Olha, eu sou um capitão do Exército, ele é um pacifista, tá certo? Mas, obviamente, a gente reconhece o seu passado sempre pregando a paz, a harmonia, a liberdade. Jair Bolsonaro, ao visitar memorial de Mahatma Gandhi, na Índia
Da Redação
A polêmica visita do presidente Jair Bolsonaro ao memorial do líder pacifista Mahatma Gandhi durou menos de dez minutos.
O grande “segredo” da viagem do líder brasileiro à Índia, nem tão segredo assim, é que longe dos holofotes, segundo a Época Negócios, Brasil e Índia fecham um acordo armamentista:
Oficiais do Ministério da Defesa, junto a CEOs da Altave, Atech, Avibras, Companhia Brasileira de Cartuchos, Condor, Embraer, Iveco, Macjee, Omnisys e Taurus, estão na capital Nova Déli junto à comitiva presidencial para participarem de um seminário conjunto de indústrias de Defesa dos dois países.
O objetivo dos executivos brasileiros que viajaram ao país sul-asiático — entre os quais Salésio Nuhs, presidente da Taurus — é ampliar exportações e conseguir licenças do governo do primeiro-ministro Narendra Modi para a produção de armas e equipamentos de segurança em território indiano.
A presença do presidente brasileiro em solo indiano coincide com a publicação de capa da influente revista britânica Economist segundo a qual o governo de Modi é uma ameaça à democracia da Índia.
A revista refere-se à Lei de Cidadania, que ameaça a cidadania de 200 milhões de muçulmanos e outras minorias. O governo de Modi estaria preparado para colocar os não cidadãos em campos, alertou a revista, e a ilustração da reportagem remete a campos de concentração.
Bolsonaro minimizou a publicação, dizendo que ele mesmo é mencionado como ameaça à democracia, embora não seja.
A bisneta de Gandhi, Supriya, deu uma entrevista de grande repercussão ao Brasil de Fato em que falou da identidade entre os projetos de extrema-direita de Jair Bolsonaro e do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Modi, “alma gêmea” de Bolsonaro, elegeu-se pregando o nacionalismo hindu e adotou uma Lei de Cidadania cujo objetivo, dizem os opositores, é negar cidadania à minoria muçulmana de 200 milhões de pessoas.
Trecho da entrevista:
Brasil de Fato: Mahatma Gandhi deixou como legado uma série de críticas e propostas sobre a sociedade indiana na primeira metade do século 20. Qual delas permanece relevante para a Índia hoje?
Supriya Gandhi: Eu acho que todas elas são [relevantes]. De certa maneira, Gandhi foi capaz de enxergar o futuro. Gandhi nos lembra as conexões entre democracia, busca da verdade, pluralismo e administração ambiental.
Hoje, líderes populistas e seus partidários prosperam em um mundo pós-verdade, reprimem a democracia e impulsionam a humanidade ao ecocídio.
A ideia de não-violência continua sendo levada adiante pelos trabalhadores da Índia ou é tratada como algo desatualizado, sete décadas após a independência?
A ideia de não-violência brilha através dos protestos pacíficos que estão surgindo em todo o país contra a emenda à Lei de Cidadania, que é discriminatória.
O tempo dirá se esses protestos continuarão e se expandirão, mas eles já estão criando solidariedades entre classe, casta e religião.
O Estado está reprimindo esses protestos com medidas repressivas.
Considerando as reflexões de Gandhi sobre o hinduísmo, não é uma contradição que grupos religiosos fundamentalistas sejam acusados de cometer esses atos de perseguição e repressão contra os muçulmanos hoje? É possível supor que, se ele estivesse vivo, Gandhi estaria condenando esses atos e a posição do BJP nesses conflitos?
Não é uma contradição, pois esses atos de violência são praticados por quem admira a ideologia do assassino de Gandhi. [Nota do Viomundo: O assassino de Gandhi pertencia a um grupo paramilitar ultranacionalista de direita, o Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), de tendências nazistas]
Essas práticas constantes de violência não são uma exceção. Elas fazem parte de uma estratégia multifacetada para mostrar às minorias seu lugar e garantir conflitos sociais perpétuos.
O legado de Gandhi está em jogo. No Brasil, por exemplo, o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro fará uma homenagem no memorial de Gandhi em sua visita a Nova Delhi. Bolsonaro atua como defensor da indústria de armas e faz um discurso violento contra minorias. Como você vê esse tipo de homenagem e como analisa a apropriação do legado de Gandhi por políticos considerados autoritários?
Bolsonaro tem muito em comum com a liderança que está no poder na Índia, além de seu completo desrespeito às normas democráticas e à urgência da crise ambiental. Não é de surpreender que ele se junte ao governo local na apropriação de Gandhi e na distorção das ideias e do legado de Gandhi.
