários do presidente.
Trump seguiu seu discurso normalmente, aproveitando momentos para criticar políticas da administração Biden e ironizar seus opositores. O clima no Congresso refletiu a polarização política do país, transformando a sessão em um verdadeiro campo de batalha da guerra cultural americana.
Foco em políticas de batalha cultural e expansionismo
Trump usou seu discurso diante do Congresso para reforçar que está cumprindo suas promessas de campanha. Ele destacou o fim das políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) no governo federal, no setor privado e nas Forças Armadas. Além disso, ele recordou ter assinado uma ordem executiva que reconhece apenas dois gêneros, masculino e feminino, e proíbe a participação de homens em esportes femininos.
O republicano citou a retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre o clima, que chamou de "ridículo", da Organização Mundial da Saúde, designada como "corrupta", e do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Trump enfatizou a política da "América em primeiro lugar" ("America First") e voltou a ressaltar seus anseios expansionistas. O republicano disse que "vai recuperar" o Canal do Panamá e apropriar-se da Groenlândia "de uma forma ou de outra".
O discurso teve a presença de Elon Musk, o homem mais rico do mundo, que virou conselheiro do presidente americano, à frente do Departamento de Eficiência Governamental, responsável por cortar os gastos do governo federal.
Críticas ao governo Biden
Trump fez duras críticas ao governo anterior, afirmando ter herdado uma "catástrofe econômica" e "a pior inflação em 48 anos". Segundo ele, os preços de energia dispararam, os custos com alimentos se tornaram insustentáveis e o preço dos ovos, em particular, saiu de controle. Ele garantiu que sua administração trabalha para reverter essa situação, com foco na redução dos custos da energia. Trump acusou o governo Biden de cortar em 95% a concessão de novas licenças para exploração de petróleo e gás e afirmou que sua gestão já está reabrindo usinas de energia fechadas pelo governo anterior.
Em janeiro, a Casa Branca autorizou a exploração de petróleo e gás em grande escala. Para Trump, os EUA possuem mais "ouro líquido" do que qualquer outra nação do mundo. Ele destacou a construção de um gasoduto no Alasca, com investimentos de trilhões de dólares de países como Japão e Coreia do Sul. Também anunciou ações para expandir a produção de minerais essenciais e acabar com o desperdício de dinheiro público.
Imigração
O presidente americano lembrou que, em seus primeiros dias de governo, declarou emergência nacional na fronteira sul e mobilizou as forças de segurança para conter o que chamou de “invasão” ao país. Segundo Trump, o número de travessias ilegais caiu para o menor nível já registrado. Ele comparou a situação com a gestão anterior e voltou a acusar Joe Biden de permitir a entrada de criminosos, traficantes e membros de gangues nos EUA.
O presidente também anunciou um novo programa semelhante ao Green Card, mas, segundo ele, mais moderno e eficiente. O objetivo é atrair empreendedores de sucesso do mundo todo, com a possibilidade de obtenção de cidadania em troca de investimentos e geração de empregos no país.
Carta de Zelensky
Durante o discurso, Trump revelou ter recebido uma carta do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmando que a Ucrânia está disposta a negociar a paz o mais rápido possível. No documento, Zelensky agradece o apoio dos Estados Unidos na manutenção da soberania ucraniana e declara que o país está pronto para assinar um acordo relacionado a minerais e segurança a qualquer momento conveniente para os EUA. Trump destacou a importância dessa comunicação e afirmou que também recebeu sinais fortes da Rússia de que o país está pronto para negociar um acordo de paz.
"Não seria lindo?", questionou Trump, reforçando que é hora de interromper a guerra "sem sentido", cessar as mortes e buscar um fim para o conflito. Ele enfatizou que, para encerrar uma guerra, é necessário dialogar com ambos os lados.
Os Estados Unidos têm sido o maior doador financeiro e militar da Ucrânia desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro de 2022. Trump citou números em seu discurso para criticar uma menor participação europeia nessas contribuições. Porém, os valores citados pelo republicano são manipulados, por não corresponderem exatamente às remessas liberadas pelo Tesouro até o momento, embora aprovadas no Congresso durante a gestão Biden. Trump também minimiza o total de gastos dos europeus, quando cita a União Europeia sem adicionar as contribuições individuais dos países do bloco.
O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, convidou, nesta quarta-feira (5), os governantes dos EUA, Ucrânia e Rússia para sua capital, Minsk, para organizar negociações de paz sobre o conflito entre Moscou e Kiev.
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