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Quem o disse foi o ex-chanceler Helmut Kohl. Depois do fracasso do recente leilão de títulos da Alemanha, torna-se patente que a confiança desmoronou, mesmo em relação à economia germânica. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón
Quem o disse foi o ex-chanceler Helmut Kohl. Depois do fracasso do recente leilão de títulos da Alemanha, torna-se patente que a confiança desmoronou, mesmo em relação à economia germânica. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón
| Ilustração de El Blog Salmón |
Foi o ex-ministro das Finanças Giulio Tremonti que comparou a Alemanha com a 1ª classe do Titanic, para recordar a Angela Merkel que esta também naufragou junto ao resto dos passageiros e da tripulação naquela fatídica noite de 1912. No centenário deste evento, a história não é trivial se considerarmos que é precisamente Angela Merkel quem está a afundar a Europa, uma coisa que foi dita em julho pelo ex-chanceler Helmut Kohl. E agora que a crise atingiu a Alemanha com um dececionante leilão de títulos, torna-se patente que a confiança desmoronou, mesmo em relação à economia alemã.
Isto confirma que a situação económica da zona euro continua a piorar, dado que os que nela mandam limitaram-se a ganhar tempo, dando pontapés sucessivos ao problema em direção ao despenhadeiro, e sem agilizar as soluções reais para a crise. A mensagem enviada por Tremonti, numa ação que desencadeou a fúria de Merkel e através da qual apressou a queda de Berlusconi, não faz mais que colocar a metáfora na qual italianos, gregos, espanhóis ou irlandeses estão no mesmo barco que os problemas do euro. Todos estes países têm um grande problema monetário ao serem incapazes de financiar os seus défices, numa escalada que só os afunda no mesmo abismo da depressão e do estancamento.
Prova disso é a contínua queda dos índices de produção industrial dos países europeus, que chegou a 47,3 pontos em outubro, o nível mais baixo desde junho de 2009. E nada nos faz pensar que esse índice possa inverter-se dado que entrámos numa perigosa espiral onde o desemprego se tornou incontrolável (estima-se que em Espanha vai alcançar 27% no próximo ano, com quase seis milhões de desempregados).
Para compreender este descalabro basta aplicar a triste aritmética dos planos de austeridade e dos cortes orçamentais, feitos com motosserra e sem qualquer critério. Foram estes cortes que afundaram a procura e provocaram o desmoronamento da produção industrial, que por sua vez provocará mais despedimentos e novas quedas produtivas, no que designámos como a espiral da morte que se alimenta também das contínuas quedas no sector privado.
O objetivo da implantação dos caminhos da austeridade procura reduzir os custos através dos cortes salariais e do nível de vida (a chamada “desvalorização interna”), para provocar uma deflação do rendimento interno. Procura-se fazer com que os salários sejam fortemente pressionados para baixo, para tornar mais competitivos os produtos de exportação, e assim aumentar as exportações enquanto se reduzem as importações, ao passarem a ser mais caras em termos de preços relativos. Quer dizer, que pela via da superexploração do trabalho pretende-se reverter o défice de conta corrente da balança de pagamentos. Esta é a clássica receita aplicada pela doutrina mais ortodoxa do pensamento económico, que não toma em contas o sofrimento humano e a disparidade de rendimentos que geram as classes rentistas. Por outras palavras, o que espera a Europa é algo muito parecido à escravatura, com a diferença que pensávamos que este regime tinha sido abolido há 200 anos.
25 de novembro de 2011
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