por André Jorge de Oliveira


Vigilância governamental está entre as maiores preocupações dos analistas (Foto: Eric Constantineau/flickr/creative commons)

"Governos vão se tornar mais hábeis no bloqueio a sites indesejáveis"
Paul Saffo, professor de Stanford

Em comemoração ao aniversário de 25 anos da web, o Pew Research Center publicou uma série de pesquisas e relatórios que estudam, em profundidade, as principais tendências da internet na atualidade – a série leva o nome de Future of the Internet (Futuro da Internet). No mais recente dos documentos, foram entrevistados cerca de 1400 analistas de tecnologia, que responderam perguntas e fizeram considerações específicas sobre possíveis riscos à rede em um futuro próximo.

Intitulado Net Threats (Ameaças à rede), o relatório explora as perspectivas para o ano de 2025. Apesar de acreditarem que a forma como as pessoas obtém e compartilham conteúdo online não mudará substancialmente, e que a inovação tecnológica continuará impulsionando a conectividade, os analistas identificaram quatro tendências preocupantes que poderiam remodelar (para pior) a internet como a conhecemos. Confira:

1 – Ações estatais para manter o controle político e a segurança levarão a crescentes bloqueios e filtragens de conteúdo

Regimes que enfrentam grandes protestos tendem a regular e vigiar

A tendência é global e foi alertada por grande parte dos experts consultados: regimes que enfrentam grandes protestos tendem a regular a internet e vigiar os usuários. A Primavera Árabe talvez seja o melhor exemplo do fenômeno, onde para reprimir a mobilização online que resultava em ondas de manifestações populares, países como Egito, Paquistão e Turquia bloquearam o acesso à rede. Na China, existe um programa nacional de censura, chamado popularmente de Great Firewall of China, em alusão à grande muralha do país.

Não são apenas governos antidemocráticos que aderem a táticas repressivas, como bem mostrou Edward Snowden com suas denúncias à vigilância massiva da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA). Neste caso, o argumento é a preservação dos interesses nacionais e a proteção contra atividades criminosas. Para Paul Saffo, professor da Universidade Stanford, os “governos vão se tornar mais hábeis no bloqueio ao acesso de sites indesejáveis”.

2 – A confiança vai evaporar à luz de novas revelações de vigilância governamental e corporativa

Vigilância online pode limitar acesso ao conhecimento

Novamente, o problema da vigilância vem à tona, o que sublinha a gravidade da questão. Segundo os especialistas, se não receber a devida atenção, o monitoramento da atividade online vai limitar o compartilhamento e o acesso ao conhecimento na web. Em contrapartida, a busca por uma criptografia eficiente dos dados (técnicas que protegem a informação contra qualquer tipo de espionagem) deve ganhar cada vez mais evidência.

“Devido a questões de governança (e às implicações internacionais das revelações sobre a NSA), o compartilhamento de dados vai ficar geograficamente fragmentado de maneiras desafiadoras”, prevê Danah Boyd, pesquisadora da Microsoft.

3 – Pressões comerciais afetarão desde a arquitetura da web até o fluxo de informações

Monetização pode prejudicar recebimento de conteúdo

Um número significativo de analistas consultados antecipou que a crescente monetização das atividades online deve prejudicar a forma como as pessoas recebem conteúdo no futuro. Entre as principais preocupações, estão o tratamento ao princípio da neutralidade da rede, as restrições de tráfego proporcionadas pelas leis de copyright e de patentes, além da tendência generalizada entre governos e corporações de priorizar o lucro a curto prazo, comprometendo o futuro digital.

“A comercialização da experiência pode vir a limitar a expectativa que muitas pessoas têm sobre os propósitos da internet”, aponta David Clark, pesquisador sênior do MIT.

4 – Esforços para reverter o excesso de informação podem, na verdade, conter o compartilhamento de conteúdo

Filtragem de dados pode favorecer determinados interesses

Outra tendência que vem crescendo está relacionada com a busca por filtrar a infinita quantidade de dados disponíveis na web de acordo com os próprios interesses. Empresas já têm desenvolvido algoritmos que desenvolvem esta função, e uma emergente profissão de “personal trainer da informação” começa a surgir. Apesar de aparentemente facilitar e otimizar o acesso a conteúdos mais específicos, a maior preocupação dos entrevistados é a possibilidade desses conteúdos serem mediados de acordo com determinados interesses, como uma espécie de publicidade.

“Enquanto a análise de megadados promete nos ajudar, existem muitas limitações e riscos (incluindo incentivos discrepantes) relacionados a estas ferramentas”, diz Joel Halpern, engenheiro da empresa Ericsson.

Galileu



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