Foto: Ricardo Stuckert

Do falso segue-se qualquer coisa. Eis a bem conhecida “Lex Clavius” da lógica silogística. Quando qualquer das premissas é falsa, a conclusão poderá ser tanto falsa, quanto verdadeira. Cria-se, assim, o raciocínio indecisível. A caraminhola sem sentido, ainda que por raciocínio legítimo. Por exemplo, “todo chinês fala francês e Macron é chinês, logo, Macron fala francês.” Aqui, claramente temos duas premissas falsas levando a uma conclusão verdadeira. Mas em “todo francês fala chinês e Macron é francês, logo, Macron fala chinês” já temos uma premissa falsa e outra verdadeira levando a uma conclusão falsa.

Com premissas falsas, o governo Bolsonaro deixa o país à deriva. Podem-se, até, por vez ou outra, extrair conclusões corretas na ação política, mas elas não desfazem os vícios dos fundamentos sobre as quais são erigidas. Tome-se, por exemplo, a decisão de negar ação militar contra a Venezuela, como seria ao gosto dos idiotas trumpistas que governam os EUA. Mesmo correta, trata-se, muito mais, de postura realista diante das debilidades de nossas forças armadas, do que de uma construção estratégica sólida. Não tenhamos dúvida de que, se tivessem condições de armamento e preparo, nossas fardas se meteriam na aventura da agressão. As premissas falsas são precisamente a avaliação da “ilegitimidade” do governo eleito de Maduro e a de que atender o interesse norte-americano na região beneficiaria o Brasil. Essas parvoíces continuam intactas, independentemente de a política externa ser conduzida pelo general Mourão ou pelo Ernesto-Terraplanista.

O estoque de besteirol do governo Bolsonaro está longe de se esgotar e não faremos bem, as brasileiras e os brasileiros com discernimento, se, a cada nesga de aparente racionalidade no meio do turbilhão das caraminholas fascistas, nos iludirmos com a possibilidade de acerto desse ou daquele ator bolsominion ou filobolsonarista. Achar que uma substituição de Bolsonaro por Mourão melhora as coisas, por este exibir um discurso menos sopinha-de-letras que o chefe e seu entourage, é uma quimera perigosa. As premissas da ação do general são as mesmas do capitão precocemente aposentado. São falsas e artificiais. Ambos foram eleitos pelo mesmo estratagema do ódio à política e da mentira deslavada. O general, tal qual o marechal Hindenburg, serviu para legitimar o Jair Messias, nosso cabo Adolf Hitler.

Posto isso, cabe-nos, sem ilusões e “wishfulthinkings”, traçar o caminho pelo qual sairemos do imbróglio em que a democracia se meteu, ao ceder às forças reacionárias do patrimonialismo multicentenário, para garantir a governabilidade. Nossas premissas têm que ser verdadeiras. Sua construção passa pela cesura necessária no tecido político para dissecar não só as alianças com o atraso, mas, também, o ódio político.

As demonstrações de solidariedade na dor com o Presidente Lula são um bom indicativo para a saída da crise. Desqualificaram-se os atores que apostaram em novas injeções de ódio. Lula foi ao velório de seu neto e saiu maior. Foi soberano. Os apoios sinceros que recebeu colocaram a nu a campanha judicial mentirosa que o encarcerou. A tranquilidade das manifestações de afeto ao seu redor mostraram civilidade e respeito à legalidade democrática, diferentemente do teatro armado pelo ministério de Sérgio Moro, que escalou um ativo militante bolsonarista para fazer a escolta do Presidente Lula. Perdeu o governo fascista e ficou ridículo, pois, em momento nenhum, se justificou o tamanho do aparato repressivo montado em torno do pacífico líder conduzido num momento tão trágico.

É chegada a hora de nos mobilizarmos pela soltura de Lula, o único personagem nacional com capacidade de fazer frente ao besteirol institucionalizado pela mentira e pelo ódio. Temos que mostrar, através de ação concreta junto ao STF, com a liderança da OAB, o apoio de juristas de peso, no Brasil todo, ao desfazimento da injustiça que vitimou Lula. Restabelecendo-se a verdade sobre a mesquinhez do golpe judiciário do então juizinho e hoje ministrinho Sérgio Moro, decompõem-se as premissas falsas que colocaram o bolsonarismo no poder e nos fará ver luz no fim do túnel para recolocar a democratização do país no seu caminho certo.

Eugênio Aragão
No DCM


Contexto Livre

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