Foto: Isac Nóbrega/PR |
"Bolsonaro está pedindo. Agora”, diz uma das mensagens no celular do policial que teria oferecido vacinas ao governo e recebido pedido de propina de 1 dólar por dose; confira
Novas mensagens reveladas nesta segunda-feira (12) que estão no celular do policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que se apresentou à CPI do Genocídio como representante da Davati Medical Supply, sugerem que o presidente Jair Bolsonaro teria envolvimento direto na negociação com pedido de propina para a compra da vacina indiana Covaxin.
O celular de Dominghetti, que denunciou ter recebido pedido de propina de 1 dólar por dose das vacinas Astrazeneca que teria oferecido ao governo, foi apreendido pela CPI e seu sigilo foi quebrado.
A mensagem é de 8 de março e foi encaminhada por Dominghetti a um contato identificado como “Rafael Compra Deskartpak”. “Manda o SGS [certificado que garante que a vacina passou por todas as etapas exigidas por órgãos reguladores]. Urgente. O Bolsonaro está pedindo. Agora”, escreveu o policial, segundo apurado pelo site O Antagonista.
Reverendo
Segundo integrantes da CPI do Genocídio, o “Rafael Compra Deskartpak” seria, na verdade, o reverendo Amilton Gomes de Paula, que entrou na mira da comissão por ter sido apontado como o elo entre Dominghetti e o governo Bolsonaro.“O reverendo está em uma situação difícil neste momento. Ofereceu a vacina no ministério. Presidente chamou ele lá”, diz outra mensagem de Dominghetti, que prossegue: “O presidente tá apertando o reverendo. Ele ta ganhando tempo. Tem um pessoal da presidência lá para buscar o reverendo”, afirma o cabo da polícia.
Gabinete da presidência
Através de mensagem de áudio, Dominghetti ainda diz: “Entendi, Rafael, só que igual eles falaram. A gente prometeu que ia mandar essa SGS e depois ele assinariam a FCO [Full Corporate Offer – oferta oficial]. E já mandaram e-mail desde manhã. Se a gente já tivesse falado essa tratativa mais cedo, a gente já tinha alinhado com o presidente ou alguma coisa nesse sentido. Na cabeça do reverendo, a carga é dele, a declaração foi dele, os emails foram trocados com ele e ele está diretamente com o presidente da República, né?. A situação dele é uma situação difícil, porque já mandaram ele lá. Estão ligando direto do gabinete da presidência, né? O Herman deve ter a sensibilidade de fazer as coisas fluir com ele. Porque a gente deixar nessa situação aí de ‘ah, só mando se mandar uma coisa assinada’ é complicado.”
“Porque as tratativas foram diferentes, ontem foram diferentes, agora cedo diferente e agora que o presidente manda buscar ele lá, vai se mudar. A gente tem que achar uma maneira de se resolver isso nos próximos minutos aí, com o Herman ou por o Herman pra conversar com ele, porque essa SGS é o que vai fazer o presidente tomar essa decisão. Porque até agora a Davati não falou que tem carga nenhuma. E a situação do reverendo tá muito difícil nesse momento”, continuou.
Michelle Bolsonaro “no circuito”
Novas mensagens obtidas no celular do cabo Luiz Paulo Dominghetti, que estão em poder dos integrantes da CPI do Genocídio, mencionam o suporto envolvimento da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na negociação para compra superfaturada de vacinas contra a Covid-19.
Em conversa realizada no dia 3 de março, Dominghetti se dirige a um homem identificado como Rafael Compra Deskartpak. Eles falam sobre a operação de compra dos imunizantes para que o grupo chegasse até Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Como a própria CPI já descobriu, o reverendo Amilton de Paula atuou para aproximar os supostos vendedores de vacina do círculo presidencial. De Paula entrou na negociação por ser próximo da família do presidente.
Na conversa, Dominghetti se mostra assustado ao comentar a respeito dos avanços do reverendo. “Michele (sic) está no circuito agora. Junto ao reverendo. Misericórdia”, escreveu ele.
Surpreso, o interlocutor pergunta: “Quem é? Michele Bolsonaro?”. Dominghetti responde: “Esposa sim”.
O interlocutor, então, sugere que o cabo entre em contato com o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Carvalho, que era quem articulava a operação: “Pouts. (sic) Avisa o Cris”.
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