As autoridades departamentais da Creuse, na França, querem que o governo aprove um projeto de cultivo de maconha para fins terapêuticos na região, que fica no centro do país. A ideia é uma resposta ao desafio proposto pelo presidente Emmanuel Macron no ano passado: inovar para dar um novo fôlego a um dos departamentos mais pobres da França.



As autoridades do departamento da Creuse acreditam que o cultivo de cannabis pode acabar com o desemprego
REUTERS/Andres Stapff

O projeto, que poderia trazer milhões de euros à região, se insere num contexto de maior inserção do debate em torno do uso medicinal de cannabis na França, levantado pela ministra da Saúde, Agnès Buzyn. Uma dezena de países europeus já autorizaram a erva em tratamentos, entre eles a Espanha, a Suíça e a Grécia.




Emmanuel Macron instigou os políticos do departamento no último outono com o “Plano da Creuse”: ele pediu para que eles propusessem soluções inovantes para ajudar a região, que perdeu 80.000 habitantes desde os anos 1930.

O enfermeiro Eric Coréia, presidente socialista do Grand Guéret, como é chamada a prefeitura do departamento, é o “cabeça” da proposta. “Temos hoje agricultores que trabalham até 70 horas por semana e que mal ganham o salário mínimo. Eles não aguentam mais. Se amanhã eles puderem cultivar um pouco de erva terapêutica que trará diversificação e um dinheiro a mais, eles estão prontos”, afirma.

Os milhões de dólares e os 18.000 empregos criados no Colorado, que legalizou recentemente o uso de cannabis, alimentam os sonhos de Eric Coréia. “10% desse dinheiro já seria suficiente para a Creuse!”.



Oportunidade de revolução terapêutica e profissional


Olivier Bertrand, médico e co-fundador da NormL, organização que milita em prol do uso medicinal da maconha, insiste no “consenso internacional” sobre os efeitos calmantes da planta para problemas ligados ao câncer, à AIDS, aos tratamentos de quimioterapia e às alterações de humor. “Entretanto, na França, o paciente que tenta encontrar cannabis é exposto a um triplo risco: sanitário, ao procurar a substância no mercado negro, securitário, pois faz face ao circuito ilegal e judiciário, pois está sob o risco de sofrer penas”, explica.

Para o jurista da NormL, Béchir Bouderbala, pelo menos 300.000 pacientes franceses poderiam se beneficiar de uma filial terapêutica na Creuse. “O que exigimos é o direito de plantio da planta para explorar as partes ricas em molécula terapêutica e transformá-la em medicamentos, com a criação de uma empresa pública de controle e profissionais da saúde”, afirma Bouderbala. “Já no primeiro ano poderíamos criar de 500 a 1000 empregos diretos”.

“Temos o espaço e o terreno necessário, além da experiência, já que a Creuse, até o século XIX, era um importante território de cultivo de cannabis. Seria uma diversificação e uma inovação para nossos empregos que hoje estão saturados”, reitera Bouderbala. A próxima etapa é um encontro com Macron para apresentar a proposta.

RFI


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