Ao transformar seus interesses corporativos na única questão politicamente relevante os juízes brasileiros estão cometendo um suicídio em câmera lenta.

Por Fábio de Oliveira Ribeiro


Uma tempestade perfeita
por Fábio de Oliveira Ribeiro


Dilma Rousseff foi vítima de uma tempestade perfeita. O esgotamento do modelo agroexportador inclusivo produziu uma crise econômica que foi amplificada pelo lavajatismo militante da imprensa nacional e envenenada pelo desejo do PSDB de vingar as derrotas eleitorais sofridas desde 2002.

Michel Temer foi um governo tampão que providenciou um tampax neoliberal para a crise política. Ele se salvou sacrificando o mercado interno no altar do neoliberalismo. Mas o mercado internacional não cumpriu a promessa real ou imaginária de transformar o Brasil no destino preferencial do excesso de dólares gerado pela globalização financeira.

O ativismo judicial (não gosto muito desse eufemismo utilizado para disfarçar a vagabundagem política dos juízes) afastou Lula da disputa eleitoral para facilitar a eleição de Jair Bolsonaro. O mito chegou à presidência sem um plano de governo e cultivando uma dependência infantil em relação à Casa Branca. O resultado foi um desastre econômico diplomático.

Para agradar seu mestre, Bolsonaro hostilizou a China (maior comprador dos produtos exportados pelo Brasil) e não esboçou qualquer reação contra as medidas protecionistas lesivas à economia brasileira tomadas pelos EUA. O espetáculo da entrada de dólares prometido por Paulo Guedes não ocorreu. A única coisa que nós vimos foi um espetáculo de estupidez que obrigou os ricos a transferir suas fortunas para o exterior. A destruição do mercado interno fez várias multinacionais médias e grandes encerrar suas atividades no Brasil.

A depressão econômica provocada pelo bolsonarismo piorou muito em virtude da pandemia. E agora Bolsonaro será obrigado a enfrentar uma mega tempestade econômica e política que ele mesmo criou: as reservas internacionais brasileiras foram desperdiçadas e estão acabando; o dinheiro ficou empossado nos Bancos; a única escora internacional do mito foi removida (refiro-me obviamente à derrota eleitoral de Donald Trump); um dos filhos dele corre o risco de ser preso, outro está prestes a se tornar réu.

Tudo indica que os militares da ativa ficaram incomodados com a ameaça que o presidente brasileiro fez de usar “pólvora” contrav o governo Joe Biden. O Embaixador dos EUA aproveitou a oportunidade para humilhar Bolsonaro e o Brasil no Twitter.

O general Hamilton Mourão tentou remendar o estrago citando Carl bon Clausewitz. O vice de Bolsonaro deve ser perdoado. Ao que parece ele esqueceu que uma guerra nuclear EUA x Rússia/China/Brasil não seria a continuação da política por outros meios e sim a destruição do espaço em que ela é feita. Clausewitz será obsoleto assim que o Brasil tiver bombas atômicas.

O inexorável desmantelamento judiciário da familícia obrigará o capitão amalucado a jogar o jogo “tudo ou nada”. A obsessão ditatorial bolsonarista, entretanto, esbarra na impossibilidade militar de concluir a virada autoritária que ele deseja ou precisa realizar para salvar Flávio Bolsonaro da prisão.

Um “acordo com o Supremo, com tudo” será percebido como uma nova fraquejada do mito. A submissão de Bolsonaro aos juízes, entretanto, não impedirá que o Brasil continue afundando na depressão econômica.

Ao transformar seus interesses corporativos na única questão politicamente relevante os juízes brasileiros estão cometendo um suicídio em câmera lenta. É evidente que eles também não conseguirão se salvar condenando o Brasil a continuar prisioneiro de uma espiral de mediocridade administrativa/diplomática que impede o país de se libertar da crise econômica apostando no mercado interno.

O fundo do poço não é o limite. Quando os governantes de toga decidirem abrir o alçapão do FMI para garantir o pagamento de seus salários acima do teto e aposentadorias abaixo da moralidade as coisas irão piorar. Nosso país obrigado a adotar uma política econômica ainda mais dolorosa. A reação da população empobrecida e desamparada não deixará de ser catastrófica.


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