Publicações ocupam espaço importante no orçamento das editoras
Eduardo Tristão Girão - EM Cultura
Quem passa por postos de gasolina, farmácias, bancas de jornal e livrarias onde os títulos de bolso (pocket books) da editora gaúcha L&PM são vendidos talvez não desconfie que essa boa ideia nasceu num momento de crise. A empresa estava quase quebrada em fevereiro de 1997, quando a coleção, hoje eclética (literatura, culinária, quadrinhos etc), começou. Este mês, com Diários de Andy Warhol, ela chega ao milésimo volume nesse formato – e vendendo dois milhões de exemplares por ano. A concorrência já despertou para esse mercado.
“Atualmente, o livro de bolso é a alma da L&PM. Quando soube dessa ideia, um consultor nos disse que seria a salvação da editora. Quatro anos depois, conseguimos pagar todas as dívidas e resgatar o prestígio da empresa. Apostamos na diversidade: de quadrinhos a obras transgressoras, com o máximo possível de tendências. Queremos que seja a coleção dos leitores e também dos não leitores”, afirma Ivan Pinheiro Machado, um dos proprietários do grupo gaúcho.
Entre os feitos da L&PM estão edições (com novas traduções) de escritores como Balzac, Shakespeare, Maupassant, Gogol e Dostoiévski, a coleção completa de Sherlock Holmes e versões bilíngues de obras gregas antigas, com os textos em português ao lado de originais em grego clássico. Não há corte de conteúdo por causa do tamanho reduzido dos livros. Boa parte deles custa menos de R$ 20 (cada), mas há caixas que esbarram nos R$ 100, como a de cinco títulos do escritor alemão Bukowski.
Se ainda há quem pense que lançamentos sem grande importância compõem o catálogo da editora, títulos como os já citados e, mais recentemente, Diários de Andy Warhol estão aí para provar o contrário. A caixa dedicada ao americano tem dois volumes e traça um retrato cultural do século 20, no qual o artista registra seu cotidiano, impressões pessoais, fatos e eventos protagonizados por celebridades como ele, como o cantor Jim Morrison, o lutador Muhammad Ali e o estilista Calvin Klein.
O mercado de livros digitais (e-books) não compromete o de volumes de bolso, avalia Ivan. “As empresas de tecnologia forçam a barra para vender essa tese, como se o mundo tivesse acabado. Os caras querem fazer disso um Grenal, mas um não elimina o outro. São complementares”, ironiza ele. Sua editora investiu quase US$ 1 milhão na plataforma digital, mas ainda não teve retorno significativo. “É um mercado muito incipiente, representa menos de 0,3% do faturamento das editoras brasileiras. Isso é expressivo apenas nos Estados Unidos”, diz.
No momento, a prioridade da L&PM é o lançamento da série de bolso 64 páginas. Inicialmente, serão 12 volumes vendidos a R$ 5 e, como o nome sugere, todos com 64 páginas. Já estão previstas obras de Bukowski, Kerouac, Pessoa, Tchekov e Conan Doyle.
Arte Apostando nesse nicho de mercado desde 2005, a editora Companhia das Letras já colocou nas lojas 170 títulos pelo selo Companhia de Bolso. Em média, são 24 lançamentos por ano, sempre reedições de grandes sucessos da empresa. Em formato menor, elas são mais baratas. Os pockets passaram a representar 11% das vendas da editora no ano passado. O público-alvo, nesse caso, são os estudantes.
Além do preço, outro ponto que ajuda a tornar os títulos da Companhia das Letras mais atraentes é a preocupação com a arte das capas. Todas são reproduções de pinturas de Jeff Fisher com motivos diferentes, mas com a mesma identidade visual. A maioria dos títulos é vendida por cerca de R$ 20. Há obras de autores como Hannah Arendt, Caetano Veloso, Salman Rushdie, Milan Kundera e Oliver Sacks.
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
Na disputa por adeptos dos pocket books, o selo Best Bolso, da Editora Record, é um dos que mantêm maior quantidade de títulos. Agora, vai chegar ao número 300 com o clássico O nome da rosa, de Umberto Eco, que está no prelo. O autor revisou o texto em novembro, “enxugando” termos em latim e deixando o romance mais acessível. “Acredito que vire um estudo de caso, pois o leitor mais dedicado vai querer comparar as edições e ver as diferenças”, afirma Silvia Leitão, coordenadora do selo.
A Record está bem abaixo da L&PM e seus 1.029 títulos, mas com boa vantagem sobre a terceira colocada (em termos quantitativos), a Companhia das Letras, com 170. Como o Grupo Editorial Record conta com outros 14 selos, a política de apenas relançar livros da empresa encontra sentido nas centenas de opções que, dessa forma, estão à disposição.