O governo e os grupos aliados tentam purgar os fatos sobre o assassinato de Gandhi. Eles querem um Gandhi despido de seu poder e força radical.
Da Redação
A polêmica visita do presidente Jair Bolsonaro ao memorial do líder pacifista Mahatma Gandhi durou menos de dez minutos.
O grande “segredo” da viagem do líder brasileiro à Índia, nem tão segredo assim, é que longe dos holofotes, segundo a Época Negócios, Brasil e Índia fecham um acordo armamentista:
Oficiais do Ministério da Defesa, junto a CEOs da Altave, Atech, Avibras, Companhia Brasileira de Cartuchos, Condor, Embraer, Iveco, Macjee, Omnisys e Taurus, estão na capital Nova Déli junto à comitiva presidencial para participarem de um seminário conjunto de indústrias de Defesa dos dois países.
O objetivo dos executivos brasileiros que viajaram ao país sul-asiático — entre os quais Salésio Nuhs, presidente da Taurus — é ampliar exportações e conseguir licenças do governo do primeiro-ministro Narendra Modi para a produção de armas e equipamentos de segurança em território indiano.
Ilustração da revista Economist para a reportagem sobre a Índia de Narendra Modi
A presença do presidente brasileiro em solo indiano coincide com a publicação de capa da influente revista britânica Economist segundo a qual o governo de Modi é uma ameaça à democracia da Índia.
A revista refere-se à Lei de Cidadania, que ameaça a cidadania de 200 milhões de muçulmanos e outras minorias. O governo de Modi estaria preparado para colocar os não cidadãos em campos, alertou a revista, e a ilustração da reportagem remete a campos de concentração.
Bolsonaro minimizou a publicação, dizendo que ele mesmo é mencionado como ameaça à democracia, embora não seja.
A bisneta de Gandhi, Supriya, deu uma entrevista de grande repercussão ao Brasil de Fato em que falou da identidade entre os projetos de extrema-direita de Jair Bolsonaro e do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Modi, “alma gêmea” de Bolsonaro, elegeu-se pregando o nacionalismo hindu e adotou uma Lei de Cidadania cujo objetivo, dizem os opositores, é negar cidadania à minoria muçulmana de 200 milhões de pessoas.
Trecho da entrevista:
Brasil de Fato: Mahatma Gandhi deixou como legado uma série de críticas e propostas sobre a sociedade indiana na primeira metade do século 20. Qual delas permanece relevante para a Índia hoje?
Supriya Gandhi: Eu acho que todas elas são [relevantes]. De certa maneira, Gandhi foi capaz de enxergar o futuro. Gandhi nos lembra as conexões entre democracia, busca da verdade, pluralismo e administração ambiental.
Hoje, líderes populistas e seus partidários prosperam em um mundo pós-verdade, reprimem a democracia e impulsionam a humanidade ao ecocídio.
A ideia de não-violência continua sendo levada adiante pelos trabalhadores da Índia ou é tratada como algo desatualizado, sete décadas após a independência?
A ideia de não-violência brilha através dos protestos pacíficos que estão surgindo em todo o país contra a emenda à Lei de Cidadania, que é discriminatória.
O tempo dirá se esses protestos continuarão e se expandirão, mas eles já estão criando solidariedades entre classe, casta e religião.
O Estado está reprimindo esses protestos com medidas repressivas.
Considerando as reflexões de Gandhi sobre o hinduísmo, não é uma contradição que grupos religiosos fundamentalistas sejam acusados de cometer esses atos de perseguição e repressão contra os muçulmanos hoje? É possível supor que, se ele estivesse vivo, Gandhi estaria condenando esses atos e a posição do BJP nesses conflitos?
Não é uma contradição, pois esses atos de violência são praticados por quem admira a ideologia do assassino de Gandhi. [Nota do Viomundo: O assassino de Gandhi pertencia a um grupo paramilitar ultranacionalista de direita, o Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), de tendências nazistas]
Essas práticas constantes de violência não são uma exceção. Elas fazem parte de uma estratégia multifacetada para mostrar às minorias seu lugar e garantir conflitos sociais perpétuos.
O legado de Gandhi está em jogo. No Brasil, por exemplo, o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro fará uma homenagem no memorial de Gandhi em sua visita a Nova Delhi. Bolsonaro atua como defensor da indústria de armas e faz um discurso violento contra minorias. Como você vê esse tipo de homenagem e como analisa a apropriação do legado de Gandhi por políticos considerados autoritários?
Bolsonaro tem muito em comum com a liderança que está no poder na Índia, além de seu completo desrespeito às normas democráticas e à urgência da crise ambiental. Não é de surpreender que ele se junte ao governo local na apropriação de Gandhi e na distorção das ideias e do legado de Gandhi.
O governo e os grupos aliados tentam purgar os fatos sobre o assassinato de Gandhi. Eles querem um Gandhi despido de seu poder e força radical.
Viomundo

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