O deputado federal Enio Verri (PT-PR), líder do PT na Câmara, lamenta a falta de empatia do governo e reafirma que com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não há soberania nacional.
“Até quando a sociedade vai tolerar se espantar, e apenas isso, com a quantidade de pessoas que morrem, diariamente, pela criminosa omissão do presidente?”, questiona o incrédulo líder petista.
Para Enio, a retomada do desenvolvimento no Brasil só será com a saída de Bolsonaro.
Leia a íntegra do artigo:
Com Bolsonaro não há soberania
Enio Verri*
Com Bolsonaro na Presidência, a única esperança que o Brasil teria de não ultrapassar a desumana cifra de um milhão de brasileiros mortos, seria a vacina que a China está testando. A trágica perda seria certamente evitável num país onde o presidente estivesse empenhado em combater a doença e não em disseminá-la. A curva não dá sinais de arrefecimento e, óbvio, o número de contaminados e mortos vai crescer, todos os dias. Até quando a sociedade vai tolerar se espantar, e apenas isso, com a quantidade de pessoas que morrem, diariamente, pela criminosa omissão do presidente? A paciência é porque a imensa maioria das vítimas é de pretos pobres, os invisíveis da sociedade, considerados, quando muito, para efeito de estatísticas.
Esta é a realidade capital imediatamente posta, da perda desprezível de dezenas de milhares de vidas, histórias, famílias, amores, para os quais Bolsonaro e Paulo Guedes não se cansam de dispensar as mais baixas considerações. Porém, a vileza dos dois não tem limites, bem como a disposição de servirem aos donos do capital. O governo está ensaiando a narrativa de um cenário dantesco para justificar o que a classe dominante tanto deseja, que é privatizar tudo o que for do interesse do mercado financeiro. Ou seja, além de adotar políticas que provocam a morte de pessoas, no presente, o presidente e o ministro da Economia arquitetam o aniquilamento da possibilidade de o Brasil usar suas reservas energéticas e empresas estratégicas para tirar o País das crises econômica, sanitária e social.
Junto com a imediata luta pela vida, a classe trabalhadora deve estar preparada para a defesa da soberania nacional. É ela quem vai permitir ao Brasil gerar empregos, estimular o consumo das famílias e voltar a disputar mercado internacional, uma vez que possui todas as ferramentas necessárias. Depois de postergar o pagamento, Bolsonaro quer acabar com o auxílio emergencial, de R$ 600. É uma medida cruel, que vai empurrar mais trabalhadores para as ruas, prolongando a pandemia e seus efeitos devastadores. O auxílio tem sido fundamental para os municípios compensarem a perda na arrecadação do ICMS, aquecendo o mercado. O presidente e Guedes sabem que o FMI recomendou a continuidade do pagamento, como forma de estimular a economia.
Porém, desde que esse governo tomou posse, suas medidas deixaram claro os objetivos de asfixiar a economia e subjugar cada vez mais a classe trabalhadora à agenda de reformas fiscalistas que a enfraquece e a expõe na luta entre o capital e o trabalho. Os brasileiros devem se atentar às vozes do mercado. Segundo analistas consultados pela imprensa comercial, investidores estrangeiros – leia-se bancos – estão muito tranquilos com a estabilidade política, ainda que o governo atente contra a democracia e conduza o País aos abismos sanitário e econômico. Bolsonaro usa a tática de chamar a atenção com agendas vazias e promocionais, ou com crises familiares resolvidas em espaços públicos. Não se trata de um improviso, mas de um método para esconder a temerária suas inoperância e irresponsabilidade. Enquanto Bolsonaro distrai a opinião pública, Guedes passa a boiada, diria um seu não menos desastroso colega de Executivo.
É fundamental reagir com rigor. As políticas fiscalistas atendem apenas à depreciação da vida e a do patrimônio nacional que, assim como o do resto do mundo, está em momento de desvalorização devido às conjunturas sanitárias e econômica. A economia está quase totalmente parada e a reação não virá da iniciativa privada. Pelo contrário, o único ente capaz de gerar empregos é o Estado, com seus recursos energéticos e suas ferramentas, que Bolsonaro e Guedes estão entregando para a iniciativa privada, que será financiada pelo Estado para fornecer um serviço ou um produto pior do que o já fornecido anteriormente pelo Estado. Dezenas de países, insuspeitos capitalistas, como Inglaterra e Alemanha, desde 2009, reestatizam ou remunicipalizam serviços de fornecimento de água, esgoto, transporte, coleta de lixo, entre outros. O Brasil está para adotar uma política que vem sendo rechaçada em todo o mundo.
Agora, é hora de investir na segurança e na garantia da vida da classe trabalhadora, sem medo. Após a pandemia, é ela quem pode fazer a roda da economia girar, ocupando a capacidade ociosa das indústrias e consumindo os seus produtos. Mas não serão os industriais quem promoverão a retomada da economia. Nenhuma máquina será ligada e nenhum trabalhador será contratado se não houver demanda. Quem pode criá-la é o Estado com, por exemplo, a retomada de obras paralisadas e crédito subsidiado às micro e pequenas empresa, que respondem por 72% dos empregos e 30% do PIB. A expectativa mundial, para este ano, é uma retração de 18,5% no fluxo do comércio. O Brasil tem pela frente a missão de sair de um crescimento do PIB de -9% para 1%. Porém, a construção dessa conjuntura só será possível sem Bolsonaro na Presidência. Caso contrário, será o receituário ultraliberal a inviabilizar a consolidação da autonomia do Brasil. Defender as empresas e as reservas energéticas é defender a soberania nacional.
*Enio Verri é economista e professor aposentado pelo Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal e líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados.


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