Há certas diretrizes para que um título seja reeditado em formato de bolso, explica Silvia. “Quando as vendas de livros convencionais começam a decrescer, relança-se o mesmo título no mercado para revigorar o que ainda tem fôlego comercial. Há também efemérides e datas comemorativas que impulsionam novas edições. Em 2011, F. Scott Fitzgerald entrou em domínio público e publicamos pela Best Bolso as grandes obras do autor”.
A política de preços é competitiva, com pockets vendidos entre R$ 9,90 e R$ 19,90 (sempre abaixo das edições originais). Atuando desde 2007, a editora mantém o ritmo de 60 lançamentos anuais, o que tem garantido aproximadamente 15% do faturamento anual do grupo. A atuação na área digital também é complementar aos segmentos convencionais, deixando que o leitor decida qual formato prefere. “No caso de Agatha Christie, por exemplo, os 11 títulos estão disponíveis em formato pocket e e-book”, completa Sílvia.
Bom negócio “O preconceito em relação ao livro de bolso era forte no Brasil até o início da década de 1990. Hoje, não mais. Nossas edições são impressas em papel branco, o brasileiro rejeita o papel jornal. As capas são atraentes e os textos revisados. O leitor sente que está fazendo um bom negócio ao comprar um produto bom por preço melhor ainda. Costumo dizer que se trata de algo bom, bonito e barato. Os autores, em geral, gostam muito de ter sua obra nesse formato”, analisa a coordenadora editorial.
Classificando os livros de bolso como “leitura de entretenimento”, Silvia Leitão informa que seu público é formado predominantemente por jovens, estudantes e pessoas em férias (daí a importância do produto pequeno, fácil de carregar).
A Record também se interessa pelas áreas de motivação, espiritualidade e bem-estar. Ano passado, criou outra coleção de bolso, a Viva Livros, que tem autores como Deepak Chopra e Louise Hay.
EM CATÁLOGO
COMPANHIA DAS LETRAS Abaixo as verdades sagradas (Harold Bloom), O último suspiro do mouro (Salman Rushdie), Jean-Jacques Rousseau: a transparência e o obstáculo (Jean Starobinski), Tio Tungstênio (Oliver Sacks) e O fim da terra e do céu (Marcelo Gleiser).
L&PM
As melhores histórias da mitologia (A. S. Franchini e Carmen Seganfredo), O eterno marido (Dostoiévski), Convite para um homicídio (Agatha Christie), Um fracasso de Maigret (George Simenon) e Diários de Andy Warhol (editado por Pat Hacket).
PAZ E TERRA
Os livros de bolso da Coleção Leitura estão entre os menores do mercado (10,5cm x 13,5cm), com predomínio de clássicos como O príncipe (Maquiavel), A dama das camélias (Alexandre Dumas) e Antígona (Sófocles).
OBJETIVA
Desde 2009, a editora aposta em pockets pelo selo Ponto de Leitura, com títulos já lançados em formato tradicional por seus demais selos (Alfaguara, Fontanar e Suma de Letras). Era no tempo do rei (Ruy Castro), Minha fama de mau (Erasmo Carlos) e Uma esposa confiável (Robert Goolrick) são os mais novos.
RECORD
Com 300 pockets no catálogo (alguns esgotados) do selo Best Bolso, a editora também aposta em autores consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, Umberto Eco e Isabel Allende. Entre as novidades está Heróis comuns (Scott Turow).
SEXTANTE
A lista de pockets da editora não é extensa. Ela se dedica ao segmento de autoajuda, reunindo autores como Augusto Cury, Dalai Lama e João Paulo II.
ZAHAR
Também segmentada, a coleção de bolso da editora tem foco na informação, com títulos sobre ciência, filosofia, psicanálise, história, arte, literatura e ciências sociais. Vários são apresentados no formato ligeiro, como Newton e a gravidade em 90 minutos.
MEMÓRIA
Primeiros Passos
Criada em 1980 pelo fundador da editora Brasiliense, o intelectual Caio Prado Jr., esta coleção reúne dezenas de pequenos livros com a proposta de explicar temas de forma didática e aprofundada. O que é contracultura, O que é mais valia, O que é punk e O que é lesbianismo são alguns desses títulos. Entre os autores estão nomes de peso como Paulo Sandroni, Marilena Chauí, Dalmo Dallari, José Graziano da Silva e Roberto Muggiati. Novas edições vêm sendo lançadas, como O que é turismo (2010), de Alexandre Panosso Netto. Esses pequenos volumes – salvação de estudantes, curiosos e jornalistas, por exemplo – são a prova de que tamanho não é documento.
