Enquanto a segurança nos estádios, a cargo da Fifa, apresenta problemas, atuação conjunta de policiais e soldados nas proximidades das arenas e no acompanhamento de delegações recebe elogios de especialistas.
Chilenos que invadiram o estádio do Maracanã tiveram que abandonar o país em 72 horas
Era de se esperar que as rigorosas normas de segurança da Fifa fossem ser colocadas em prática no Brasil sem grandes empecilhos. Mas, depois de a bola rolar em mais da metade das partidas, a Copa no Brasil evidenciou falhas surpreendentes e que não foram vistas em outros Mundiais. A vulnerabilidade da segurança "padrão Fifa" foi registrada não só em uma arena, mas em quase todos os estádios.
Entre os problemas verificados estão duas invasões de torcedores – chilenos e argentinos – no Maracanã; a falta de 30% do efetivo de vigilantes contratados para trabalhar no confronto entre Suíça e Equador, em Brasília; a entrada de torcedores sem ingressos e até mesmo com objetos proibidos, como rojões, em diversos estádios; e vários casos de furtos dentro dos estádios ou nas áreas reservadas pela Fifa.
"O contingente de seguranças privados contratados pela Fifa tem se mostrado muito aquém do necessário, o que precipita a ocorrência de pequenos incidentes e resulta em tumulto, aglomerações e desordem na parte interna das praças esportivas", avalia José Eduardo Coelho Branco Junqueira Ferraz, professor de Direito do Ibmec/RJ.
"Já no lado de fora dos estádios, a realidade é outra", comenta. Para o especialista, o trabalho de combate e prevenção de crimes fora dos estádios, uma atuação conjunta das diversas forças de segurança pública, têm se mostrado eficaz.
Nos casos registrados dentro das arenas, diz Junqueira Ferraz, não há como retirar a responsabilidade da Fifa, seja pelo cálculo errado no número de seguranças a serem utilizados, seja pela má escolha das empresas contratadas – algumas têm se mostrado despreparadas para a missão que lhes foi confiada pela organização máxima do futebol.
Fifa faz balanço positivo
Operação do governo para segurança fora dos estádios recebe elogios de especialistas
Mesmo com os problemas já registrados, a Fifa, por meio de seu Comitê Organizador Local (COL), diz que o balanço das operações de segurança no Mundial é positivo. De acordo com a organização, quase dois milhões de torcedores já passaram pelas arenas da Copa, chegando aos estádios e saindo deles em segurança.
O COL afirma, ainda, que 900 agentes de segurança privada atuam, em média, por jogo, e a força de segurança pública, também presente dentro dos estádios, é acionada em caso de necessidade. "O esquema de segurança dos estádios é avaliado jogo a jogo."
"Após o incidente no centro de imprensa antes do jogo Espanha e Chile, o controle de acesso nas cercanias do estádio foi reforçado pela Polícia Militar, e nenhum problema foi registrado no jogo seguinte realizado no Maracanã", destaca o COL, por meio de e-mail, em resposta a consulta da DW.
Na invasão ao Maracanã, pelo menos 87 torcedores chilenos foram detidos e tiveram 72 horas para deixar o país por decisão do Ministério da Justiça. Além disso, a Federação de Futebol do Chile foi multada pela Fifa por conta do incidente. Caso haja reincidência, os chilenos poderão sofrer punições ainda mais graves. O valor da sanção não foi divulgado.
O responsável pela segurança da Universidade Mackenzie, coronel Orlando Taveiros Costa Júnior, afirma que a estratégia utilizada até agora pela Fifa foi adequada, mas mal aplicada em casos pontuais, como na invasão dos torcedores chilenos e argentinos. "O fator fiscalização deve ser constante para que novos casos não aconteçam."
Especialistas aprovam segurança externa
No lado de fora dos estádios, o esquema de segurança organizado pelo governo brasileiro recebe elogio dos especialistas por conta do trabalho preventivo e da boa coordenação entre policiais e soldados do Exército. Até mesmo os protestos – que no ano passado várias vezes fugiram do controle da polícia – têm este ano poucos registros de abusos por parte das forças de segurança pública.
"No período da Copa, a única situação que fugiu ao controle aconteceu em São Paulo, quando uma manifestação chamada pelo Movimento Passe Livre no dia 19 de junho terminou em quebra-quebra de agências bancárias e revendas de automóveis, mas não afetou especificamente o Mundial", comenta o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, da PUC-RS.
Ele diz que, de forma geral, a segurança na Copa tem se mostrado bastante eficaz, o que se deve não só à organização do sistema de segurança pública, mas também à própria adesão do povo brasileiro ao evento. Para Azevedo, as manifestações se reduziram, entre outros motivos, pelo interesse da população em garantir uma boa imagem do país e recepcionar bem os turistas estrangeiros.
Mas, para Antônio Flávio Testa, especialista em segurança da Universidade de Brasília (UnB), a situação pode mudar muito rápido. Para ele, enquanto a população estiver concentrada no resultado esperado, que é a vitória da seleção brasileira, será difícil desviar a atenção para os protestos semelhantes aos da Copa das Confederações, no ano passado.
"É provável que esses movimentos voltem a acontecer durante a campanha pré-eleitoral, que começa um pouco depois da Copa", diz Testa.
DW.DE
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