O que será de um país cujo chefe de Estado é movido pelo ódio? A resposta é simples: conflitos, perseguições, divisões, destruição. Foi assim na Alemanha, em 1932; no Brasil, em 1964; não será diferente no Brasil de 2019


A indignação é uma poderosa força de transformação. É impossível, em sã consciência, olhar para esse mundo e conformar-se. Nem mesmo os calos da alma, forjados pela visão cotidiana de determinadas atrocidades, podem apagar a indignação. Afinal, ninguém que guarde um mínimo de humanidade pode olhar para moradores de rua sem sentir-se indignado; pensar em crianças com fome, sem sentir-se indignado; ver as imagens do assassinato de um rio, por parte de uma empresa pretensamente útil ao desenvolvimento nacional, sem sentir-se indignado; saber que a corrupção desvia valores imensos de dinheiro público em um país tão carente quanto o nosso, sem sentir-se indignado. A indignação em relação à nossa sociedade deve constituir-nos como seres políticos, como seres capazes de lutar por mudanças, como seres humanos insatisfeitos com tanta desumanidade.

Mas não nos confundamos: indignação não significa ódio. A indignação impulsiona transformações necessárias. O ódio, não. São sentimentos muito distintos e com consequências muito diversas.

Tendo isso em mente, preocupa-me perceber que uma parte da sociedade brasileira vem hoje apostando suas fichas nas possibilidades de salvação da pátria por parte de um candidato que é a síntese máxima do ódio. Achando feio o que não é espelho, o Narciso de nossos tempos odeia todas as mulheres, declarando que elas merecem ganhar menos do que os homens. Odeia todos os negros, dizendo que foram eles que se autoescravizaram e são os responsáveis por suas próprias mazelas. Odeia os homossexuais. Odeia todos aqueles que assumem posições políticas diferentes às suas, dizendo em alto e bom tom que é a favor da tortura e tecendo louvores à ditadura militar e ao General Ustra, um dos representantes máximos dessa forma de governo.

Tenho ouvido de alguns a acusação de que estou exagerando em minhas percepções; de que estou selecionando menções infelizes do sujeito em questão. Ora, se alguém aqui acha que há algo que o move que não seja o ódio, por favor me mostre.

Obviamente, não caio aqui na conclusão idílica de que será o amor puro, transcendental, sacrossanto, o responsável pela nossa salvação. Não é disso que se trata. Mas justamente saindo do campo etéreo das emoções e analisando o terreno concreto das consequências de ações com distintas motivações, é muito fácil perceber as implicações. Até mesmo para as coisas mais triviais, de nosso dia a dia, aquilo que é feito com ódio termina mal. Cozinhar com ódio, dirigir com ódio, educar crianças com ódio, gerir uma empresa com ódio… nada disso tem a mínima chance de dar certo.

Assim, a pergunta que faço é: o que será de um país cujo chefe de Estado é movido pelo ódio? E a resposta é muito simples: conflitos, perseguições, divisões, destruição. A história nos ensina. Foi assim na Alemanha, em 1932; foi assim no Brasil, em 1964; não será diferente no Brasil de 2019.

Aliás, antes mesmo do fim das eleições, o ódio do candidato já tem se refletido em violência política por todos os cantos do país (inclusive contra ele próprio…).

Meu apelo, portanto, é: unamo-nos na indignação contra os profundos problemas da nossa sociedade. Cotidianamente, alimentemo-nos dessa indignação. Que o governo eleito seja sim pautado por essa indignação em relação às profundas contradições e aberrações de nosso país. Mas não nos deixemos conduzir por um sujeito que exala o ódio; que terá no ódio a sua motivação. O ódio como força motriz de uma nação não pode resultar em nada além de tragédias.

Crédito da foto inicial: Agência Brasil


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