Eduardo Tristão Girão - EM Cultura
Andy Warhol tem destaque na coleção L&PM Pocket
Quem passa por postos de gasolina, farmácias, bancas de jornal e livrarias onde os títulos de bolso (pocket books) da editora gaúcha L&PM são vendidos talvez não desconfie que essa boa ideia nasceu num momento de crise. A empresa estava quase quebrada em fevereiro de 1997, quando a coleção, hoje eclética (literatura, culinária, quadrinhos etc), começou. Este mês, com Diários de Andy Warhol, ela chega ao milésimo volume nesse formato – e vendendo dois milhões de exemplares por ano. A concorrência já despertou para esse mercado.
“Atualmente, o livro de bolso é a alma da L&PM. Quando soube dessa ideia, um consultor nos disse que seria a salvação da editora. Quatro anos depois, conseguimos pagar todas as dívidas e resgatar o prestígio da empresa. Apostamos na diversidade: de quadrinhos a obras transgressoras, com o máximo possível de tendências. Queremos que seja a coleção dos leitores e também dos não leitores”, afirma Ivan Pinheiro Machado, um dos proprietários do grupo gaúcho.
Entre os feitos da L&PM estão edições (com novas traduções) de escritores como Balzac, Shakespeare, Maupassant, Gogol e Dostoiévski, a coleção completa de Sherlock Holmes e versões bilíngues de obras gregas antigas, com os textos em português ao lado de originais em grego clássico. Não há corte de conteúdo por causa do tamanho reduzido dos livros. Boa parte deles custa menos de R$ 20 (cada), mas há caixas que esbarram nos R$ 100, como a de cinco títulos do escritor alemão Bukowski.
Se ainda há quem pense que lançamentos sem grande importância compõem o catálogo da editora, títulos como os já citados e, mais recentemente, Diários de Andy Warhol estão aí para provar o contrário. A caixa dedicada ao americano tem dois volumes e traça um retrato cultural do século 20, no qual o artista registra seu cotidiano, impressões pessoais, fatos e eventos protagonizados por celebridades como ele, como o cantor Jim Morrison, o lutador Muhammad Ali e o estilista Calvin Klein.
O mercado de livros digitais (e-books) não compromete o de volumes de bolso, avalia Ivan. “As empresas de tecnologia forçam a barra para vender essa tese, como se o mundo tivesse acabado. Os caras querem fazer disso um Grenal, mas um não elimina o outro. São complementares”, ironiza ele. Sua editora investiu quase US$ 1 milhão na plataforma digital, mas ainda não teve retorno significativo. “É um mercado muito incipiente, representa menos de 0,3% do faturamento das editoras brasileiras. Isso é expressivo apenas nos Estados Unidos”, diz.
No momento, a prioridade da L&PM é o lançamento da série de bolso 64 páginas. Inicialmente, serão 12 volumes vendidos a R$ 5 e, como o nome sugere, todos com 64 páginas. Já estão previstas obras de Bukowski, Kerouac, Pessoa, Tchekov e Conan Doyle.
Arte Apostando nesse nicho de mercado desde 2005, a editora Companhia das Letras já colocou nas lojas 170 títulos pelo selo Companhia de Bolso. Em média, são 24 lançamentos por ano, sempre reedições de grandes sucessos da empresa. Em formato menor, elas são mais baratas. Os pockets passaram a representar 11% das vendas da editora no ano passado. O público-alvo, nesse caso, são os estudantes.
Além do preço, outro ponto que ajuda a tornar os títulos da Companhia das Letras mais atraentes é a preocupação com a arte das capas. Todas são reproduções de pinturas de Jeff Fisher com motivos diferentes, mas com a mesma identidade visual. A maioria dos títulos é vendida por cerca de R$ 20. Há obras de autores como Hannah Arendt, Caetano Veloso, Salman Rushdie, Milan Kundera e Oliver Sacks.
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
O escritor italiano Umberto Eco está preparando pessoalmente a edição de bolso brasileira de seu famoso romance O nome da rosa
Na disputa por adeptos dos pocket books, o selo Best Bolso, da Editora Record, é um dos que mantêm maior quantidade de títulos. Agora, vai chegar ao número 300 com o clássico O nome da rosa, de Umberto Eco, que está no prelo. O autor revisou o texto em novembro, “enxugando” termos em latim e deixando o romance mais acessível. “Acredito que vire um estudo de caso, pois o leitor mais dedicado vai querer comparar as edições e ver as diferenças”, afirma Silvia Leitão, coordenadora do selo.
A Record está bem abaixo da L&PM e seus 1.029 títulos, mas com boa vantagem sobre a terceira colocada (em termos quantitativos), a Companhia das Letras, com 170. Como o Grupo Editorial Record conta com outros 14 selos, a política de apenas relançar livros da empresa encontra sentido nas centenas de opções que, dessa forma, estão à disposição.
