Por Joênia Wapichana.

O século XXI será feminino. Por enquanto, ainda é um século onde o patriarcalismo, a apartação e a desigualdade imperam. É um século de múltiplas crises: social, econômica, política, ética, ambiental, cultural, de identidade, de pertencimento, de escolha e de falta de escolhas. Mas o tamanho do problema, a soma das interações das crises múltiplas que assolam o planeta, não pode nos paralisar.



As autoras do manifesto Feminismo para os 99% consideram que o capitalismo está na base de todas essas crises. E para solucionar uma crise múltipla são necessárias múltiplas formas de enfrentamentos, próprias para cada local, cada cultura, cada situação, já que cada avanço é uma vitória. A chave é, no entanto, a coordenação dos esforços, a articulação das lutas, para que vitórias não se anulem.

Nem a direita nem as esquerdas respondem ao desafio das diversidades, sejam elas sociais ou naturais – sexuais, culturais, étnicas, de biomas, de aspirações ou visões de mundo. Precisamos ir além das dicotomias, de um mundo dividido em apenas duas opções.

As relações de poder precisam ser revistas, subvertidas, transformadas – sejam elas entre homens e mulheres, entre seres humanos de culturas e origens diferentes, entre seres humanos e o planeta, entre os donos do capital e dos meios de produção e os que entram com sua força de trabalho e de reprodução social, ou que trazem à humanidade cultura e criatividade. Assim, é fundamental um olhar específico de inclusão dos segmentos invisíveis nos espaços de poder – um olhar que abarque e seja abarcado pelos povos indígenas. O que queremos é um convívio sem dominante e nem dominado, com complementação e nunca exploração, cultivando relações colaborativas, coletivas, reestruturando a noção de poder e direcionando nosso pensamento para a igualdade – política, econômica e social.

É na busca dessa transformação que se situa o Manifesto do feminismo para os 99%, um grito feminista libertário, anticapitalista, complexo e em construção.

Para criarmos um presente e um futuro livres e acolhedores para todos os seres vivos, o século XXI deve ser feminino e feminista, disso não tenho dúvida!





Feminismo para os 99%: um manifesto

Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser, organizadoras da “Greve Internacional das Mulheres (Dia sem mulher)”, junto com Angela Davis e outras militantes feministas do mundo todo, lançam este potente manifesto que assinala a urgência de um feminismo anticapitalista, antirracista, antiLGBTfóbico e ecológico. Com edição de Isabella Marcatti, e tradução de Heci Regina Candiani, a versão brasileira da obra vem acrescida de um explosivo prefácio assinado por Talíria Petrone e um belíssimo texto de orelha escrito por Joenia Wapichana. A capa é de Hallina Beltrão.

Onde encontrar online?

“Vivemos nos últimos anos uma nova primavera feminista, que exige que a gente se debruce sobre os rumos da nossa luta. Com quais mulheres os feminismos diversos dialogam? Que mulheres estão convencidas sobre a importância do feminismo? De que mulheres tratam os feminismos? Quais mulheres seguem ainda guetificadas e marginalizadas nos feminismos? O feminismo das 99% não prescinde desses questionamentos, justamente porque reconhece sua urgência.” – Talíria Petrone

 

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Joênia Wapichana é deputada federal por Roraima, eleita em 2018. Pertence ao povo indígena Wapichana, comunidade indígena Truarú, do Estado de Roraima. Tem mestrado pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, que cursou com uma bolsa da fundação Fullbright. Formada em direito pela Universidade Federal de Roraima, em 1997, é considerada a primeira mulher indígena graduada em direito a exercer a profissão em favor dos povos indígenas. Coordenou o departamento jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR) de 1999 a 2018. Em 2018 recebeu o Prêmio das Nações Unidas de Direitos Humanos.


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