Para Paul Krugman, a proposta de uma ‘reserva estratégica de criptoativos’ lembra esquemas de rug pull e pode acabar em perdas bilionárias para pequenos investidores
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O economista Paul Krugman em sua palestra no Fórum Brasil: Diálogos para o Futuro |
“Muita coisa está acontecendo, e a maioria não é boa. Mesmo assim, me surpreende que só agora a maior fraude da história mundial — pelo menos até o momento — esteja ganhando ampla cobertura. E, como vou explicar, um golpe ainda maior, promovido por Donald Trump, já está em andamento”, afirmou o economista e ganhador do Prêmio Nobel de 2008, Paul Krugman, em um artigo publicado nesta quinta-feira 6.
No texto, Krugman alerta que a proposta de Donald Trump para uma “reserva estratégica de criptoativos” pode resultar no maior golpe financeiro da história, comparando a iniciativa a esquemas conhecidos como “rug pull” (puxada de tapete, na tradução livre), nos quais os fundadores e investidores pioneiros lucram às custas dos pequenos aplicadores em esquemas com criptomoedas.
Soa familiar?
Krugman citou o caso do presidente argentino, Javier Milei, que promoveu nas redes sociais uma criptomoeda chamada $Libra.
Pequenos investidores compraram o ativo esperando valorização, enquanto grandes investidores venderam suas posições e garantiram altos lucros. Depois, o valor despencou, deixando prejuízos para os aplicadores menores.
Ele comparou essa situação ao lançamento do $Trump, uma moeda digital anunciada por Donald Trump em janeiro. O ativo atraiu bilhões de dólares de apoiadores do ex-presidente, mas perdeu mais de 80% de seu valor em pouco tempo. A maior parte das moedas foi adquirida por poucos grandes investidores, chamados de “whales”, que saíram antes do colapso.
Krugman lembrou que, em fevereiro, hackers roubaram 1,5 bilhão de dólares em Ethereum da Bybit, corretora sediada em Dubai. Segundo o FBI, o governo da Coreia do Norte teria orquestrado o ataque. A maioria das moedas já foi convertida em bitcoin e deve ser usada para sustentar o regime de Kim Jong-un.
Para o economista, esse tipo de crime se tornou comum, e a indiferença do mercado em relação a golpes bilionários demonstra que fraudes com criptoativos são vistas como ‘lance normal’ do setor.
“Relatórios sobre crimes financeiros relacionados a criptomoedas são tão frequentes que muitos jornalistas e editores parecem ter se acostumado com eles”, escreveu.
Reserva estratégica pode favorecer especuladores
O economista apontou que a proposta de uma “reserva estratégica de criptoativos” financiada pelo governo dos EUA tem semelhanças com os esquemas de rug pull.
“Se esse plano se concretizar, os preços das criptomoedas vão disparar, beneficiando grandes especuladores. Depois, a tendência é de queda, causando enormes perdas para investidores comuns e para os cofres públicos”, escreveu.
Ele também criticou a falta de um objetivo claro para a reserva. Enquanto a Reserva Estratégica de Petróleo serve para garantir o abastecimento do país em crises energéticas, a versão cripto seria apenas um conjunto de códigos armazenados em servidores vulneráveis a ataques.
“Em vez de invadirem sistemas de corretoras, esses especuladores ‘hackearam’ a administração Trump, convencendo o ex-presidente a usar dinheiro público para inflar o valor dos criptoativos.”
Para Krugman, se o governo americano levar a ideia adiante, haverá uma forte alta nos preços das criptomoedas que beneficiará grandes investidores. Quando a bolha estourar, os prejuízos ficarão com os pequenos aplicadores e, em última instância, com o próprio erário público.
Criptomoedas e atividades ilegais
O artigo ressalta que, apesar de existirem há mais de uma década, as criptomoedas ainda são pouco usadas em transações lícitas. Em muitos casos, servem para lavagem de dinheiro e pagamento de resgates. Krugman aponta o Tether como o criptoativo favorito dos criminosos: trata-se de uma stablecoin que mantém paridade com o dólar por meio de reservas financeiras geridas pelo banco de investimentos Cantor Fitzgerald. Ele também chama atenção para o fato de Howard Lutnick, ex-CEO do banco, ser o atual secretário de Comércio do governo Trump.
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