Os órgãos do governo federal responsáveis pelo abastecimento de energia do país sabiam que a subestação SE Macapá, atingida por um incêndio há dez dias, operava acima do limite há cerca de dois anos.
Conforme publicado pelo Valor Econômico, documentos do Ministério de Minas e Energia, do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) demonstram que a subestação não teria condições de religar imediatamente em caso de colapso.
O veículo teve acesso a um destes documentos, que mostra erros ainda no projeto de construção da SE Macapá. O relatório destacava que, além dos três transformadores trifásicos necessários para o funcionamento da subestação, era preciso um quarto transformador, que ficaria de reserva. Em caso de sobrecarga, o quarto transformador entraria em funcionamento.
No entanto, o edital do projeto, que foi contratado pela Aneel em 2008, exigiu apenas que a subestação contasse com três transformadores para "instalação imediata" e que somente houvesse "espaço" para abrigar quatro transformadores.
O apagão que assola o Amapá teve início quando um dos três transformadores da subestação pegou fogo e sobrecarregou o segundo. O terceiro, que era usado como reserva, já não estava funcionando.
Em decorrência do apagão, o Amapá iniciou um rodízio de fornecimento de energia, que tem a duração de seis horas. Diversos protestos eclodiram na capital Macapá, que teve as eleições adiadas.
Amapá é 'completamente atendido' por dois transformadores, diz ONS
O Valor Econômico ainda mostra que, em outro documento, de junho de 2018, o ONS chegou a reconhecer a necessidade da instalação de um quarto transformador na SE Macapá.
Além disso, em 2019, o Amapá perdeu uma fonte de geração de energia que suplementava o abastecimento do estado, quando a Aneel autorizou o desligamento da usina termelétrica UTE Santana, no município de Santana, a 17 quilômetros de Macapá.
Por fim, relatórios mais recentes do ONS, que visam ao acompanhamento de "ocorrências e perturbações" no sistema elétrico, mostram que o órgão sabia da indisponibilidade do terceiro transformador da subestação (o reserva).
Segundo o Valor Econômico, o ONS informou que a SE Macapá não operava no limite da capacidade, pois a “carga do Amapá é completamente atendida com dois” deles. A entidade ainda negou o risco de colapso com a falta do terceiro transformador e disse que "estava acompanhando a situação e reportando à Aneel" mensalmente.
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