Bolsonaro bate continência à bandeira dos Estados Unidos durante evento de sua campanha nos Estados Unidos, em 2018. Reprodução de vídeo.

A importância do Brasil para Washington não depende da retórica pró-Trump de Bolsonaro, mas de benefícios geopolíticos tangíveis que o Brasil pode oferecer. Trump quer duas coisas do Brasil: 1. Ajuda para derrubar Maduro; 2. Ajuda para limitar a influência chinesa na América Latina. Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, no tweeter
“Os EUA continuam a preferir a ampliação a um ritmo controlado, que leve em conta a necessidade de pressionar pelo planejamento da governança e da sucessão”, diz o texto de uma carta enviada pelos Estados Unidos à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Na carta, Washington apoia a entrada de apenas dois paises: Argentina e Romênia.

O texto foi lido por repórteres da Bloomberg, que anunciaram em letras garrafais: Estados Unidos rejeitam proposta do Brasil para entrar na OCDE depois de apoiá-la publicamente.

O Brasil fez o pedido formalmente em maio de 2017, durante o governo do usurpador Michel Temer.

A OCDE informou à Bloomberg que está considerando o pedido de seis países.

Os Estados Unidos formalizaram apoio logo ao vizinho brasileiro.

Quando Jair Bolsonaro e Paulo Guedes foram aos Estados Unidos implorar a Donald Trump que apoiasse a pretensão do Brasil, o colunista Marcelo Zero destacou aqui no Viomundo: Trump condicionou o apoio dos EUA à pretensão brasileira à renúncia do Brasil em continuar a receber tratamento especial e diferenciado previsto para países em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em resumo, todas as concessões bajulatórias que Jair Bolsonaro fez a seu ídolo do Norte não foram suficientes.

Isso, por um único motivo: Donald Trump negocia de olho no interesse dos Estados Unidos.

Especificamente, dos agricultores norte-americanos que competem com os brasileiros — por exemplo, pelos mercados da China.

Para além da Casa Branca, existe uma burocracia estatal nos Estados Unidos que independe do ciclo eleitoral e zela pelos interesses de longo prazo do País.

Mesmo Trump não pode rasgar dinheiro da elite econômica dos Estados Unidos.

Do ponto-de-vista das eleições de 2020, neste momento o presidente norte-americano está de olho no Colégio Eleitoral.

Ele precisa, por exemplo, manter sua base rural em estados que são grandes produtores de carne, milho e soja, que competem com o Brasil no abastecimento dos mercados árabe e chinês.

Diante da adulação de Bolsonaro, Trump pode simplesmente ter entendido que há mais espaço, muito mais espaço, para arrancar concessões de seu adorador.

Não se trata apenas de repelir a presença chinesa na América Latina, mas de disputar o mercado da própria China com os paises da América Latina.

Do ponto-de-vista diplomático, a escolha da Argentina faz todo sentido.

No curto prazo, uma tentativa desesperada de ajudar Maurício Macri, que será degolado brevemente faça o que Trump fizer.

No longo prazo, os Estados Unidos sempre jogaram um jogo de se oferecer como “ponto de equilíbrio” ao poder econômico do Brasil na América do Sul.

A grande sabedoria do ex-presidente Lula e principalmente de seu ex-chanceler, Celso Amorim, foi de costurar um bloco contra-hegemônico que chegou a incomodar os Estados Unidos na América Central.

Com o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff e a prisão de Lula, a arquitetura de Celso Amorim foi completamente demolida.

Michel Temer deu uma guinada em direção à política externa sabuja de Fernando Henrique Cardoso, escolhendo como chanceler o senador Aloysio Nunes Ferreira.

Bolsonaro deu vários passos além.

Colocou no Itamaraty um chanceler medieval, que trata de demolir um centro de saber ímpar do Brasil.

O Itamaraty é reconhecido no mundo como um dos formuladores do multilateralismo, que seria capaz de amarrar as grandes potências nucleares em compromissos internacionais — dando ao Brasil, assim, um poder muito superior ao de sua força militar.

É o tal do soft power.

Esta arquitetura pós Segunda Guerra Mundial está entrando em colapso, graças ao fracasso econômico da globalização, do qual a crise de 2008 foi a face mais visível até agora.

Ao escolher Bolsonaro, a elite brasileira ficou no meio do caminho.

Sem Mercosul, mas também sem OCDE — que tem um valor muito mais simbólico.

Quase sem indústria, mas crescentemente correndo risco na disputa pelos mercados do agronegócio.

Sem Odebrecht e Estaleiro Atlântico Sul — e, portanto, sem capacidade de vender serviços no mundo.

Sem Vale, Embraer, Alcântara e Petrobrás — e, portanto, sem capacidade de fazer o preço internacional de matérias primas ou produzir Ciência.

Bolsonaro é o Brasil em um beco sem saída.


VIOMUNDO

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