Há certas diretrizes para que um título seja reeditado em formato de bolso, explica Silvia. “Quando as vendas de livros convencionais começam a decrescer, relança-se o mesmo título no mercado para revigorar o que ainda tem fôlego comercial. Há também efemérides e datas comemorativas que impulsionam novas edições. Em 2011, F. Scott Fitzgerald entrou em domínio público e publicamos pela Best Bolso as grandes obras do autor”.
A política de preços é competitiva, com pockets vendidos entre R$ 9,90 e R$ 19,90 (sempre abaixo das edições originais). Atuando desde 2007, a editora mantém o ritmo de 60 lançamentos anuais, o que tem garantido aproximadamente 15% do faturamento anual do grupo. A atuação na área digital também é complementar aos segmentos convencionais, deixando que o leitor decida qual formato prefere. “No caso de Agatha Christie, por exemplo, os 11 títulos estão disponíveis em formato pocket e e-book”, completa Sílvia.
Bom negócio “O preconceito em relação ao livro de bolso era forte no Brasil até o início da década de 1990. Hoje, não mais. Nossas edições são impressas em papel branco, o brasileiro rejeita o papel jornal. As capas são atraentes e os textos revisados. O leitor sente que está fazendo um bom negócio ao comprar um produto bom por preço melhor ainda. Costumo dizer que se trata de algo bom, bonito e barato. Os autores, em geral, gostam muito de ter sua obra nesse formato”, analisa a coordenadora editorial.
Classificando os livros de bolso como “leitura de entretenimento”, Silvia Leitão informa que seu público é formado predominantemente por jovens, estudantes e pessoas em férias (daí a importância do produto pequeno, fácil de carregar).
A Record também se interessa pelas áreas de motivação, espiritualidade e bem-estar. Ano passado, criou outra coleção de bolso, a Viva Livros, que tem autores como Deepak Chopra e Louise Hay.
EM CATÁLOGO
COMPANHIA DAS LETRAS Abaixo as verdades sagradas (Harold Bloom), O último suspiro do mouro (Salman Rushdie), Jean-Jacques Rousseau: a transparência e o obstáculo (Jean Starobinski), Tio Tungstênio (Oliver Sacks) e O fim da terra e do céu (Marcelo Gleiser).
L&PM
As melhores histórias da mitologia (A. S. Franchini e Carmen Seganfredo), O eterno marido (Dostoiévski), Convite para um homicídio (Agatha Christie), Um fracasso de Maigret (George Simenon) e Diários de Andy Warhol (editado por Pat Hacket).
PAZ E TERRA
Os livros de bolso da Coleção Leitura estão entre os menores do mercado (10,5cm x 13,5cm), com predomínio de clássicos como O príncipe (Maquiavel), A dama das camélias (Alexandre Dumas) e Antígona (Sófocles).
OBJETIVA
Desde 2009, a editora aposta em pockets pelo selo Ponto de Leitura, com títulos já lançados em formato tradicional por seus demais selos (Alfaguara, Fontanar e Suma de Letras). Era no tempo do rei (Ruy Castro), Minha fama de mau (Erasmo Carlos) e Uma esposa confiável (Robert Goolrick) são os mais novos.
RECORD
Com 300 pockets no catálogo (alguns esgotados) do selo Best Bolso, a editora também aposta em autores consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, Umberto Eco e Isabel Allende. Entre as novidades está Heróis comuns (Scott Turow).
SEXTANTE
A lista de pockets da editora não é extensa. Ela se dedica ao segmento de autoajuda, reunindo autores como Augusto Cury, Dalai Lama e João Paulo II.
ZAHAR
Também segmentada, a coleção de bolso da editora tem foco na informação, com títulos sobre ciência, filosofia, psicanálise, história, arte, literatura e ciências sociais. Vários são apresentados no formato ligeiro, como Newton e a gravidade em 90 minutos.
MEMÓRIA
Primeiros Passos
Criada em 1980 pelo fundador da editora Brasiliense, o intelectual Caio Prado Jr., esta coleção reúne dezenas de pequenos livros com a proposta de explicar temas de forma didática e aprofundada. O que é contracultura, O que é mais valia, O que é punk e O que é lesbianismo são alguns desses títulos. Entre os autores estão nomes de peso como Paulo Sandroni, Marilena Chauí, Dalmo Dallari, José Graziano da Silva e Roberto Muggiati. Novas edições vêm sendo lançadas, como O que é turismo (2010), de Alexandre Panosso Netto. Esses pequenos volumes – salvação de estudantes, curiosos e jornalistas, por exemplo – são a prova de que tamanho não é documento.
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